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[Crítica] Samba


Imigração, seja nos dias atuais, seja séculos atrás, sempre é tema recorrente em grandes metrópoles ao redor do mundo. A busca implacável por novas oportunidades e uma qualidade de vida melhor é o sonho de muita gente que deixa para trás suas origens na esperança de, quem sabe, encontrar a galinha dos ovos de ouro num futuro completamente hostil e desconhecido.

Samba (Omar Sy, de Intocáveis) é um imigrante senegalês que vive há dez anos na França e, desde então, tem se mantido no novo país às custas de pequenos empregos. Alice (Charlotte Gainsbourg, de Ninfomaníaca), por sua vez, é uma executiva experiente que tem sofrido com estafa devido ao seu trabalho estressante. Enquanto ele faz o possível para conseguir os documentos necessários para arrumar um emprego digno, ela tenta recolocar a saúde e a vida pessoal nos trilhos, cabendo ao destino determinar se eles estarão juntos nessa busca em comum.

É baseando-se na narrativa da sobrevivência acima de qualquer outra prioridade que Samba conduz seus minutos em tela como uma genuína e agradável crônica da vida moderna. Apesar das dificuldades de seus protagonistas, é através de seus anseios e sonhos mais improváveis que somos introduzidos às vidas de Samba, Alice e de outros tantos personagens que funcionam tão bem quanto estes; se o dia seguinte é incerto e completamente sombrio para o "casal" principal, é nas figuras de Wilson (Tahar Rahin, de O Passado) e Manu (Izïa Higelin) que encontramos uma leveza certeira para o roteiro de Samba, que traz de maneira correta e pontual o equilíbrio entre drama e comédia como poucos. Aliás, ainda que possa encaixar-se no gênero da comédia, o longa não se contenta em dar a seus personagens histórias rasas e frias.

No meio de tantas incertezas e dramas, os diálogos entre Samba e Alice são um verdadeiro deleite: entre estereotipados históricos de histeria dela e de trambiqueiro dele, nasce uma relação mútua de respeito e curiosidade, passando por várias fases ao longo da película. O mesmo padrão de desenvolvimento se repete para cada personagem secundário de Samba, que nunca faz aparições ou mesmo pequenas participações de forma vã. É incrível como em um curto espaço de tempo o roteiro consegue trabalhar as várias facetas de todas as suas peças, dando espaço para não uma, mas várias reviravoltas que soam completamente genuínas. Aos poucos, e de forma bastante orgânica, nos importamos com cada um deles e com o que o destino, que já se mostrou traiçoeiro, os reserva. De repente nos encontramos lado a lado, brindando, dançando e desejando que o futuro traga com ele dias melhores.

Tecnicamente, Samba é um verdadeiro show de imagens. Apostando massivamente em planos abertos, a direção de Olivier Nakache e Eric Toledano (ambos de Intocáveis) faz questão de deixar o espectador imerso naquele mundo em que vivem os protagonistas, nos fazendo adentrar segundo a segundo em seu universo, sem reservas. Mas talvez, uma das grandes belezas do filme faz-se sentir por sua fotografia, em tons vivos e extremamente agradáveis todo o tempo. Ainda que a tristeza seja companhia constante, as cores impostas pela paleta de Stéphane Fontaine (Ferrugem e Osso) nos recorda o tempo todo que, apesar das intempéries, é da alegria que falamos.

Um dos filmes mais aclamados em seu país de origem no ano de 2014, Samba é mais um dos belos exemplares do que o cinema francês é capaz de fazer com temas aparentemente simples, transformando-os numa explosão de sensibilidade e técnica. Com um elenco que respira e exala simpatia, é impossível não apaixonar-se, fazendo de Samba um dos filmes mais sinceros que você verá este ano.

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