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Crítica | Manchester à Beira-Mar


Vencedor do Globo de Ouro com Casey Affleck na categoria Melhor Ator em Filme de Drama, chega aos cinemas do país o longa-metragem Manchester à Beira-Mar, escrito e dirigido por Kenneth Lonergan (Margaret, Conte Comigo). O filme conta a história de Lee Chandler (Affleck), um zelador que, após a morte do irmão, Joe (Kyle Chandler), precisa retornar à sua cidade de origem e ajudar seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges) a resolver as questões que envolvem o funeral, entre outras.

É preciso deixar claro que Manchester à Beira-Mar não é um filme fácil de ver. Estamos diante de um longa-metragem que vai ao extremo da carga dramática que uma narrativa pode propor, sem se tornar exageradamente melancólico, mas, ainda assim, melancólico. Em suas quase duas horas e meia de duração, imergimos no universo em torno da vida de Lee Chandler na tentativa de compreender essa personagem complexa e que pouco revela ao público. Lee é um sujeito fechado, pouco social e com comportamento que oscila entre passividade diante dos fatos - visto a quantidade de vezes que ele responde "tudo bem" para qualquer problema, até seus momentos de explosão e agressividade com estranhos em busca de briga. O porquê de tudo isso vai sendo revelado em uma construção narrativa precisa, que justifica os elogios à montagem que o filme vem recebendo (podendo até levar o Oscar, ou ao menos receber uma indicação).

O drama pessoal de Lee já seria trágico o bastante, porém a presença de uma trilha sonora constante e extremamente pesada - que me lembrou a experiência de assistir O Oléo de Lorenzo, mas sem ser tão sufocante - torna difícil assistir a este filme sem uma certa carga de tristeza. Casey Affleck entrega uma atuação que exige muito do ator, pois o roteiro não traz quase nenhuma exposição em diálogos sobre sua vida. Assim, o ator depende muito mais de sua expressão corporal, o peso do olhar, da fala lenta, entre outros motivos que levaram Affleck a vencer o Globo de Ouro. A partir da construção de sua relação com o sobrinho, que o irmão deixou sob sua tutela sem informá-lo, vamos mergulhando na apática Manchester, uma pequena cidade no pequeno condado de Essex, no estado americano de Vermont. O título do filme se justifica pelas diversas cenas que se passam em um barco, em diversas linhas temporais, outra característica marcante de Manchester à Beira-Mar, contando com diversos flashbacks que surgem de maneira extremamente discreta, exigindo atenção do espectador durante todo o filme, mesmo em seus momentos maçantes.

Manchester à Beira-Mar traz personagens muito bem escritos, que vão além de seu protagonista. O sobrinho, Patrick, é quase uma oposição a Lee, exercendo todas as atividades que a juventude pode permitir: tem uma banda, duas namoradas, uma vida bem estabelecida em Manchester... Logo não quer sair de lá, enquanto Lee não consegue ver a hora de sair (por motivos que não revelarei nesta crítica). Temos ainda Michelle Williams, que interpreta Randi, ex-mulher de Lee, que em parceria com Affleck protagoniza uma das cenas mais tocantes do filme, onde ambos falam do passado. E o passado, aliado às experiências que esses personagens vivem, é que faz deste um filme tão forte. Tudo isso diante de uma fotografia cinzenta, na sempre nublada Manchester, até porque essa não é uma história que combina com dias de sol.

Estamos diante de uma temporada de filmes inspiradores e encantadores, como La La Land - Cantando Estações e Capitão Fantástico, mas Kenneth Lonergan destoou desses filmes com seu Manchester à Beira-Mar. Uma obra sobre tragédias, sobre uma vida difícil e sobre pessoas que nem sempre sabem lidar com isso. Talvez seja um daqueles filmes para se ver apenas uma vez na vida, nem por isso deixa de ser bom, mas sim algo com uma mensagem para que o público reflita. São produções necessárias para nos lembrar que às vezes a vida pode ser um eterno dia nublado, às vezes pode ser uma noite sombria, porém a vida continua e ainda há pelo que se viver.

Atualmente, divido aos dias que vivemos hoje, Manchester à Beira-Mar é ainda mais entristecedor, talvez por isso eu prefira La La Land e Capitão Fantástico. Entretanto, os fãs de filmes dramáticos não podem deixar de ver esta obra, até porque ela deve concorrer ao Oscar em mais de uma categoria, graças às suas atuações, roteiro e montagem, que são no mínimo excelentes.

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