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[Crítica] Corações de Ferro

" Espere e verá o que um homem é capaz de fazer a outro. "


"Espere e verá o que um homem é capaz de fazer a outro."

Quando nos perguntarmos se, na época em que nos encontramos, em meio a tantas repetições, remakes e mais do mesmo, um longa-metragem com um tema tão corriqueiro em tempos de anos 90 e 2000 como "guerra" ainda tem espaço para os dias atuais? A resposta é sim. Um grande e poderoso "sim".

Em Corações de Ferro (Fury) somos apresentados, durante o final da Segunda Guerra Mundial, a um grupo de cinco soldados americanos: Don/Wardaddy (Brad Pitt, de Conselheiro do Crime), Grady (Jon Bernthal, da série The Walking Dead), Norman/Machine (Logan Lerman, de Noé), Gordo (Michael Peña, da série Gracepoint) e Boyd/Bible (Shia LaBeouf, de Ninfomaníaca). O quinteto, de personalidades completamente adversas e liderado por Don, faz parte das tropas encarregadas de atacar os nazistas em pleno território alemão, buscando a vitória acima de qualquer esforço sobre-humano que seja necessário para alcançá-la.

São muitos os pontos que caracterizam a trama como algo orgânico e prazeroso de se ver, a começar pela personalidade de seus protagonistas, onde destaco, ainda, os personagens de Pitt, Lerman e LaBeouf (os únicos, curiosamente, a terem seus dois nomes divulgados durante o longa: o de batismo e o de guerra, reforçando ainda mais, de certa forma, sua importância para o desenrolar da história). E dentro deste trio, a marcante  relação do veterano Wardaddy e do jovem - e até ingênuo - Norman é, arrisco dizer, um dos melhores trabalhos desenvolvidos pelo roteiro do também diretor David Ayer (Marcados para Morrer).

Recém chegado na guerra, visualmente contra a sua vontade, Norman insiste em mostrar o quanto condena e abomina tudo que a guerra causa e o que ela significa. Forçado a fazer parte do pequeno grupo de Don, este o faz passar por uma situação em particular que é, digamos, a divisora de águas entre o jovem soldado - outrora datilografista - e que agora sabe que de duas, uma: na guerra se mata; ou se morre. E é a partir daí que vemos o quanto a inversão de valores se dá entre os dois, quando Don, o mais forte de todos, se mostra fraco e humano em algumas situações, assim como Norman toma decisões fortes e inesperadas para o seu personagem, decisões estas que podem repercutir na vida ou morte do seu grupo. E assim, neste intercâmbio de emoções e papéis, Brad Pitt e Logan Lerman dão aos seus personagens cenas que marcam bem seus minutos em tela.

E num filme do gênero, como não poderia faltar, as cenas de batalhas são magistralmente dirigidas por Ayer, que aposta em planos abertos e médios para mostrar o cenário da guerra propriamente dita, dando ao espectador a ideia do tamanho da extensão de danos causados pela situação; em planos mais fechados, no entanto, toda a engrenagem do "fazer guerra" é despido em frente ao nosso olhar atento: pés, mãos, força, ferragens, gatilhos, granadas, suor, mira, tudo mostrado nos mais belos detalhes, dando ao que poderia ser "apenas mais uma explosão" um contexto muito maior e até mais interessante. Aqui, a beleza do planejamento e da ações conseguintes tem sua devida importância. A fotografia também é algo notável, tendo em vista os tons escuros adotados por Roman Vasyanov em sua paleta de cores, mas com um detalhe que o diferencia de alguns outros de seu gênero: apesar de reproduzir o ambiente claustrofóbico e inóspito inerente à guerra, a direção de fotografia é extremamente eficaz em não cansar o olhar do espectador, evitando pesar a mão na escuridão total - nota-se, inclusive, que a maioria das batalhas acontece em plena luz do dia; as cores são harmoniosamente distribuídas no decorrer do longa.

O humor é algo que marca presença - de forma pontual - no roteiro, sem deixar que a gravidade do momento seja perdida ou deslocada. Ainda que secundários em relação aos demais, os personagens Grady e Gordo são responsáveis justamente por destoar das situações em que se encontram, não somente no que diz respeito ao humor, mas também ao asco e repulsão trazidos juntos com a guerra. Por outro lado, outro personagem do quinteto, Bible, funciona como uma espécie de consciência limpa e leve do grupo, atuando como braço direito e fiel escudeiro de Don.

Numa película delicada, mesmo com o tema abordado, Corações de Ferro peca apenas em seu desfecho, que opta por uma solução quase preguiçosa para uma jornada que rendeu boas doses de tensão. Ainda assim, o longa é um belo exemplar de seu gênero, trazendo a técnica bem utilizada aliada a boas atuações e ótimas cenas. Quase um dever para os amantes do tema.

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