[Resenha] Os Instrumentos Mortais: Cidade das Cinzas
A perfeita continuação.
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Se após Cidade dos Ossos restava alguma dúvida de que Os
Instrumentos Mortais é um dos universos literários mais promissores dos últimos
anos, Cidade das Cinzas chegou para enterrá-la. Maior, mais denso e muito mais
divertido, Cidade das Cinzas é o típico segundo volume de uma trilogia que se
destaca frente aos outros, seguindo a longa tradição mantida por Star Wars,
Senhor dos Anéis, entre outros.
Após as revelações na batalha de Renwick, os Caçadores de
Sombras estão juntando os pedaços de suas vidas e se preparando para a guerra.
Clary se afastou do Instituto, decidindo tentar uma relação com seu melhor
amigo, Simon, enquanto procura uma cura para sua mãe. Jace tem que enfrentar
Marise, sua mãe adotiva, e as acusações da Clave de ser um espião de Valentim.
Mas as circunstâncias levam seus caminhos a se cruzar novamente – não só Clary
descobre que há muito mais segredos do que imaginava em seu passado com Jace,
Valentim e sua mãe, como o novo plano de Valentim vem à tona, ameaçando a paz
no Submundo. Fadas, vampiros, feiticeiros e lobisomens estão sendo mortos de
maneira estranha, e, com a Clave em crise, o Instituto vê-se obrigado a receber
a Inquisidora, a figura poderosa e capaz de decidir os rumos da guerra. O Mundo
das Sombras nunca esteve tão vulnerável.
Estruturalmente, a trilogia pode ser interpretada como uma
só história dividida em três atos: Cidade das Cinzas é a “parte do meio”, e,
por isso, se beneficia do fato de que seus personagens e mitologia já estão
bastante desenvolvidos, preocupando-se somente em expandi-los. É como se usasse
Cidade dos Ossos como uma porta, uma base para explorar novas situações. Dessa
forma, o livro se livra do desenvolvimento lento que marcou o primeiro volume,
focando da primeira à última página em muito mais tensão, reviravoltas e humor
num ritmo rápido e alucinante.
A história segue uma estrutura bastante parecida com outras
“segundas partes” de trilogias: no início, temos maior foco no mistério e no
clima de tensão, dando maior valor às relações entre os personagens e ao uso da
mitologia para embasar a trama. Tudo isso embalado em diálogos rápidos e cheios
de humor e referências à cultura pop, mas sem jamais esquecer de sua
importância no contexto da história. Da metade para o final, entretanto, somos
surpreendidos com uma enxurrada de reviravoltas, situações perigosas e ação sem
parar, criando um clímax longo e memorável por conseguir manter não só a tensão
e o perigo, como o bom humor e também por conseguir usar perfeitamente sua
imensa gama de personagens. Já que a maioria dos mistérios é resolvida ainda na
primeira metade, a trama se beneficia com a possibilidade de deixar a ação
simplesmente se desdobrar sobre as respostas, tecendo uma teia de situações e
se beneficiando com a imprevisibilidade. A adoção de uma narrativa fragmentada
(isto é, com vários points of view de personagens diferentes) ajuda na maior
identificação do leitor com a história e também com um melhor desenvolvimento,
permitindo maior densidade e sofisticação para o desenrolar das reviravoltas que
no final convergem numa única trama. Falando nisso, para quem sentiu falta de
Alec, Isabelle, Simon, Magnus e outros personagens secundários encantadores que
ficaram um pouco apagados no primeiro livro, podem respirar aliviados: eles não
só ganham muito mais destaque e importância na história, como também são
elevados à categoria de personagens principais, garantindo uma alternativa ao
romance de Clary e Jace.
Paralelamente, somos apresentados a vários novos detalhes
que aprofundam a mitologia do universo de Os Instrumentos Mortais, incluindo o
Submundo. Em Cidade das Cinzas, descobrimos um pouco mais sobre a política que
envolve a Clave e os Tratados, a relação entre as raças e a difícil convivência
entre estas. O mundo que Cassandra Clare criou, agora mais detalhado, se torna
muito mais palpável e realista. É aqui que as Crônicas dos Caçadores de Sombras
começam a se expandir, gerando várias situações que serão importantes para as
sequências e os vários spin-offs (incluindo a já lançada e muito bem recebida
trilogia As Peças Infernais), bem como para definir as regras deste mundo.
Cidade das Cinzas é um livro tão denso que é difícil
comentar todos os detalhes fascinantes que tornam este o melhor capítulo de Os
Instrumentos Mortais. Este é um daqueles livros em que sempre há algo
acontecendo, em que os personagens se entrelaçam de maneira tão surpreendente
que chega a assustar. As relações da saga são tão densas, tão cheias de nuances
sublimes, tão desenvolvidas que chegam a ter algum tipo de magnetismo que nos
mantém virando as páginas, com sede por mais. Destaque para a relação de amor e
ódio entre Jace e Valentim, devastadora e cheia de suspense. Cidade das Cinzas
termina com a promessa de uma verdadeira guerra para o último volume da saga, que,
sem dúvidas, irá encher o universo das Crônicas dos Caçadores de Sombras de
caos.