[Review] American Horror Story: Coven 3x03 - The Replacements
Desejos supremos.
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Desejos supremos.
Se tem uma
coisa que sempre saltou aos olhos na curta vida de American Horror Story, é a capacidade que seus roteiristas possuem de criar uma consistente mitologia com pouco tempo de tela da temporada em
questão. Coven tinha, até agora, começado mais lenta, explicitando pausadamente as nuances de suas personagens,
trazendo o oposto do que vimos na brilhante introdução de Asylum e lembrando mais as escolhas iniciais presentes no debute da
Murder House. Felizmente, The Replacements acerta em cheio quando
escolhe Fiona para conduzir o perfil mitológico da história, explicando não só
os motivos por detrás da trama da “juventude eterna” (criticada cedo demais por
alguns), como também abrindo portas para o sedutor universo que é o próprio
passado da Academia de bruxas. Porém, o que me deixou apreensivo durante o
episódio – e que surgiu como outra herança do primeiro ano -, foram os excessos
caricatos de Ryan Murphy, adepto
confesso da prática do shock value mesmo
quando esta periga diminuir o escopo da trama contada.
Retornando a 1971, mais
precisamente ao dia em que Fiona tomou posse do seu lugar como Suprema no clã,
abre-se um teaser que trás a presença
de outra líder, a Suprema Anna Leigh Leighton. De uma forma um tanto quanto
brutal, descobrimos que a troca de Supremas não é nem um pouco auspiciosa, pois
sempre que uma bruxa com os Sete Dons surge, ela passa a sugar toda a energia
vital da bruxa que a precedeu. Mesmo com este destino macabro, o ainda
misterioso Conselho parece ter as ferramentas necessárias para realizar a troca
de posições sem que a vida da Suprema mais velha seja destruída, mas já nesta
época, Fiona não estava tão disposta a seguir as regras da Academia. O embate
entre ela e Anna Leigh é a primeira estrofe de um conjunto de rimas que surgiu
durante o episódio. Tudo a partir daqui foi conduzido pelos desejos mais
variados e pelos fins mais sombrios para enfim alcança-los, tendo Fiona,
Madison e numa jogada de entrelinhas a própria Nan, como fios condutores da
trama central.
Não sei se foi só eu que notei,
mas o desenvolvimento de Queenie e Zoe pareceram freios mal dados na história
de tão destoantes que foram os seus plots.
A primeira, por exemplo, rendeu duas cenas interessantes com LaLaurie
(divertidíssima ao desmoronar quando soube que um negro era o atual presidente
dos Estados Unidos), que infelizmente se perderam logo após a equivocada
sequência envolvendo o Minotauro. Não conhecemos Queenie bem o suficiente, para
entender o seu sofrimento por não ser amada e, convenhamos, faltou sentido ali. Zoe
sofreu por um motivo parecido, mas com chances maiores de remediação. Sua história
com Kyle continua impressiva, e apesar de muitos reclamarem do Evan Peters, eu acho que o ator vem
mandando muito bem nos acessos que lhe descrevem como um monstro e nos tristes
olhares que despende para Zoe, remetendo diretamente a sua origem inspirada no
conto de Mary Shelley. O problema
aqui foi o choque pelo choque que a incestuosa relação entre Kyle e sua mãe
trouxe. Claro que ainda é cedo para julgar alguma coisa, porém é justo esta
possibilidade de mais explicações que torna a incômoda situação da família
Spencer mais aprazível que os desejos de Queenie.
Eu já havia mencionado a questão
das duplas de bruxas, e foi arrepiante notar que mesmo utilizada num jogo de
câmeras ela se fez presente em todo o episódio. Estou falando da consulta de
Fiona e Cordelia. Alfonso Gomez-Rejon
(já sabem que nunca vou parar de elogiar o cara, né?) sempre tem um dedo na
estética visual da temporada e nas câmeras mais angulosas, tornando os recintos
que deveriam ser espaçosos em locais claustrofóbicos, o que é a pegada da vez. Basta
notar que as tristes notícias recebidas por mãe e filha sobre os seus
respectivos futuros são conduzidas num travelling
ressonante que se completam indistintamente, arrepiando pela penosa reação
das duas após o diagnóstico dos médicos. Da mesma forma, o tal travelling, retorna no momento em que
Cordelia vai pedir ajuda a Marie Laveau e a bruxa passa a explicar o feitiço
de fertilidade (alguém mais se lembrou da concepção montada por Polanski em O Bebê de Rosemary?). É este apuro técnico que engrandece AHS mesmo em suas horas mais
problemáticas.
Chegamos então ao que realmente
me animou no episódio. A caminhada de Madison e Nan para receber o novo
vizinho entregou uma peça-chave do quebra-cabeça sobre a nova Suprema. Muitos
(inclusive a própria Fiona) cantaram a bola de que Madison seria a substituta,
pois na discussão entre ela e a beata Joan Ramsey, a bruxinha telecinética
mostra o dom da piromancia. Claro que inúmeras outras semelhanças entre Madison
e Fiona pareceram entregar o jogo. Porém, a informação dada por Anna Leigh de
que até cinco dons seriam possíveis para uma bruxa florescida, torna a
indolente decisão de Fiona no maior erro que ela poderia ter cometido. O
monólogo da dança logo no início do episódio entrega que Nan tem outro dom além
da clarividência. Um dom que, pelo que foi mostrado até aqui, aparenta ser
exclusividade da Suprema. Falo da habilidade de conquista, ou vocês acham
coincidência Nan dizer que consegue encontros o tempo todo e são os garotos que
vão atrás dela para tal? Isto também explicaria o fato de Luke, não ter nem
dado bola para Madison vestida de femme-fatale.
Abrindo mão de uma personagem
incrível logo no começo de sua história, Coven
também mostra em sua sequência final, que não está para brincadeiras e que
Fiona é capaz de ir mais longe do que qualquer um para manter o seu trono. Até
quando ela conseguirá sair impune, ainda não dá para saber. O que podemos
notar é que, mais e mais, a egocêntrica noção de plenitude que ela sustenta vai atraindo inimigos poderosíssimos. Agora sim o clã está ameaçado, não por
qualquer um, mas pelos tristes erros de sua desejosa Suprema.
P.S.: Spalding não deve durar muito, mesmo não podendo falar.
Guardar segredos de uma Suprema inconsequente não é uma boa escolha.
P.S.2: Misty e sua solidão foi bem triste. Torcendo para que Zoe
cumpra suas promessas e volte para um jantar com a bruxa.
P.S.3: Marie Laveau no tablet!
Quem não riu? São estas liberdades criativas que divertem. Não referências
macabras a possíveis cenas de zoofilia.