[Review] Fargo 2x01 - Waiting for Dutch
Welcome to the '70s!
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Welcome to the '70s!
Se foi um tanto quanto agridoce dar adeus a Molly Solverson, Lorne Malvo, Lester Nygaard e Gus Grimly lá no fim do primeiro ano de Fargo, encarar a segunda entrada do showrunner Noah Hawley no universo iniciado pelos irmãos Coen já resgata toda a pompa e veneração que o espetacular pontapé inicial da série conseguiu ganhar em 2014. Um "novo" Solverson, um novo crime e mais sangue nas paisagens congeladas do Minnesota, é a equação perfeita para mais um show de referências, parábolas e muito humor negro travestido da velha (e surpreendentemente esquecida) batalha entre o bem e o mal. Nada de anti-heróis atormentados, vilões duais ou mesmo mocinhos que devem tomar decisões difíceis. Em Fargo, nós sempre teremos a chance de ver "boas pessoas tentando resolver problemas cabulosos". Palavras do próprio Hawley.
Quando Leo the Lion apareceu rugindo ao som da clássica trilha orquestrada de Carter Burwell, um sorriso já começou a se abrir no meu rosto. As gravações fictícias do épico americano Massacre at Sioux Falls estrelado por Ronald Reagan e Betty LaPlage, funciona como uma piada teaser sobre a própria trama da nova antologia. Os violentos assassinatos que o velho Lou Solverson (Keith Carradine) da primeira temporada teve que desvendar na década de 70 deixa de ser uma antiga história de lanchonete para ganhar vida com protagonistas e coadjuvantes, dos mais normais aos completamente maníacos e por que não desastrados. Sim, meus caros, a presença de Reagan e a escolha temporal não são meras coincidências. O pós-Vietnam e o caso Watergate deixou a América em parafuso naquela época.
É aí que entra Rye Gerhardt (Kieran Culkin), o caçula de uma família de mafiosos que comandam com mão de ferro os negócios em Sioux Falls. Os Gerhardt só ganham leves pinceladas nessa premiere, mas já deu pra perceber que os outros dois irmãos, Bear (Angus Sampson) e Dodd (Jeffrey Donovan), bem como a matriarca Floyd (Jean Smart), vão compor um quadro épico num jogo de gato e rato com um sindicato do crime - seria o mesmo sindicato do qual Malvo fazia parte? - que pretende tomar o poder no local. No entanto, é Rye o protagonista da primeira metade do episódio. O bandido iniciante destrói o restaurante de beira de estrada Waffle Hut (no melhor estilo Fargo de ser) ao tentar subornar uma juíza, que anda empacando sua nova empreitada econômica: um comércio "promissor" que contrabandeia máquinas de datilografar eletrônicas.
Não menos inspirado é o primeiro twist de Waiting for Dutch. Quando Rye acha que vai conseguir se safar da chacina no local, ele se distrai com um OVNI (??) e é atropelado pela cabelereira Peggy Blomquist (Kirsten Dunst). Boom, Fargo está mesmo de volta, minha gente. Hawley e a dupla de diretores Michael Uppendahl e Randall Einhorn brincam mais uma vez com o que a gente acha definitivo ao podar o aparente protagonismo de Rye, dando lugar ao casal Blomquist. Peggy e Ed (Jesse ‘Matt Damon’ Plemons) são o Lester Nygaard da temporada e a substituição não poderia ser melhor. Sai o "what the heck" e entra o "come on hon", tão divertidamente sombrio quanto o outro bordão. Já nessa primeira hora também dá para perceber que a química entre Dunst e Plemons vai render muitos momentos hilários e, claro, politicamente incorretos.
Já que estamos falando de química, nossa família de heróis não fica muito longe ao se destacar neste quesito. O jovem Lou (Patrick Wilson) carrega traços do velho, porém é incrível como conseguimos enxergar tiques que serão herdados pela própria Molly no futuro - o jeito de segurar a lanterna e de anotar as informações no caderninho, por exemplo. Enquanto Betsy Solverson (a queridona Cristin Milioti) parece ter deixado para filha o faro de detetive e a seriedade quase comovente. Mesmo não tendo muito material na estreia, não vou me surpreender se acharmos mais detalhes como estes no avô da saudosa policial, o xerife Hank Larsson, vivido com um sotaque divertidíssimo pelo veterano Ted Danson.
Claro que sem as famosas escolhas estilísticas, Fargo não seria Fargo. E se os anos 70 era uma das dicas para a nova forma e estilo, os usos de split screens, das cores fortes e das lentes da época chegam como um presente espetacular para quem ama detalhes. Nenhum objeto de cena toma conta dos quadros sem razão para o ser, e a direção de arte - o FX com o melhor departamento - enche os olhos em absolutamente todas as tomadas.
"A pedido dos sobreviventes, os nomes foram alterados. Em respeito aos mortos, o resto foi contado exatamente como aconteceu". E alguém vai duvidar? Que falta você fez, Fargo!
P.S.1: Nick Offerman bem diferente sem o bigode do Ron Swanson e na pele do mais comum dos americanos daquela época: os que amavam conspirações dentro de conspirações.
P.S.2: Que trilha sonora é essa?! Ah os anos 70!!