Cinema | IX Janela Internacional de Cinema do Recife: os primeiros dias do festival
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A palavra de ordem é desobediência!
Vinculado à história político-social do Recife e do Brasil, o Janela não é apenas mais um evento de cinema. Residente e resistente no mais grandioso dos cinemas de ruas e patrimônio histórico, o Cinema São Luiz tombou. Durante dez dias, esta nona edição do festival abordará o tema da desobediência, que claramente fica explícito já na vinheta de abertura de seus filmes.
O primeiro filme apresentado (que não foi o de abertura
oficial) é um brasileiro clássico dos anos 1980, Eles Não Usam Black-Tie (Leon Hirszman, 1981), que mostra um
Brasil ferido e a realidade triste de muitas famílias, ao mesmo tempo em que a luta
da classe trabalhadora se confunde com os conflitos familiares. Em sua
abertura, à noite, foi apresentado um curta local de Felipe Fernandes que
também aborda a temática de uma maneira bastante explícita, tanto que a mensagem
é divulgada já no título: O Delírio é a Redenção dos Aflitos.
E são tempos aflitos os atuais quando o festival divulga sua
posição ídeo-política de maneira bastante aberta com o apoio aos movimentos de
ocupação das universidades e escolas ao redor do país (luta contra a PEC 241, a
chamada PEC do Fim do Mundo por muitos artistas). Assim como também já tinham se
posicionado em relação ao movimento local do Ocupe Estelita, este ano os
artistas e produtores locais se juntaram ao Ocupe Cine Olinda, outro lugar que
luta para ser preservado em nome da cultura. Lá também serão exibidos alguns
filmes do festival, e quem quiser visitá-lo vale muito a pena, afinal não
deixa de ser outro cinema que precisa de prestígio, cuidado e, acima de tudo, atenção para que não se perca.
Eu, Daniel Blake, vencedor
da Palma de Ouro no festival de Cannes deste ano, foi uma conquista ótima para o Janela. Abordando
um tema universal, o filme de Ken Loach mostra bastante como o sistema em que
vivemos deprecia o ser humano. Uma das frases que mais marca é o discurso
final do protagonista: "Eu não sou
apenas um número." Algo que pede, de fato, por mais humanidade na sociedade
em que vivemos, onde se age com uma frieza enorme diante de todas as situações
que exigem algo a mais. Um filme lindo para se começar um festival maravilhoso.
Entrevistamos algumas pessoas na fila de espera durante a
abertura que apoiaram a escolha do tema, assim como adoraram a seleção dos
filmes deste ano. "Fora, Temer!", exaltou a professora Luiza Soares, de 68 anos. Ela contou que sua preferência são os filmes de arte e que gosta de assistir apenas um por dia durante o evento. "Gosto muito de filmes de arte, mas prefiro escolher apenas um por dia na programação do festival para poder refletir melhor sobre as mensagens passadas em tela", disse.
Já o estudante Morgan Leon, de 21 anos, ressaltou que "o tema não poderia ter sido outro após a situação atual que se vive no Brasil, ainda mais depois de um filme como Aquarius, que critica o sistema e não só faz o espectador fugir da realidade como também debater os assuntos". Por outro lado, Morgan desaprovou o preço dos ingressos no Cinema São Luiz que, segundo ele, "deveria ter adotado o mesmo sistema de precificação do Cinema do Museu, já que se trata de um festival e como recebe muitos estudantes, também deveriam ter pensado nisso", afirmou o estudante.
Já o estudante Morgan Leon, de 21 anos, ressaltou que "o tema não poderia ter sido outro após a situação atual que se vive no Brasil, ainda mais depois de um filme como Aquarius, que critica o sistema e não só faz o espectador fugir da realidade como também debater os assuntos". Por outro lado, Morgan desaprovou o preço dos ingressos no Cinema São Luiz que, segundo ele, "deveria ter adotado o mesmo sistema de precificação do Cinema do Museu, já que se trata de um festival e como recebe muitos estudantes, também deveriam ter pensado nisso", afirmou o estudante.
Para o também estudante Daniel
Oliveira, de 25 anos, que conheceu o festival por acaso ao passar
pela rua do Cinema São Luiz, o Janela possui uma dupla importância: "não é bom somente para a
desenvoltura cultural e econômica, visto que o cinema pernambucano tem uma
tradição de engajamento enorme. Mas o que faz chamar atenção é o fator de que os
cinemas de rua precisam sim de público não apenas em festivais", disse.
De fato, o Janela é um festival local que agrada muito mais
o seu público do que o contrário. É através dele que muitos filmes antigos
chegam ao conhecimento popular e que novos cineastas, não apenas locais
como também internacionais, podem começar a exibir o seu trabalho em corrida
competitiva (vide Tatuagem, de Hilton Lacerda, entre
outros).
Este é só o começo de mais uma jornada no Recife, e ainda traremos mais comentários sobre as mostras especiais que serão exibidas, até mais.
Fotos: Divulgação/IX Janela Internacional de Cinema do Recife
Este é só o começo de mais uma jornada no Recife, e ainda traremos mais comentários sobre as mostras especiais que serão exibidas, até mais.
Fotos: Divulgação/IX Janela Internacional de Cinema do Recife