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[Review] Game of Thrones 4x07/08 - Mockingbird/The Mountain and the Viper

O caminho entre o agora e o nunca.


O caminho entre o agora e o nunca.

Não tem nada mais admirável na TV, do que ver uma série aprender com os seus erros, mesmo aqueles menores e de certa forma dispensáveis por alguns fãs mais ardorosos (leia-se 'cegos'). Game of Thrones nunca esteve livre de falhas, mas em três temporadas sempre lutou para driblar suas próprias limitações, e o auge, meus caros, é a presente temporada. Este quarto ano não só veio rebater muitas das críticas bobas do tipo “Guerra dos Sonos”, “Caminhadas do tédio” - e se você depois de quatro anos de série ainda reclama do ritmo da mesma, já devia ter desistido dela -, como também justificou todo o apelo alcançado nos últimos anos, entregando episódios ainda mais ambiciosos em termos de tramas, produção e, claro, de adaptação da obra original.

Mesmo tendo duas pessoas diferentes na cadeira do diretor, Mockingbird e The Mountain and the Viper dividem uma cadência visual tão impressionante que só pode ser explicada pelo brilhantismo do roteiro de David Benioff e D. B. Weiss. Do destaque dado a trama no Ninho da Águia ao desfecho grotesco do julgamento por combate de Tyrion, o que se percebe é uma fluidez cada vez mais primorosa e sem a sensação episódica dos por vezes desconexos pontos de vista. Sim, a história dos Bolton com Theon ainda é algo problemático em termos de relevância, porém cenas como a legitimação de Ramsay depois da tomada de Fosso Cailin dão pistas sobre o quão importante a família do Forte do Pavor pode vir a ser, ao dominar definitivamente o Norte de Westeros.

Outro núcleo que há muito tempo deixou de me incomodar foi o da Baía de Escravos. Não sei se é a mais do que bem-vinda inserção de um romance entre Missandei e Verme Cinzento - tristemente limitado por um passado brutal - ou se é a ascensão de Daenerys no quesito simpatia - e aqui eu acrescento que a química com o Daario voltou a fluir -, mas confesso que não reviro mais os olhos para as ambições da Mãe dos Dragões e seu frágil reino de recém-libertos. Tanto é que a dolorosa cena em que Sor Jorah é exilado de Meereen pela sua rainha me comoveu de verdade, e ainda reforçou o cuidado do roteiro ao retomar algo lá das primeiras temporadas e que já havia sido mencionado nesta numa conversa que, para os mais ávidos por batalhas e afins, seria tachada de “encheção de linguiça”.

Fica fácil simpatizar com os personagens de Game of Thrones, quando os mesmos são construídos com tanta precisão. O maior exemplo dessa temporada é Oberyn Martell. Desde a primeira cena do príncipe de Dorne, somos levados a admirá-lo não de forma artificial ou forçosa, mas pelo significado de suas ações. O auge de Oberyn - defendido brilhantemente por Pedro Pascal - se deu na cena em que ele se apresenta como o campeão de Tyrion e a comoção gerada pelo seu destino (o qual eu falarei mais adiante) após a luta com Gregor Clegane é mais um evento catártico na série e em menos de cinco episódios, diga-se de passagem.


Tão cínico e perigoso quanto Oberyn é Petyr Baelish. Os eventos que levaram ao assassinato de Lysa são só mais um aperitivo do que Mindinho é capaz de fazer para alcançar os seus objetivos, e é de aplaudir a forma como o tal evento muda Sansa por completa nesses dois últimos episódios. A audição com os Senhores do Vale e a confirmação do suicídio da tia, coloca a jovem Stark num caminho paralelo ao da irmã mais nova em direção às sombras. Arya assume a brutalidade do Cão, já Sansa assume o cinismo de Mindinho para se proteger. Quando ela desce as escadas do Ninho da Águia toda coberta em tons escuros (cabelos, vestido e agora também em alma), a gente vibra e ao mesmo tempo se entristece, pois mais uma das filhas de Ned partiu para um caminho sem volta.

O negro dos Patrulheiros da Noite também vai se mostrar justificado quando eles forem dizimados pelos Selvagens. Cem mil homens contra cem. É uma batalha cercada de impossibilidades e, talvez por isso, a tensão gerada deva equilibrar bem o próximo episódio que se passará exclusivamente sob a sombra da Muralha. Eu ainda tenho minhas dúvidas quanto a escolha de manter um episódio centrado totalmente em Jon Snow, mas confio no diretor Neil Marshall e a Batalha de Água Negra está bem gravada na minha mente. Portanto, vamos esperar.

Há combates e a há o feroz entrave entre o Víbora Vermelha e a Montanha que Cavalga. As expectativas e o marketing em cima da cena eram uma via de mão dupla, mas, meus amigos, a espera valeu a pena. As acusações gritadas por Oberyn na cara do animalesco Gregor Clegane e toda a tensão gerada pelo balé de golpes foram extasiantes. Eu sabia qual seria o desfecho de tudo, porém ainda assim me comovi com o grito desesperado de Ellaria ao ver a cabeça de Oberyn ser esmagada como a de Elia foi no passado. O olhar de Tyrion ao receber sua sentença final, a decepção de Jaime, o desdenhoso sorriso de Cersei e sei lá mais quantas reações memoráveis, me fazem eleger a cena como a melhor de toda a temporada.

Game of Thrones cresceu! Game of Thrones é indispensável! Game of Thrones não é TV, é HBO! E eu aqui, sou um fã feliz... Feliz e um tanto pesaroso, afinal só temos mais dois episódios e uma espera que como bem sabemos será longa e excruciante.

P.S.: Brienne e Podrick terão sempre minha admiração por suas conversas investigativas entre guisados e pães com forma de lobo.

P.S.2: Cena com Melissandre sensualizando até para Rainha Selyse e sem surtir efeito na gente só comprova que Pedra do Dragão não significa muito não é mesmo?

P.S.3: Tyrion e Jaime, melhores irmãos!

P.S.4: R.I.P. Oberyn e adeus Pedro Pascal, que você seja reconhecido pelo menos em algumas indicações a prêmios.

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