Crítica | Jason Bourne
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Se existe alguém que sabe fazer um
thriller de ação contemporâneo que é não só relevante, mas também cheio de
energia e vigor, esse alguém é Paul Greengrass. Responsável por filmes
excepcionais como Domingo Sangrento, Voo United 93, Zona Verde e Capitão
Phillips, o cineasta é mais conhecido por dar novo fôlego à série de ação e espionagem
estrelada por Matt Damon com os excelentes A Supremacia Bourne e O Ultimato
Bourne, filmes que podem ser facilmente equiparados a clássicos como Operação
França, Bullitt e Três Dias do Condor. Nove anos depois, Greengrass e Damon
voltam com Jason Bourne.
Após escapar das instalações da
CIA com vida, o personagem-título (Matt Damon) vive escondido no Leste Europeu.
Sua existência clandestina é abalada quando Nicky Parsons (Julia Stiles) o
procura com documentos hackeados do sistema de sua antiga agência, que contém
não só dados de todas as operações passadas e atuais, mas também informações
adicionais sobre o passado de Bourne. Enquanto isso, do outro lado do mundo, a
analista Heather Lee (Alicia Vikander) rastreia a invasão do sistema e leva o
ocorrido a conhecimento de seu superior imediato, o diretor Robert Dewey (Tommy
Lee Jones). Temendo que as informações roubadas sejam expostas a público, Dewey
encarrega um letal assassino a serviço da CIA (Vincent Cassel) de eliminar
Bourne, ao mesmo tempo em que precisa lidar com as exigências de um empresário
da informática chamado Aaron Kalloor (Riz Ahmed), cujo aplicativo desenvolvido
para telefones celulares interessa muito a Dewey com o intento de vigiar
pessoas pelo mundo inteiro.
O roteiro escrito por Greengrass
ao lado de seu montador Christopher Rouse se preocupa em ambientar sua história
em um mundo atual e palpável através de recursos narrativos que vão de linhas
de diálogo (“pior do que Snowden”, dito por certo agente que informa sobre a
invasão do sistema da CIA) até certas caracterizações de personagens, como o
milionário jovem e moderninho à la Mark Zuckerberg interpretado por Riz Ahmed. As
situações são amarradas de maneira eficaz e os personagens têm suas motivações
bem expostas, porém o esforço que os realizadores fizeram em contar uma nova
história é evidente e não forma unidade com os três filmes anteriores.
Greengrass sabe muito bem como
criar tensão e também sabe como dirigir sequências de ação. Não é com surpresa
que constatamos que as cenas de ação do filme foram competentemente
orquestradas, com destaque para a sequência ambientada em meio à uma grande
manifestação em Atenas. Somente um diretor como Greengrass tem a habilidade de
conceber um momento eletrizante e, ao mesmo tempo, verossímil. Obviamente, é
importante destacar o trabalho do diretor de fotografia Barry Ackroyd com sua
câmera inquieta, porém precisa, captando com precisão cada movimento em cena; e
do montador Christopher Rouse, que realiza milagres com o caótico material bruto.
Em relação às sequências de ação, o único ponto negativo é a de
perseguição automobilística em Las Vegas que, apesar de bem dirigida, não traz
a inventividade e a genialidade da perseguição vista em A Supremacia Bourne (em
minha opinião, a melhor sequência de perseguição de toda a franquia).
Retornando a seu personagem nove
anos depois de O Ultimato Bourne, Matt Damon torna a experiência de assistir ao
novo filme algo interessante principalmente por conta de seu rosto marcado com
o passar dos anos. Apesar de estar visivelmente mais velho, Damon exibe em ação
a mesma intensidade que já presenciamos nos filmes anteriores da franquia. O
mesmo pode ser dito de Julia Stiles, cuja dinâmica com o protagonista continua natural
e autêntica, como se jamais tivesse saído de sua personagem. Tommy Lee Jones é
muito talentoso a ponto de não precisar se esforçar para interpretar um
personagem cínico e cheio de segredos como o diretor Dewey, e sua determinação
para eliminar Bourne lembra muito a do policial Sam Gerard, o personagem de O
Fugitivo que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Vincent Cassel se
sai muito bem no papel de um perigoso e letal assassino cujo passado conecta-se
intimamente com o de Bourne. No entanto, a melhor personagem do filme é
interpretada por Alicia Vikander, cujo semblante ajuda a construir a aura
enigmática de sua personagem, que tem intenções bastante ocultas e planos
ambiciosos para si mesma.
Eficiente, porém desinteressante,
Jason Bourne funciona como um bom exemplar de cinema de ação. Não obstante, é
um filme que não tem razão de existir e muito menos acrescenta algo a mais para
o desenvolvimento da franquia. Teria sido melhor se Paul Greengrass e Matt
Damon tivessem seguido em frente com os respectivos sucessos alcançados em
Capitão Phillips e Perdido em Marte. Ainda espero que eles façam isso.