[Review] Hannibal 1x09/10 - Trou Normand/Buffet Froid
À deriva .
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À deriva.
Há alguns episódios, Will nos
entregou uma curiosa definição para o seu estado atual. Ele disse que muitas
vezes se sentia como um barco perdido na névoa, mas que sempre conseguia
encontrar o caminho de casa, pois uma luz o guiava ao local certo. De uma forma
assustadora essa luz se extinguiu, e mais sem rumo do que nunca, Will se vê
preso a sua perturbadora condição, que hora funciona como penitência, hora toma
ares de expiação. Foi com dois episódios sensacionais, que Hannibal nos deu respostas, twists
e um sombrio vislumbre do que está por vir nesta reta final que promete nos
levar à um insano passeio por duas mentes tão parecidas e conflitantes que se
completam com uma química inegável e assombrosa.
Em Trou Normand, um grotesco totem humano feito de corpos exumados com
apenas um mais recente, desafia mais uma vez o FBI. De cara Will enxerga a
montagem da peça como um ostensivo cartão de visitas, onde o assassino quer
mesmo revelar que boa parte das mortes mais antigas, que antes pareciam ocasionais,
foram obra sua. Sempre temos o tom de dúvida assumido pela equipe forense quando
Will dá o seu parecer e claro que mais uma vez ele está certo. O que realmente
muda o rumo do caso é o súbito apagão que Will tem, perdendo incômodas três
horas de sua vida, mesmo estando visivelmente acordado. O colapso do agente
especial vai se agigantando a partir do momento que ele passa a temer a
ausência de uma saída (antes tão fácil) das reconstruções.
Paralelamente, Abigail Hobbs continua
sob a vigília de Jack Crawford, e assim como Will, ela vai entrando em colapso
ao demonstrar uma culpa que vai além do assassinato de Nicholas Boyle. Eu achei
toda a trama envolvendo a jovem, um adendo necessário e brilhantemente inserido
ao episódio. Minha cena favorita veio do interrogatório diante do corpo de
Nicholas. A tensão e as atuações estavam de arrepiar. Abigail resolve também,
que a terapia mais viável é escrever um livro com a ajuda de Freddie Lounds. O
tom vitimado da garota, aos poucos se mostra um jogo frio, abraçado por Hannibal
que sempre soube da sua participação nos crimes do Picanço. Não sei até que
ponto a linha vítima/monstro se desenha ao redor de Abigail, mas tenho quase
certeza de que ela guarda algo mais obscuro do que a cumplicidade nas escolhas
das garotas.
O desfecho lógico para o caso do
totem foi bem trágico e triste. Mesmo que curta, gostei da participação do Lance Henriksen como um senhor que
destruiu o próprio legado ao achar que estava exaltando o mesmo. Pra finalizar,
ainda procurando estabilidade e algo a que se agarrar, Will sofre outro baque
ao descobrir o papel de Abigail na morte de Nicholas, um gancho que só
exponenciou sua degradação no outro episódio.
Eu já posso apontar Buffet Froid como o episódio mais
assustador da série? Da construção do suspense envolvendo a brutal morte que
deu início ao episódio, à investigação em si com Will sem saber onde e quando
poderia apagar, acho que tudo foi minuciosamente construído para despertar uma
sensação de terror quase sufocante. O grafismo dos corpos é minha marca
favorita na série, mas diferente do caso com o Criador de Anjos, o desenrolar do “modus operandi” do assassino, não assumiu um tom sobrenatural,
ainda que a tal Síndrome de Cotard pareça
ter vindo direto de um episódio macabro de Arquivo-X.
Mesmo sendo uma hora extremamente
climática, o que me agradou mesmo, foi a explicação científica para (agora)
doença de Will. A breve aparição do Dr. Sutcliffe abriu os verdadeiros motivos
que Hannibal tem para manter uma relação tão próxima com o consultor. Will é um
precioso espécime e o psiquiatra está forçando sua derrocada para garantir um
perverso senso de ciência. Não me lembro de termos visto essa faceta de
Hannibal em qualquer outro lugar e esse acréscimo ao enredo só aumentou minha
admiração pelo roteiro que não precisa ser expositivo para deixar toda a
dissecação da trama a mostra.
Hannibal ousou no assassinato do
seu antigo colega e a jovem Georgia Madchen viu toda a cena, encoberta sobre o
estranho sintoma de sua doença, mas ainda sim um risco para o canibal. Até a finale, tanto Abigail quanto Georgia prometem revelar mais sobre o verdadeiro Estripador de Chesapeake e talvez seja
esse outro teste que Hannibal tem para Will. Vou esperando com uma fome intensa
e angustiante pelo final dessa espetacular temporada.
P.S.: Temos mais um ano garantido... acertou né NBC?!