Narcos | A segunda temporada
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Narcos está de volta. E a polêmica em torno da série também.
Cuidado, este texto pode conter SPOILERS!
Ao contrário da primeira temporada, que resumiu eventos ocorridos ao longo de anos, retratando aos poucos a ascensão de Pablo Escobar como expoente do narcotráfico, esta segunda foca nos meses entre a fuga de Escobar da Catedral até sua derrota completa. Por conta disso, não é uma temporada tão dinâmica quanto sua antecessora, o que dificulta uma maratona - prática usual daqueles que assistem as séries da Netflix. Não há uma pressa em relatar os acontecimentos, que demoram para se desenrolar e deixam a história mais parada, mas nem por isso menos interessante.
A figura de Pablo Escobar também está mudada. Agora mais velho e temeroso, e tendo que enfrentar a iminência do fim de seu império, Escobar é retratado verdadeiramente como um homem cruel e assassino, deixando para trás a imagem dual de anjo e demônio que a primeira temporada produziu e que ele de fato possuía. Uma personagem como essa desperta em quem assiste um sentimento controverso, afinal acabamos por simpatizar com a figura, ao passo que tomamos ciência das atrocidades que cometeu não só na série, mas também na vida real.
Para construir uma personagem tão complexa é necessária uma atuação à altura. E José Padilha acertou ao insistir que Wagner Moura o fizesse. Ele alcançou a excelência. Não resta dúvidas de que estava à altura do papel e agora pouco importa seu espanhol, que por sinal melhorou bastante. Através do Escobar construído por Wagner a série se torna mais completa e cativante, sendo improvável que se pare de assistir, mesmo que já conheçamos o fim, afinal, está na História. Além do que, causa estranheza que o maior incômodo dos colombianos (e brasileiros também) se caracterize em um ator brasileiro interpretando Escobar, e não no fato de que a série só atingiu essa visibilidade toda por ser narrada por um norte-americano.
Outro ponto importante a salientar aqui é que Narcos é uma série sobre o narcotráfico na Colômbia e não uma série biográfica de Pablo Escobar. Falar dele era vital para a construção da história, mas agora que seu reinado chega ao fim novos reis assumem e a série continua. Além do mais, é impossível que se possa fazer qualquer filme, documentário, série, livro ou o que for sobre uma figura tão complexa como a de Escobar que conte tudo o que aconteceu nos mínimos detalhes e com respaldo na mais pura verdade. Não exija isso da série.
Quem de fato matou Escobar, quem estava presente ou se as coisas aconteceram exatamente como foram narradas são questões que nunca terão uma resposta livre de um posicionamento. Por exemplo, Juan Pablo Escobar, filho do dito cujo, hoje conhecido por Sebastián Marroquín, publicou em sua página no Facebook para todo aquele que quiser ver, juntamente com seu claro aborrecimento por não ter sido consultado antes da produção da primeira temporada, um texto intitulado "Narcos 2 e suas 28 quimeras", ou seja, ele aponta 28 erros na história da série. É possível que muitos pontos relacionados a questões familiares estejam incorretos, mas daí vir a afirmar que a sua versão (que você pode ler no livro que, oportunamente, ele está lançando agora) é a verdade absoluta também não funciona. Principalmente porque ele faz parte do ocorrido, Pablo Escobar era o seu pai e não há como falar de algo assim de maneira imparcial. Além do mais, afirmar algo que a CIA fez ou deixou de fazer é muita pretensão.
Por fim vamos pensar em qual seria o objetivo de fazer uma série como essa. Revelar as origens do narcotráfico e tirar as máscaras de seus financiadores. Mostrar parte da História e apontar que esse problema está longe de ser resolvido. Pablo Escobar foi um dos homens mais ricos do mundo, mas às custas de quantas vidas? Por isso, é preocupante saber que existem pessoas que admiram tal figura. Na época em que ele estava vivo, quando em meio ao caos, ajudou comunidades carentes, é compreensível, porém produzir tal enunciado hoje é no mínimo problemático. A história de Escobar chega ao fim deixando além de todos esses pensamentos mais um: o narcotráfico sobreviveu sem Escobar, conseguirá Narcos fazer o mesmo?