[Crítica] A Bruxa
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Se existe um brasileiro em quem
devemos prestar atenção pelo que ele tem feito no cinema e na televisão, este
alguém é o produtor Rodrigo Teixeira. Além de ter produzido excelentes
exemplares do cinema nacional como O Cheiro do Ralo, O Abismo Prateado, Heleno e Alemão, o produtor brasileiro está ganhando notoriedade pelas produções que
tem realizado fora do país, mais notadamente Frances Ha e Mistress America,
ambos de Noah Baumbach. Enriquecendo o currículo internacional de Teixeira, chega
aos cinemas A Bruxa, um filme de terror original e intrigante.
Na Nova Inglaterra do século
XVII, uma família é exilada da comunidade religiosa onde vive e vai morar em
uma área de floresta densa, isolada de qualquer rastro de civilização. A
família é composta pelo pai, William (Ralph Ineson); pela mãe, Katherine (Kate
Dickie); pela filha, Thomasin (Anya Taylor-Joy); pelo filho, Caleb (Harvey
Scrimshaw) e pelo recém-nascido, Samuel. Certo dia, Samuel é raptado por uma
misteriosa figura de capuz vermelho enquanto brincava com Thomasin. Mais
adiante, sabemos que se trata de uma bruxa que mata o bebê para usar seu sangue
e sua gordura para fabricar uma misteriosa substância que aplica em seu corpo.
Com isso, a família confronta uma série de questões que envolvem sua própria fé
ao mesmo tempo que tentam compreender o perigo que ronda o lugar onde vivem.
Em seu primeiro longa-metragem, o
cineasta Robert Eggers evidencia que não está interessado em provocar sustos o tempo
todo em sua plateia. Ao contrário, o diretor preocupa-se em criar uma atmosfera
perturbadora fincada à realidade. Com roteiro escrito pelo próprio Eggers, A
Bruxa, como bem informa seus créditos finais, foi baseado em documentos da
época de forma a dar um tom realista ao filme. Sendo assim, uma das grandes
virtudes da direção de Eggers está em recriar uma época quase feudal marcada
por fanatismo religioso tão grande que os próprios personagens buscam
explicações sobrenaturais em todas as coisas que lhes acontecem, desde a praga
nas plantações até a uma suposta manifestação do demônio em uma cabra (a quem
chamam de Black Phillip). A fotografia de Jarin Blaschke auxilia Eggers a
construir a ambientação macabra de seu filme. No entanto, a montagem de Louise
Ford confere à produção um ritmo contemplativo, que por vezes mostra-se uma
escolha equivocada aqui, ainda mais para um filme de terror.
Contando com excelentes atuações
de todo o elenco, em especial dos atores mirins, A Bruxa é um filme
surpreendente e pessimista cada vez que se aproxima mais de seu fim. Para o
filme, uma vez nascido no pecado, lutar contra a própria condição humana é
inútil. Não existe outra escapatória a não ser abraçar o lado sombrio que existe
dentro de cada um de nós, pois é o mais próximo que se pode ter de uma
redenção.