[Resenha] Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Anjos Caídos/As Peças Infernais: Anjo Mecânico
Um novo dia para os Caçadores de Sombras.
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O universo dos Caçadores de Sombras continua! Após a memorável trilogia original de Os Instrumentos Mortais, Cassandra Clare decidiu expandir o Mundo das Sombras e seus personagens, atravessando os anos até o século XIX e criando novos perigos. Nesta resenha dupla, falaremos tanto sobre o quarto volume de Os Instrumentos Mortais quanto sobre a estreia de As Peças Infernais. Como eu disse na minha resenha anterior, pretendo falar sobre essa nova etapa dos Caçadores de Sombras na ordem de lançamento, e começamos com Anjo Mecânico:
1878. Após a morte de sua tia, a jovem Tessa Gray decide
sair de Nova York e se mudar para Londres, a fim de se juntar a seu irmão,
Nathaniel. Porém, ao chegar lá, é sequestrada pelas Irmãs Sombrias, duas
mulheres inescrupulosas, e descobre que tem o poder de se transfigurar em
outras pessoas. Após ser resgatada por Will Herondale e Jem Carstairs, dois
Caçadores de Sombras do Instituto de Londres, descobre o Mundo de Sombras e o
Submundo. Sabendo que seu irmão é prisioneiro do mesmo homem que ordenou seu
sequestro, Tessa se une aos Caçadores de Sombras em busca do misterioso
Magistrado, que ameaça encher o mundo com seus autômatos: androides poderosos
muito mais ameaçadores que qualquer demônio.
Anjo Mecânico inicia a saga de Tessa Gray com a difícil
tarefa de criar uma história adolescente no meio do recatado século XIX.
Felizmente, Cassandra Clare se desdobra, faz uma longa pesquisa, muda seu
estilo de escrita e cria uma ambientação deveras fascinante para As Peças Infernais.
Sem dúvidas, a melhor parte de Anjo Mecânico é a maneira como consegue se
desenvolver de maneira natural mesmo com as limitações do século XIX. O novo
estilo narrativo é bastante semelhante ao de vários autores clássicos da época,
mas suficientemente simples para permitir maior contato com o público jovem. Inclusive,
fãs de romances clássicos irão se deliciar com as várias referências a livros
de autores consagrados, particularmente Um Conto de Duas Cidades (que serviu
como base para a criação do triângulo amoroso entre Tessa, Will e Jem). Na
parte técnica, Cassandra Clare acertou no alvo e criou uma narrativa impecável.
O problema de Anjo Mecânico é justamente sua história.
Apesar de trazer o charme do século XIX e uma maravilhosa inspiração steampunk,
a trama de Anjo Mecânico é pouco empolgante e cheia de clichês. Os personagens
não são tão encantadores quanto os de Instrumentos Mortais – sendo que alguns
mais parecem cópias mal feitas. Will, por exemplo, é uma sombra do protagonista
sarcástico e agressivo que Jace representa, assim como Tessa é uma menina
tímida e rabugenta aos moldes de Clary. Jessamine, responsável pelo alívio
cômico, acaba por ser simplesmente inútil e um tanto irritante. Já outros
personagens, como Charlotte, Henry, Sophie e Jem, são realmente envolventes,
particularmente os dois últimos. Outro problema é a falta do senso de humor
brilhante de Os Instrumentos Mortais, que deixa tudo muito sério e genérico,
muito parecido com outras sagas do mesmo gênero. Mas talvez o maior dos problemas
seja a previsibilidade: em determinados momentos, Anjo Mecânico copia
descaradamente as reviravoltas de Cidade dos Ossos, incluindo uma trama em
relação aos laços de família desfuncionais. Para quem não acompanhou Os Instrumentos Mortais,
isso não será problema, mas para quem já é fã de longa data, será uma surpresa
desagradável e frustrante.
É claro que o livro não deixa de ter seu valor: ainda é uma
leitura fácil e divertida, como somente Cassandra Clare consegue proporcionar,
e expande de maneira significativa a mitologia de seu universo, algo que é
realmente encantador de se presenciar. O mundo dos Caçadores de Sombras se
torna muito mais denso e mais real com esses novos detalhes. Entretanto, os
problemas de Anjo Mecânico comprometem uma melhor experiência. O lado bom é
que, nos volumes seguintes, As Peças Infernais melhora consideravelmente e faz
jus às expectativas. Mas, em relação a Anjo Mecânico, não posso deixar de ficar
decepcionado com a oportunidade desperdiçada.
Cidade dos Anjos Caídos
ATENÇÃO: esta resenha terá spoilers dos livros anteriores.
Após a Guerra Mortal, os Caçadores de Sombras estão
retomando suas vidas. Jace e Clary começam uma vida juntos, enquanto Simon se
vê dividido entre Isabelle e Maia, acabando por ficar com as duas. Jocelyn e
Luke começam os preparativos para seu casamento, e Alec e Magnus viajam de férias
pela Europa. Já a família Lightwood permanece de luto pela sua perda, acabando
por se separar. Tudo estava em paz até Jace ser acometido por pesadelos que ameaçam
sua vida com Clary, enquanto o Instituto investiga terríveis assassinatos a
membros da Clave. A tensão volta ao Mundo de Sombras, ameaçando a volta da
Guerra Mortal.
Se você já leu Anjo Mecânico, está na hora de conhecer a
Cidade dos Anjos Caídos. Quando soube que Os Instrumentos Mortais voltaria com
mais três livros, fiquei dividido entre a alegria e a desconfiança. Minha saga
favorita estava de volta, mas seria para melhor? Com uma premissa muito simples
e amigável em comparação à perigosa trilogia original, ainda tenho minhas
dúvidas quanto a Cidade dos Anjos Caídos. É claro que este era um livro
necessário para se chegar no ótimo Cidade das Almas Perdidas, mas ainda assim,
resta a sensação de que algo poderia ser feito de maneira melhor.
Cidade dos Anjos Caídos fragmenta ainda mais sua narrativa.
Se na trilogia original, todos os points of view convergiam para a Guerra
Mortal, aqui são criadas tramas paralelas bastante independentes, que
entretanto têm a mesma importância que a história de Jace e Clary. O foco,
aqui, divide-se, basicamente, entre Jace, Clary e Simon, que passam a maior
parte do livro cuidando das próprias vidas. Simon está lidando com seu namoro
com Isabelle e Maia e com sua vida de vampiro, tendo que decidir se é leal ao
Clã de Nova York ou à Clave, principalmente com o surgimento de Camille, uma
vampira anciã que conhece diversos segredos sobre os Caçadores de Sombras.
Jace, temendo pelo que seus pesadelos representam à vida de Clary, se afasta da
namorada e passa a viver com Simon e Jordan, um lobisomem que pertence à ordem
dos Praetor Lupus, uma organização responsável por guiar os novatos no Submundo. Já Clary
investiga os estranhos assassinatos à Clave, ao mesmo tempo que prepara o
casamento da mãe.
Apesar de ter o mesmo charme de sempre, é impossível não
terminar o livro com um pouco de desconfiança, ainda mais depois dos
fantásticos Cidade das Cinzas e Cidade de Vidro. Cidade dos Anjos Caídos é tão
divertido quanto Os Instrumentos Mortais sempre foi, mas, infelizmente, não
consegue ser tão viciante. Enquanto a trilogia original sabia equilibrar drama
teen com fantasia de maneira que não ficasse piegas demais, Cidade dos Anjos
Caídos é, basicamente, um livro adolescente. A fantasia fica de lado durante a
maior parte do tempo, de modo que o livro se foca nas relações entre seus
personagens. Honestamente, isso não é ruim, considerando que a saga tem
personagens fortíssimos, engraçados e envolventes, mas, ao mesmo tempo, o livro
parece incompleto. Cidade dos Anjos Caídos parece mais algo do tipo “o que
fazemos quando não estamos salvando o mundo”. É cheio de momentos de
camaradagem, de dramédia adolescente, mas, como um livro de fantasia, é fraco e
cheio de bobagens, incluindo algumas reviravoltas bem vergonha alheia, e um
clímax chato e longo demais. A trama mais interessante é, sem dúvidas, a de
Simon, que divide seu tempo entre os vampiros e o triângulo amoroso com
Isabelle e Maia.
Em minha resenha de Cidade das Cinzas, eu
mencionei que as trilogias dos Caçadores de Sombras funcionam mais ou menos como
uma história só dividida em três atos. Isso serve para ambas as trilogias de Os
Instrumentos Mortais e também As Peças Infernais. Desse modo, Cidade dos Anjos
Caídos seria o “primeiro ato”, a introdução da história e dos mistérios. Infelizmente,
o livro não passa disso mesmo. Não me levem a mal: no fundo, eu adoro esse
livro, mas somente por que eu adoro esses personagens e adoro vê-los
interagindo. Qualquer um menos apaixonado pela saga provavelmente se sentiria
desanimado pelas altas expectativas, mas é impossível negar que os diálogos e
situações continuam bastante interessantes.
P.S.: Se vocês querem minha opinião sobre se devem ou não
ler os próximos livros da saga, incluindo As Peças Infernais: sim. Absolutamente.
Apesar do resultado fraco de Anjo Mecânico e Cidade dos Anjos Caídos, os
próximos volumes (respectivamente, Príncipe Mecânico e Cidade das Almas
Perdidas) são encantadores e maravilhosos. Definitivamente recomendo continuar.