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Crítica | Esquadrão Suicida


Há oito anos a Marvel lançou o filme Homem de Ferro, que ajudou a recuperar a carreira de Robert Downey Jr. e estabeleceu o padrão de qualidade dos filmes do estúdio, que vem repetindo e superando o sucesso da produção que apresentou Tony Stark ao mundo. Por outro lado, a Warner/DC segue tentando recuperar o tempo perdido e competir de igual para igual com a Marvel há pelo menos três anos, com o lançamento de O Homem de Aço e Batman vs Superman: A Origem da Justiça, alcançando resultados abaixo do desejado. O que nos leva a Esquadrão Suicida, a aposta mais arriscada da Warner/DC até então.

O governo dos EUA está preocupado não só com a salvaguarda da soberania do país, mas com a segurança e a paz mundial agora que não podem mais contar com o Superman. Dessa forma, a oficial de inteligência Amanda Waller (Viola Davis) propõe a criação de uma força-tarefa, a ser liderada pelo coronel Rick Flag (Joel Kinnaman), para garantir a defesa norte-americana e mundial de ameaças sobre-humanas, composta pelas figuras mais improváveis e menos confiáveis possíveis: o Pistoleiro (Will Smith), o letal assassino que nunca erra; Arlequina (Margot Robbie), uma outrora psiquiatra que hoje se encontra literalmente enlouquecida devido a um relacionamento com o Coringa (Jared Leto); Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), os músculos da equipe; El Diablo (Jay Hernandez), um homem com habilidades pirotécnicas; Capitão Bumerangue (Jai Courtney), o australiano surtado; Katana (Karen Fukuhara); Amarra (Adam Beach); e Magia (Cara Delevingne).

Esquadrão Suicida começa promissor. Mas, à medida que se “desenvolve”, o filme revela suas falhas gritantes. A começar pelo roteiro, que se mostra muito apaixonado pela própria premissa e acaba sendo sabotado pela mesma. No início, a ideia de reunir um time composto por criminosos faz sentido, pois se algo de errado acontecer, o governo não assume a responsabilidade e culpa os malfeitores. Contudo, Magia acaba se revelando a maior ameaça do filme, pois é possuída pelo espírito de uma feiticeira, e não fica claro para a audiência como que, em uma das possessões, o espírito dentro dela ganhou força do nada. Se Magia é tão instável, por que razão Amanda Waller a chamaria para integrar o esquadrão? Mais adiante, nos perguntamos: por que motivo essas pessoas, incorrigíveis como são, foram reunidas? Não estariam elas destinadas a destruírem tudo e destruírem a si mesmas?

Ainda assim, é preciso reconhecer que o roteiro, ao menos, cumpre a função de estabelecer seus personagens tal como eles são: traiçoeiros, mal-intencionados, indóceis. Por mais que os protagonistas se entreguem a ocasionais atos altruístas (bem pouquíssimos, diga-se de passagem), logo eles nos mostram que estão longe de alcançarem qualquer redenção. Ainda que demonstre afeto por sua filha, o Pistoleiro nunca vai deixar de ser um assassino letal. Outra coisa que o roteiro deixa a desejar é no desenvolvimento de seus personagens. Diferente de Capitão América: GuerraCivil, alguns personagens têm mais destaque do que outros em Esquadrão Suicida. Obviamente, o filme acaba dando mais espaço para Will Smith, Margot Robbie, Jared Leto, Viola Davis e Joel Kinnaman, deixando de lado todo o restante, quando não descarta logo de uma vez um e outro personagem. Quanto ao desenvolvimento, ainda é necessário falar sobre a Arlequina, defendida com galhardia por Margot Robbie. Falar em empoderamento feminino no que diz respeito à essa personagem é recorrer em um equívoco. Arlequina é uma figura trágica, cuja saúde mental foi destruída por um relacionamento extremamente abusivo, restando apenas a paixão obsessiva pela figura do Coringa. É lamentável ver a falta de ambição dos realizadores em explorar a condição psicológica da personagem apenas como alívio cômico, apesar do bom trabalho de Robbie.

Conhecido por ter roteirizado Dia de Treinamento e o primeiro Velozes e Furiosos, além de ter dirigido Corações de Ferro, o cineasta David Ayer mostra que está seguindo a cartilha Zack Snyder de como dirigir filmes baseados em personagens da DC, utilizando massivamente uma fotografia sombria e adotando o slow motion como recurso para a criação de momentos que aspiram a grandiosidade, mas que acaba resultando em sequências bregas. Além disso, as cenas de ação são dirigidas de forma relaxada e nada inventiva, não apresentando nada de novo para o gênero e sem criar nenhum tipo de emoção no espectador.

No tocante às atuações, os destaques ficam para as mulheres de Esquadrão Suicida. Além de Margot Robbie, Viola Davis faz um trabalho incrível criando uma personagem durona e imprevisível. Somente uma atriz com a força de Davis nos faz acreditar que Amanda Waller é uma figura perigosa, intimidadora e implacável. Jared Leto tenta compor uma versão própria do Coringa, mas seus esforços são insuficientes para sair da sombra de Heath Ledger, chegando a remeter a caracterização do falecido ator diversas vezes. E por mais que Will Smith se esforce para interpretar o Pistoleiro de maneira séria, o “Maluco no Pedaço” que vive dentro dele insiste em se manifestar (reparem na forma como ele fala “Lady! You are evil!” na cena em que confronta a vilã).

Falhando em cumprir as promessas feitas em seus vários trailers, Esquadrão Suicida termina por se afirmar como a maior propaganda enganosa do ano. O filme tem seus momentos de diversão, no entanto esses momentos não são suficientes para salvar o produto todo do desastre total. Se a Warner/DC espera alcançar e superar o sucesso da Marvel, eles terão que comer muito arroz e feijão para realizar tal feito.

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