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Crítica | La La Land: Cantando Estações


La La Land: Cantando Estações não é exatamente um musical. Também não é exatamente um drama. Muito menos um romance. E tampouco é uma comédia. Não é um filme que se encaixa em um gênero específico. E isso é ótimo. Acima de tudo, La La Land: Cantando Estações é um filme sobre sonhadores. Envolto em uma atmosfera de sonho, o filme abre com um número musical no qual algumas destas pessoas contam como deixaram tudo para trás para transformarem seus sonhos em realidade.

Não à toa, o filme é ambientado em Los Angeles, cidade agregadora de sonhadores. Logo após o número inicial, somos apresentados a dois deles. Mia (Emma Stone) é uma aspirante à atriz que trabalha em um café localizado dentro dos estúdios da Warner Bros. enquanto luta para conseguir a grande chance em frente às câmeras, teste após teste. Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista amante do jazz que cria problemas para seus empregadores cujo sonho é abrir seu próprio clube, onde o gênero musical tipicamente americano que tanto ama pode ganhar um novo fôlego de vida. Uma série de situações faz com que os caminhos dos dois se cruzem e, uma vez juntos, ambos se apoiam mutuamente à medida que se aproximam de seus respectivos sonhos.

Em certo momento do filme, Mia apresenta para Sebastian a peça que escreve e fica com medo de as pessoas acharem que pode ser excessivamente nostálgico, ao passo que o rapaz responde: "Fo#$%-se as pessoas!". E é exatamente o que La La Land: Cantando Estações realiza. Sem medo de abraçar a nostalgia e, por vezes, o fantástico, o filme encontra nos musicais hollywoodianos dos anos 1940 e 1950 e nos filmes musicais de Jacques Demy suas influências para contar uma história sobre pessoas que lutam por seus sonhos. Fazer uma comédia significaria pisar no lugar-comum. Por outro lado, um drama poderia resultar em um filme insosso.

La La Land: Cantando Estações é mais um acerto na jovem carreira de Damien Chazelle. Cineasta de 32 anos, também responsável pelo ótimo Whiplash: Em Busca da Perfeição, Chazelle dá um passo mais além na sua carreira de realizador, cumprindo com excelentes resultados o desafio de fazer um filme cuja escala e ambição são ainda maiores do que seu antecessor. Filmado em CinemaScope, o filme não esconde seu desejo de remeter aos grandes musicais clássicos de Hollywood, algo que fica claro em um número de sapateado envolvendo os personagens principais rodado em plano-sequência, que remete a clássica sequência de dança estrelada por Cyd Charisse e Gene Kelly no filme A Roda da Fortuna. Aliás, o diretor investe em vários e belíssimos planos-sequência durante o filme, que ganham mais vida e vibração graças ao design de produção de David Wasco, à direção de arte de Austin Gorg e à fotografia de Linus Sandgren.

Merecem igual destaque os figurinos de Mary Zophres e a montagem de Tom Cross (que também montou Whiplash: Em Busca da Perfeição). Enquanto o trabalho da primeira é uma obra de arte à parte, o segundo demonstra um entrosamento afiado com o diretor e, por meio da sua montagem, o filme ganha ritmo e fluidez que não deixa a desejar em relação aos musicais clássicos. Além disso, é curioso que durante o filme sejam citados Juventude Transviada e Casablanca (que são, por sinal, clássicos da Warner Bros.). Em uma cena de festa na qual Sebastian toca sucessos dos anos 1980, o personagem veste uma jaqueta vermelha e uma camiseta branca que lembra bastante o icônico protagonista interpretado por James Dean; e tal qual o personagem Rick Blaine, interpretado por Humphrey Bogart, Sebastian quer ser proprietário de seu próprio clube. Não se sabe se estes tipos de referências foram intencionais, mas, se foram, só abrilhantam mais ainda o trabalho de Damien Chazelle, cuja visão e paixão permeiam todo o filme.

Outra razão para o sucesso de La La Land: Cantando Estações é o fato de contar com dois atores extremamente talentosos e carismáticos como protagonistas: Emma Stone e Ryan Gosling. Stone interpreta Mia com graça e sensibilidade, compondo uma personagem adorável, batalhadora e com suas próprias inseguranças. A cena em que ela encontra Sebastian após sua peça é tocante pela forma como a atriz desmorona diante de seu parceiro. Por sua vez, Gosling interpreta um artista inquieto e insaciável, não satisfeito com a posição em que se encontra e desesperado para salvar uma forma de arte que está morrendo. Curioso observar a cena em que Sebastian fala que jazz não é um ritmo relaxante, mas tenso e conflituoso, e ver que Gosling incorpora tensão e conflito em sua atuação de forma magistral. A química entre Stone e Gosling, já vista em filmes como Amor a Toda Prova e Caça aos Gângsteres, é imbatível e essencial para o sucesso do filme. Arrisco dizer que é a melhor química entre intérpretes desde Kate Winslet e Leonardo DiCaprio (que fizeram Titanic e Foi Apenas Um Sonho juntos).

Contando com dois dos melhores intérpretes de sua geração e com canções memoráveis, La La Land: Cantando Estações é um filme que melhora a cada vez que é assistido. Um filme inspirador e tocante, abrilhantado por uma direção segura e precisa, que faz com que nos perguntemos: e agora, o que Damien Chazelle fará em seguida? Pessoalmente, mal posso esperar para ver.

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