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[Crítica] Aliança do Crime


Para quem não sabe, o personagem Frank Costello, interpretado por Jack Nicholson no filme Os Infiltrados foi inspirado em uma figura que realmente existiu. A base para a criação de Costello foi um chefão do crime no sul de Boston chamado James Joseph Bulger, também conhecido como Whitey Bulger. Aliança do Crime é uma crônica da vida de Bulger e um relato de como ele se tornou um dos mais perigosos criminosos da história dos EUA e o homem mais procurado pelas autoridades depois de Osama bin Laden.

O filme começa em 1975, ano em que Whitey Bulger (Johnny Depp), cabeça da gangue de Winter Hill, começou a expansão agressiva de seus negócios pela cidade de Boston. A maior ameaça de Whitey é representada pela família Angiulo, que possui laços com a máfia da Nova Inglaterra. É aí que entra em cena John Connolly (Joel Edgerton), agente do FBI que cresceu no sul de Boston e que possui fortes laços com Jimmy (como Whitey é conhecido pelos mais íntimos) e com seu irmão, William Bulger (Benedict Cumberbatch), um influente senador do estado de Massachusetts. Transferido para Boston com o encargo de encerrar as atividades criminosas da máfia local, Connolly tenta formar uma aliança com Whitey, que consistiria na obtenção de informações sobre as atividades dos Angiulo. Acontece que Whitey detesta informantes, quanto mais a ideia de se tornar um. No entanto, vendo que a proteção do FBI pode ser boa para os negócios, o criminoso relutantemente aceita ser um informante para Connolly. Com isso, à medida que as figuras chaves do submundo de Boston iam caindo, Whitey crescia despercebido na hierarquia do crime sob proteção do FBI, sendo assim impossível abrir qualquer processo criminal contra ele.

Diretor de carreira jovem, tendo apenas dirigido o bom Coração Louco (que deu o Oscar a Jeff Bridges) e o regular Tudo Por Justiça, Scott Cooper claramente se inspirou em Martin Scorsese para dirigir Aliança do Crime. A atmosfera à la Os Bons Companheiros é evidente ao longo de toda a projeção. A narrativa do criminoso que vive em uma comunidade e é prestativo com as senhoras de idade do local, falando de suas atividades como se fossem puramente rotineiras ecoa e muito o clássico de 1990 dirigido por Scorsese. Auxiliado pelo diretor de fotografia Masanobu Takayanagi, Cooper trabalha com uma fotografia que valoriza as sombras e as cores frias, proporcionando um tom sombrio à saga de Whitey Bulger. Apesar de alguns acertos, a direção de Cooper peca ao conferir ritmo à narrativa, se perdendo muitas vezes e não sabendo se quer ser ágil ou mais lenta.

O roteiro de Mark Mallouk e Jez Butterworth acerta no sentido de não contarem toda a história da vida do protagonista. Eles poderiam muito bem ter narrado os eventos que levaram Whitey a ser preso em Alcatraz (algo que é citado no filme), mas que poderia resultar em um filme sem foco. Aqui, eles se concentram em como a aliança entre Whitey Bulger e John Connolly fez com que o criminoso se tornasse um figurão intocável, o que é uma história interessantíssima de se acompanhar. Como evidenciado pelos créditos finais (que mostram fotografias, filmagens, documentos, etc), os roteiristas se interessaram em contar a história dessa aliança com o máximo de fidelidade possível a sua essência. Entretanto, o roteiro falha ao não desenvolver a personalidade de Whitey, tornando-o unidimensional e pouco atrativo. É curioso constatar que até mesmo John Connolly é mais bem desenvolvido do que o próprio personagem principal do filme.

Apesar da falta de ambição do roteiro, que retrata Whitey como sendo um criminoso psicopata e nada mais do que isso, Johnny Depp faz milagres com um personagem mal desenvolvido. Embora eu tenha alguns problemas com a maquiagem usada para deixá-lo parecido com Whitey Bulger, isto não impede que Depp crie um personagem que inspira tensão e desperta ameaça só com um simples olhar. Adotando um tom de voz e uma cadência na fala que lembram bastante Jack Nicholson, o ator merece aplausos justamente por evitar criar mais uma das caricaturas que desgastaram sua imagem nos últimos anos. Por outro lado, Joel Edgerton, além de ser um ótimo ator, é beneficiado por ter um personagem bem construído. Adotando o sotaque característico do sul de Boston, o australiano jamais se deixa ofuscar por Depp e interpreta um homem que, ainda que seja um agente do FBI, jamais renegou suas origens e protege Whitey custe o que custar, mesmo que isto signifique enfrentar seus superiores e as demais autoridades da lei.

Com um roteiro razoável e uma direção esforçada, porém arrastada, Aliança do Crime, ainda assim, é um filme que vale a pena ser visto devido à intrigante trajetória de seu protagonista e a força de seus atores. Agora o jeito é torcer para que Johnny Depp nos presenteie com mais interpretações fortes como essa, deixando as caricaturas um pouco de lado.

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