[Crítica] Aliança do Crime
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Para quem não sabe, o personagem
Frank Costello, interpretado por Jack Nicholson no filme Os Infiltrados foi
inspirado em uma figura que realmente existiu. A base para a criação de
Costello foi um chefão do crime no sul de Boston chamado James Joseph Bulger,
também conhecido como Whitey Bulger. Aliança do Crime é uma crônica da vida de
Bulger e um relato de como ele se tornou um dos mais perigosos criminosos da
história dos EUA e o homem mais procurado pelas autoridades depois de Osama bin
Laden.
Diretor de carreira jovem, tendo
apenas dirigido o bom Coração Louco (que deu o Oscar a Jeff Bridges) e o
regular Tudo Por Justiça, Scott Cooper claramente se inspirou em Martin
Scorsese para dirigir Aliança do Crime. A atmosfera à la Os Bons Companheiros é
evidente ao longo de toda a projeção. A narrativa do criminoso que vive em uma
comunidade e é prestativo com as senhoras de idade do local, falando de suas
atividades como se fossem puramente rotineiras ecoa e muito o clássico de 1990
dirigido por Scorsese. Auxiliado pelo diretor de fotografia Masanobu
Takayanagi, Cooper trabalha com uma fotografia que valoriza as sombras e as
cores frias, proporcionando um tom sombrio à saga de Whitey Bulger. Apesar de
alguns acertos, a direção de Cooper peca ao conferir ritmo à narrativa, se
perdendo muitas vezes e não sabendo se quer ser ágil ou mais lenta.
O roteiro de Mark Mallouk e Jez
Butterworth acerta no sentido de não contarem toda a história da vida do
protagonista. Eles poderiam muito bem ter narrado os eventos que levaram Whitey
a ser preso em Alcatraz (algo que é citado no filme), mas que poderia resultar
em um filme sem foco. Aqui, eles se concentram em como a aliança entre Whitey
Bulger e John Connolly fez com que o criminoso se tornasse um figurão
intocável, o que é uma história interessantíssima de se acompanhar. Como
evidenciado pelos créditos finais (que mostram fotografias, filmagens,
documentos, etc), os roteiristas se interessaram em contar a história dessa
aliança com o máximo de fidelidade possível a sua essência. Entretanto, o
roteiro falha ao não desenvolver a personalidade de Whitey, tornando-o unidimensional
e pouco atrativo. É curioso constatar que até mesmo John Connolly é mais bem
desenvolvido do que o próprio personagem principal do filme.
Apesar da falta de ambição do
roteiro, que retrata Whitey como sendo um criminoso psicopata e nada mais do
que isso, Johnny Depp faz milagres com um personagem mal desenvolvido. Embora
eu tenha alguns problemas com a maquiagem usada para deixá-lo parecido com
Whitey Bulger, isto não impede que Depp crie um personagem que inspira tensão e
desperta ameaça só com um simples olhar. Adotando um tom de voz e uma cadência
na fala que lembram bastante Jack Nicholson, o ator merece aplausos justamente
por evitar criar mais uma das caricaturas que desgastaram sua imagem nos últimos
anos. Por outro lado, Joel Edgerton, além de ser um ótimo ator, é beneficiado
por ter um personagem bem construído. Adotando o sotaque característico do sul
de Boston, o australiano jamais se deixa ofuscar por Depp e interpreta um homem
que, ainda que seja um agente do FBI, jamais renegou suas origens e protege
Whitey custe o que custar, mesmo que isto signifique enfrentar seus
superiores e as demais autoridades da lei.
Com um roteiro razoável e uma
direção esforçada, porém arrastada, Aliança do Crime, ainda assim, é um filme
que vale a pena ser visto devido à intrigante trajetória de seu protagonista e a força de
seus atores. Agora o jeito é torcer para que Johnny Depp nos presenteie com
mais interpretações fortes como essa, deixando as caricaturas um pouco de lado.