[Review] Game of Thrones 5x02 - The House of Black and White
Entre servos e governantes.
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Entre servos e governantes.
Muita gente prefere não arriscar ao entregar o troféu de "Maior Série no Ar" para Game of Thrones, porém, quando episódios como este segundo chegam ao fim, é praticamente impossível não querer bradar aos quatro ventos de Westeros sobre o quão grande e única é a adaptação executada por David Benioff e D. B. Weiss. Do espanto de Arya, ao ver o imponente Titã de Braavos pela primeira vez, ao voo rebelde de Drogon pelo céu enevoado de Meereen, a sensação que fica é a de estarmos vendo a história da TV contemporânea sendo escrita. O cinza do universo imaginado por George R.R. Martin - sabiamente representado pela dualidade pintada nas portas da casa que a jovem Stark busca abrigo - ganha vida, sem nenhum pudor, para violência, sexo e agora para embasbacantes efeitos especiais, que arrepiam a cada plano aberto.
Chegando ao lar de Jaqen H'ghar e Syrio Forel, Arya tem seu devido espaço para brilhar nesta segunda hora. O reconfortante aqui é que sempre que eu penso no quão intensa é a trama da personagem, costumo agradecer mentalmente ao casting da série pela escolha de Maisie Williams para o papel. Afinal, seja questionando o monge da Casa do Preto e Branco, seja defendendo sua caça nas ruas de Braavos, fica mais do que claro que se uma atriz mediana tivesse sido escalada, as expressivas reações da menina fariam uma falta imensa. É bom acrescentar que, além da força costumeira de Williams, o elenco de apoio que acompanha Arya sempre faz a diferença. Nisto, o retorno de Tom Wlaschiha como Jaqen - ou Ninguém -, figura como mais uma das sóbrias alterações feitas pelos roteiristas da série.
E se mudanças são saudáveis - além de convenientes, claro -, todo o rumo dado aos Lannisters restantes em Porto Real segue como um dos passos mais ousados já iniciados até aqui. Para começar, Jaime e Bronn repetindo a "brodagem" da temporada passada e seguindo juntos até Dorne é das coisas mais promissoras da quinta temporada. Nos livros, a storyline que desemboca no país do finado Oberyn Martell é iniciada por personagens completamente diferentes. Entra, então, uma vingativa Ellaria - substituindo outra princesa da obra original - e a missão dada a Jaime por Cersei como motes principais da jornada pela terra do sol. Sobra como teaser do que veremos por lá o visual de encher os olhos, dos castelos locados para recriar os majestosos Jardins de Água do príncipe Doran.
Cersei se mantém cega e perdida na sua própria ambição. Sem saber como controlar os escassos aliados à sua volta, a rainha só vê segurança em Qyburn, o Dr. Frankenstein de Game of Thrones. A revolta do tio Lannister no Pequeno Conselho, por exemplo, é só um dos pontos que chamam atenção, quando paramos para notar que a leoa está cavando a própria cova. A partir da cena no conselho, os desmandos de Cersei, acabam ilustrando bem o dilema estabelecido entre o servir e o governar. Algo que é do entendimento de pessoas como Varys e Tyrion, que indo juntos para Meereen - num outro exemplo das inteligentes mudanças feitas pela série -, continuam forjando um laço único no que diz respeito ao futuro político e social dos Sete Reinos.
Quando Dany opta pela justiça ao invés de uma prova de poder, ela acaba colocando o seu frágil governo no meio de um crescente clamor por mudanças e rebeliões. É excelente que a costura dramática do núcleo de Meereen rime com a dualidade do Branco e Preto, já que a última Targaryen se põe como contraponto direto do que a rainha Lannister representa em Porto Real. Elegante também é o simbólico voo de Drogon na última sequência do episódio, representando o último fio de segurança que se esvai, graças à predileção por justiça que a rainha imprime. Assim, a partida do dragão só reforça o que Daario disse sobre a Mãe dos Dragões sem os seus filhos: Dany está em perigo outra vez e com os Filhos da Harpia rondando, não vai demorar muito para o reinado da Targaryen sofrer a maior das provações.
Concluindo o belíssimo balé de núcleos convergentes, com o encontro entre Brienne e Sansa, The House of Black and White ainda acha tempo para adrenalina durante a perseguição a cavalo nas Terras Fluviais. É o diretor Michael Slovis já se estabelecendo como um dos melhores comandantes da série até aqui. Afinal, não foram muitos os diretores de Game of Thrones que conseguiram tornar Jon Snow e a Patrulha da Noite num espaço para reviravoltas empolgantes que, se mal conduzidas, soariam tão aborrecidas como antigamente. A cena da eleição, por exemplo, arrepiou de verdade.
Estabelecendo um novo mapa dramático na já robusta trama, a releitura traçada por Benioff e D.B. Weiss confere a Game of Thrones um escopo climático bem mais empolgante que os últimos livros de Martin. Mas antes que os xiitas de plantão tentem me apedrejar como os filhos de Dany em Meereen, saibam que o próprio autor já tem uma certa ciência disto. A série cresceu e logo, logo pode devorar sua contraparte literária. Quem diria, não é mesmo?