[Review] Game of Thrones 5x03 - High Sparrow
Pela fé e pela honra.
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Pela fé e pela honra.
Se a cada semana que se passar Game of Thrones crescer em níveis de subtexto, alegorias e convergência dramática, como estamos vendo neste início de temporada, não vai demorar muito para termos um novo "melhor ano" no ranking da série. Sem puxar o freio quando o assunto são as mudanças por toda Westeros, este terceiro episódio já figura como um dos mais provocativos até aqui, pondo Cersei no centro das atenções e cercando-a de inimigos mais próximos - Margaery e o Alto Pardal do título -, e daqueles mais distantes - os Starks sobreviventes e os maquiavélicos novos donos do Norte.
No entanto, a leoa encurralada não age como uma presa fácil e usa de toda a sua malícia para estudar seus oponentes, somando a lista de alterações bem-vindas com relação aos livros. Na obra original, Cersei é bem mais impulsiva e descontrolada, já na série, a rainha resgata parte da inteligência de Tywin (pelo menos à primeira vista) ao demonstrar uma condescendência zombeteira com os inimigos. Os melhores diálogos ficam a cargo de Margaery (também distante da sua contraparte nas Crônicas), ao expor o vício da rainha-mãe por um bom vinho, e do comandante da Fé, que ganha a voz do grande Jonanthan Pryce. Inclusive, é no desdobramento que traz a religião dominante dos Sete Reinos como uma ameaça ao reinado de Tommen - a penitência do Alto Septão por estar no bordel do Mindinho já deixa a dica -, que podemos evocar o primeiro convergir de tramas.
Arya e sua estadia na Casa do Preto e Branco era dos momentos pelos quais eu estive mais ansioso. Notar o cuidado dos roteiristas ao ligar a importância da fé no salão do Deus das Muitas Faces (de arrepiar a direção de arte, não?) só enriquece ainda mais o universo de Game of Thrones. Não é à toa, portanto, que apresentem novidades no que já conhecíamos dentro dessa noção de religiosidade, afinal o fanatismo de Melisandre parece agora ser apenas a ponta do iceberg. Sim, fica claro que o culto que a menina opta por ser discípula, na dolorosa cena em que abre mão dos seus pertences, não escolhe e nem julga nenhuma devoção. O entendimento de se entregar, na visão do monge e da nova companheira de Arya, está mais ligado ao fato de que não devemos dar um rosto às nossas crenças. E isto é algo que casa justo com o que o Alto Pardal diz para Cersei.
Assim, o texto da série acaba estabelecendo suas criaturas de fé e suas criaturas sem honra. Nas de fé, por exemplo, podemos colocar Brienne e Tyrion. Ela, por acreditar, mesmo abrindo mão de um destino saudável, que uma promessa é para a vida toda, emocionando como ninguém no discurso sobre o finado Renly. Já o anão, por ter fé na sua condição de humano quebrado, o que sempre o leva aos caminhos mais curtos, onde sofrimento e humilhação soam como cruéis atalhos. O encontro final com Sor Jorah no gancho do episódio põe a trajetória de Tyrion no ritmo de sequestros e alianças que bem lembram o início da sua história lá na primeira temporada.
Os homens sem honra de Game of Thrones, ironicamente, povoam a terra daquele que um dia foi o mais honrado de todos. Não é fácil ver Winterfell nas mãos dos Bolton, porém, mais macabro é notar o que estão preparando para Sansa, a Stark que, por direito, é a última herdeira de Ned. A determinação de Mindinho me deu arrepios, ao passo que a frieza de Roose coloca uma sombra sobre o futuro da garota, de uma forma que até as humilhações de Joffrey chegam a parecer brincadeira de criança. Ramsay deve tornar a vida de Sansa num verdadeiro inferno (se o casamento acontecer), mesmo com seu pai estando disposto a cortar as práticas violentas do psicopata. Cada passo dado em direção a essa trama é novidade também para os leitores dos livros, mas aos poucos dá para notar que os roteiristas estão adaptando um dos enredos mais sombrios da obra original, colocando Sansa no lugar de uma personagem que nem foi desenvolvida pela série: a sofrida Jeyne Poole.
No fim, a única chance de limpeza que o norte de Westeros tem é Stannis Baratheon. O núcleo da Patrulha da Noite continua a toda com a estadia do rei, tendo Jon Snow fazendo jus aos admiradores que conquistou nos últimos anos, quando nem fazia muita coisa, diga-se de passagem. A rima com a honra que cercava todos os atos de Ned é de arrepiar e não dá para dizer que as escolhas de Jon como novo comandante da Patrulha são precipitadas. As duas criaturas de fé restantes nas terras geladas dos Sete Reinos são um homem que age com mão de ferro para sustentar sua predileção ao trono e um bastardo que herda do pai a maior das qualidades e também maldição.
É assim, meus caros, que Game of Thrones estofa toda sua ambiciosa história: alegorizando uma fantasia com um dos subtextos mais ricos da atualidade. De aplaudir de pé, se vocês querem saber.
P.S.1: Vamos lá, quem aí se arrepiou com o corpo da Montanha ainda vivo (?) na mesa de experimentos do Qyburn?!
P.S.2: Está aberta a temporada de recordes. O primeiro foi quebrado pelo rei Tommen. Bem mais esperto do que Joffrey, não é mesmo?
P.S.3: Os bordeis de Volantis e Porto Real, trabalhando duro - o trocadilho é inevitável - para atender as fantasias sexuais dos seus clientes. O cosplay de Daenerys foi de rachar de tanto rir.