Crítica | Aquarius
https://siteloggado.blogspot.com/2016/09/critica-aquarius.html
Kleber Mendonça está de volta, com mais um filme que, com toda certeza, é polêmico tanto na trama quanto na realidade exposta pelos atores.
Antes de qualquer coisa, é importante deixar claro aqui que liberdade de expressão é um princípio de uma sociedade democrática. E quando se trata de Aquarius esta é uma questão que precisamos entender bem. Quando os atores do filme se manifestaram em Cannes contra a situação política do Brasil, eles usaram da visibilidade que tinham para chamar a atenção do mundo para um problema grave que enfrentamos. Quando, em resposta a esse protesto, vários brasileiros propõe um boicote ao filme, eles também estão exercitando um direito. Cabe a nós, entretanto, avaliar a legitimidade de ambas as ações e tirar nossas próprias conclusões.
Aquarius aborda de forma inicialmente particular questões pertinentes a todo o país. Mesmo que o foco do filme seja na cidade de Recife, fica claro para nós que o que ele retrata não acontece apenas lá. Sendo assim, boicotar essa produção é afirmar que não há uma questão grave a ser discutida, é negar que enfrentamos uma crise e é mais uma vez legitimar as ações daqueles retentores do poder que sempre trabalham unicamente em prol de si mesmos.
O filme gira em torno de Clara (Sonia Braga), proprietária de um apartamento no edifício Aquarius, na Avenida Boa Viagem, onde criou seus filhos e viveu praticamente toda a sua vida. Agora, viúva, com os filhos criados, Clara é a única moradora do prédio, cujo demais apartamentos já foram vendidos para uma construtora que tem como objetivo construir um condomínio de luxo no espaço. Clara é a única que se nega a vender seu apartamento e enfrenta constantes assédios e até ameaças para que mude de ideia.
Em relação à Clara pode-se dizer que ela é uma mulher batalhadora e bem resolvida, apesar de todos os desafios que enfrentou ao longo de sua vida. Os dois mais difíceis de superar com certeza foram a morte de seu marido e o câncer, que a fez perder um seio. O filme se desenrola de tal forma a focar na vida dessa mulher que precisa lidar com o fato de estar envelhecendo, de que tem filhos adultos, de que já é avó, mas que ao mesmo tempo ainda tem desejos latentes e precisa lidar e aceitar o próprio corpo.
A questão política do filme é representada por Diogo (Humberto Carrão), o engenheiro da poderosa construtora que não mede esforços para conseguir o que quer. Quantos Diogos não existem na nossa sociedade que não pensam duas vezes em usar de métodos escusos para alcançar seus objetivos que podem ser ganhar votos ou derrubar governos. O poder está na mão dos mais favorecidos e estes articulam esquemas que beneficiam seus interesses próprios.
A batalha de Clara com a construtora, praticamente uma pequena formiga se esquivando de um gigante que quer esmagá-la, nada mais é que uma representação do que acontece conosco, que lutamos a cada dia para sobreviver a golpes e a corrupção de um sistema político que já apodreceu faz tempo. Era evidente que o filme causaria incômodo, mas definitivamente é um mal necessário.
Antes de qualquer coisa, é importante deixar claro aqui que liberdade de expressão é um princípio de uma sociedade democrática. E quando se trata de Aquarius esta é uma questão que precisamos entender bem. Quando os atores do filme se manifestaram em Cannes contra a situação política do Brasil, eles usaram da visibilidade que tinham para chamar a atenção do mundo para um problema grave que enfrentamos. Quando, em resposta a esse protesto, vários brasileiros propõe um boicote ao filme, eles também estão exercitando um direito. Cabe a nós, entretanto, avaliar a legitimidade de ambas as ações e tirar nossas próprias conclusões.
Aquarius aborda de forma inicialmente particular questões pertinentes a todo o país. Mesmo que o foco do filme seja na cidade de Recife, fica claro para nós que o que ele retrata não acontece apenas lá. Sendo assim, boicotar essa produção é afirmar que não há uma questão grave a ser discutida, é negar que enfrentamos uma crise e é mais uma vez legitimar as ações daqueles retentores do poder que sempre trabalham unicamente em prol de si mesmos.
O filme gira em torno de Clara (Sonia Braga), proprietária de um apartamento no edifício Aquarius, na Avenida Boa Viagem, onde criou seus filhos e viveu praticamente toda a sua vida. Agora, viúva, com os filhos criados, Clara é a única moradora do prédio, cujo demais apartamentos já foram vendidos para uma construtora que tem como objetivo construir um condomínio de luxo no espaço. Clara é a única que se nega a vender seu apartamento e enfrenta constantes assédios e até ameaças para que mude de ideia.
Em relação à Clara pode-se dizer que ela é uma mulher batalhadora e bem resolvida, apesar de todos os desafios que enfrentou ao longo de sua vida. Os dois mais difíceis de superar com certeza foram a morte de seu marido e o câncer, que a fez perder um seio. O filme se desenrola de tal forma a focar na vida dessa mulher que precisa lidar com o fato de estar envelhecendo, de que tem filhos adultos, de que já é avó, mas que ao mesmo tempo ainda tem desejos latentes e precisa lidar e aceitar o próprio corpo.
A questão política do filme é representada por Diogo (Humberto Carrão), o engenheiro da poderosa construtora que não mede esforços para conseguir o que quer. Quantos Diogos não existem na nossa sociedade que não pensam duas vezes em usar de métodos escusos para alcançar seus objetivos que podem ser ganhar votos ou derrubar governos. O poder está na mão dos mais favorecidos e estes articulam esquemas que beneficiam seus interesses próprios.
A batalha de Clara com a construtora, praticamente uma pequena formiga se esquivando de um gigante que quer esmagá-la, nada mais é que uma representação do que acontece conosco, que lutamos a cada dia para sobreviver a golpes e a corrupção de um sistema político que já apodreceu faz tempo. Era evidente que o filme causaria incômodo, mas definitivamente é um mal necessário.