[Crítica] Belle e Sebastian
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Fazer um filme para adultos do ponto de vista de uma criança é uma tarefa complicada e insegura, e, por isso, nem sempre rende bons resultados. Basta conferir duas produções que chegaram ao Brasil no ano passado, o sueco Nós Somos As Melhores (um coming of age enjoado, tendo a música punk como pano de fundo) e o franco-americano Uma Viagem Extraordinária (um mediano esforço de Jean-Pierre Jeunet, diretor de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), e compará-los com o ótimo e sensível Moonrise Kingdom (2012), de Wes Anderson, ou o cômico Zazie no Metrô (1960), longa também francês de Louis Malle.
Belle e Sebastian está longe de ser o primeiro a investir nesta abordagem, e sua ambientação no período da Segunda Guerra Mundial também não é novidade. Levemente baseado em um livro de mesmo nome (que não li), o filme conta a história de Sebastian, um solitário garoto que vive nos Alpes, e que encontra uma cadela, Belle, que está sendo caçado por, acredita-se, matar ovelhas. A amizade entre os dois cresce, enquanto Sebastian procura por sua mãe e enfrenta o cotidiano de um país dominado pelos nazistas.
Objetivo, já em seu primeiro diálogo, o filme introduz sua trama principal. De fato, esta é uma característica que marcará os breves 104 minutos de Belle e Sebastian: extremamente claro e nada sutil, o longa não está interessado em aprofundar seus personagens ou sua premissa, permanecendo previsível ao ponto de entediar em determinados momentos. O livro que lhe serviu de origem é tão marcante que gerou outras duas adaptações de sucesso (uma delas japonesa) e acabou homenageado por uma banda irlandesa que adotou seu nome, mas o longa, de tão convencional, está longe de gerar o mesmo impacto.
Isto se deve, especialmente, à inabilidade do roteiro de transmitir uma aura genuinamente infantil, preferindo investir num sentimentalismo piegas ao verdadeiro encantamento. Não nego que algumas cenas apertam todos os botões necessários para envolver e emocionar (mesmo que, no minuto seguinte, isto seja difícil de admitir), mas, de maneira geral, Belle e Sebastian é um filme aterrorizado diante da mera ideia de ousar e fugir dos padrões, mantendo-se numa zona de conforto que irá agradar alguns, mas parecer superficial e repetitiva para outros. Aliando isto a direção de Nicolas Vanier e montagem medianas, conclui-se que há alguns momentos realmente agradáveis, mas estes não serão suficientes para salvar o filme de suas armadilhas.
A beleza que faz falta ao roteiro, entretanto, sobra no visual. Os cenários naturais dos Alpes são esplendorosos, e a fotografia de Éric Guichard garante que toda sua exuberância seja transmitida à tela. Guichard quase cria a magia infantil necessária para tornar esta história genuinamente encantadora, e, mesmo que não o seja, Belle e Sebastian ainda é uma experiência visual arrasadora. As performances de Félix Boussuet no papel do protagonista e de Tchéky Karyo como César, seu avô adotivo, também merecem elogios, uma vez que ambos estão hipnóticos, mesmo dentro das limitações de seus personagens.
Belle e Sebastian não é nem o coming of age, nem o filme de guerra que precisamos e merecemos. Com seus exageros melodramáticos e plots previsíveis, o longa é, no máximo, um esforço mediano, não conseguindo aproveitar sua carga dramática para se reinventar e fugir dos clichês do gênero. Bonitinho, mas careta.