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[Crítica] Perdido em Marte


Cinco anos depois de uma série de filmes irregulares como Robin Hood, Prometheus (muita gente vai piar, mas enfim...), O Conselheiro do Crime, e Êxodo: Deuses e Reis (provavelmente o pior filme de sua carreira), o cineasta Ridley Scott demorou, mas finalmente acertou a mão em Perdido em Marte. Diferente da costumeira seriedade que reside no tom das obras do diretor, a produção é uma ficção científica que aposta muito no humor e na despretensão.

Após ser atingido por uma tempestade em Marte e dado como morto, o astronauta Mark Watney (Matt Damon) é abandonado por sua equipe da missão Ares III. Entretanto, ele sobrevive e consegue retornar até a base de operações instalada no planeta. Não demora para que Watney perceba que as comunicações com a NASA foram cortadas; que a comida durará algumas semanas; e que uma missão de resgate vinda da Terra demoraria anos para busca-lo. Logo, ele precisará utilizar suas habilidades como botânico e engenheiro para cultivar o solo marciano, produzir água, e tentar estabelecer algum contato com seu planeta natal. Enquanto isso, ao descobrirem que Watney está vivo, o diretor da NASA Teddy Sanders (Jeff Daniels) e seus subordinados Annie Montrose (Kristen Wiig), Mitch Henderson (Sean Bean), e Vincent Kapoor (Chiwetel Ejiofor) precisam decidir se resgatam ou não o astronauta em Marte, e se sim, como farão isto. Caberá a Melissa Lewis (Jessica Chastain), comandante da missão Ares III, a palavra final quanto a voltar para buscar Watney.

Baseado no livro homônimo de Andy Weir, o roteirista Drew Goddard entendeu que a história é uma homenagem à engenhosidade humana, utilizando fartamente conceitos de ciência aplicada para desenvolver a corrida de Watney pela sobrevivência naquele planeta hostil, não se preocupando em ser realista, mas de uma maneira bastante lúdica. Além disso, Goddard mantém o humor característico da obra original em sua adaptação, proporcionando momentos engraçados e tornando o filme divertido de ser assistido. E chega a ser estranho constatar tanta espirituosidade em um filme de Ridley Scott. Diretor que tem uma vasta experiência em ficção científica demonstrada em obras como Alien: O Oitavo Passageiro, Blade Runner: O Caçador de Androides e Prometheus, o cineasta faz aqui um filme totalmente diferente destes três últimos no que diz respeito ao tom descontraído, mas que também não deixa a desejar no tocante ao aspecto visual. Scott é um esteta e filma as abrasadas paisagens de Marte (que, na verdade, é Wadi Rum, na Jordânia) com extremo preciosismo, auxiliado pelo diretor de fotografia Dariusz Wolski. Destaque também para o design de produção de Arthur Max, a direção de arte de Marc Homes e a decoração de set de Celia Bobak e Zoltán Horváth, que conceberam autenticidade aos cenários da base de operações e da estação espacial da missão Ares III.

Para que o projeto funcionasse de fato, além de um diretor competente e um roteiro perspicaz, era preciso que houvesse um ator capaz de carregar o filme nos ombros. E Matt Damon foi uma escalação de gênio por parte dos realizadores. Além de ser extremamente talentoso, o intérprete convence-nos no papel de um homem resiliente que faz de tudo para manter-se vivo e com a esperança de que virão resgatá-lo. Embora notemos, em certo momento da narrativa, que o ator usou um dublê de corpo para as cenas em que fica evidente uma gritante perda de peso, isto não compromete sua performance. Damon é uma personalidade espontânea, e ele injeta uma dose dessa espontaneidade em seu personagem, fazendo com que assistir a luta de Mark Watney pela sobrevivência não seja uma tarefa penosa e chata. Ainda que conte com um elenco de apoio brilhante, o ator consegue fazer com que não seja ofuscado por seus colegas e, dessa forma, entrega um dos personagens mais marcantes de sua carreira.

Fazendo jus ao termo "ficção científica", Perdido Em Marte é um exemplar único e original do gênero. Um filme espirituoso, interessante e despretensioso, este foi um grande acerto na carreira de Ridley Scott, que estava precisando entregar algo ao público depois de proporcionar experiências esquecíveis. Vamos ver se, com a continuação de Prometheus, a época de vacas gordas continua para o cineasta.

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