[Crítica] Macbeth: Ambição e Guerra
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William Shakespeare é autor de um
dos conjuntos de obra mais influentes e adaptados pelo cinema de todos os
tempos. Inúmeros diretores já se aventuraram em uma adaptação ou releitura de seus
textos. Cineastas como Orson Welles, Akira Kurosawa, Roman Polanski e,
recentemente, o brasileiro Vinícius Coimbra são alguns dos que adaptaram a peça
Macbeth para a tela grande (Kurosawa com o épico Trono Manchado de Sangue, em
1957; e Coimbra com o thriller A Floresta Que Se Move, em 2015). Mais uma vez,
o texto é adaptado e chega aos cinemas Macbeth: Ambição e Guerra, com
resultados surpreendentes.
É tempo de guerra civil na Escócia
da Idade Média. Macbeth (Michael Fassbender), que apoia o Rei Duncan (David
Thewlis) no conflito, lidera as tropas reais em uma decisiva batalha. Após sair
vitorioso do embate, Macbeth e seu companheiro de armas Banquo (Paddy Considine)
são abordados por três bruxas e uma garota, que saúdam Macbeth como futuro rei
da Escócia e Banquo como pai dos futuros reis. Macbeth envia uma mensagem para a
sua esposa (Marion Cotillard) contando a respeito da profecia e os dois
conspiram assassinar Duncan para assumirem o trono da Escócia. Uma vez coroado,
Macbeth passa a ser tomado pela paranoia e pela loucura, desconfiando daqueles
que estão ao seu redor e buscando eliminar todos os que representem uma
possível ameaça a seu reinado.
Em seu segundo filme como
diretor, o australiano Justin Kurzel arrisca-se em território perigoso ao
realizar uma adaptação literal de um texto de Shakespeare, porém é muito bem
sucedido. Com o apoio do roteiro escrito a seis mãos por Jacob Koskoff, Michael
Lesslie, e Todd Louiso, Kurzel realiza um filme que se mantém fiel à trama,
fazendo com que os diálogos shakespearianos funcionem de forma orgânica junto à
linguagem cinematográfica, jamais soando teatral ou performático demais. Outro
acerto do cineasta é conferir ao longa uma estética visual rústica e suja,
auxiliado pela fotografia sombria de Adam Arkapaw, pelos figurinos elegantes e
minimalistas de Jacqueline Durran, pelo design de produção de Fiona Crombie e
pela direção de arte de Nick Kent.
Para conferir o peso exigido por
uma obra de Shakespeare, é preciso escalar um time de atores acima da média.
Michael Fassbender é bem sucedido tanto nas cenas de batalha quanto nas
sequências em que é preciso representar os delírios vivenciados por Macbeth
devido ao peso que carrega em sua consciência pelos assassinatos em nome da
manutenção de seu reinado. Marion Cotillard demonstra a competência de sempre
conferindo uma aura de integridade à sua Lady Macbeth, mascarando a persona
manipuladora e inescrupulosa da esposa do protagonista-título. Oferecendo
ótimas atuações de apoio, os atores Paddy Considine, Sean Harris e David
Thewlis aproveitam o pouco tempo de tela para fazer de Banquo, Macduff e
Duncan, respectivamente, personagens memoráveis.
Contemplativo e denso, Macbeth:
Ambição e Guerra é uma ótima e visualmente ambiciosa adaptação do clássico
shakespeariano. Justin Kurzel cria com este filme um cartão de visita que os
estúdios norte-americanos não poderão deixar de reparar (o que está se revelando
uma verdade, já que o diretor está contratado para a adaptação de Assassin’s Creed).
Se por acaso você está procurando manter distância dos blockbusters, esta é uma
ótima opção.