[Resenha] Novembro de 63
O horror não escolhe época.
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O horror não escolhe época.
Há alguns anos, ao terminar de ler A Dança da Morte, passei a me perguntar se seria possível voltar a ler um Stephen King tão inspirado como aquele. Não que eu estivesse duvidando da força imagética da escrita dele - os bons Sob a Redoma e Celular me fizeram esquecer bombas presunçosas como Duma Key e Buick 8 -, mas é que havia algo de muito errado nos romances longos do mestre. No entanto, a premissa de Novembro de 63 saltou aos meus olhos assim que foi anunciada. King escrevendo sci-fi de raiz, com viagens no tempo, teorias da conspiração, um breve retorno a Derry - sem Pennywise, mas ainda sim um retorno pontual - e personagens que de certa forma traziam um inspirado sopro de empatia, era a fórmula certa para voltar à boa forma.
Novembro de 63 conta a história de Jake Epping, um professor de inglês que recebe a estranha missão de voltar no tempo, mais precisamente para o fim da década de 50, e impedir a morte de JFK. O problema é que existem regras para que ele consiga terminar o que foi fazer no passado. Regras rígidas e inexplicáveis que podem desencadear um efeito borboleta brutal e catastrófico na nossa realidade. Jake também não sabe que, indo até 1958, uma história que está intimamente ligada ao seu destino como o homem que é hoje começa a tomar forma. Entre um amor atemporal e o lado mais obscuro da alma humana, o calmo professor de Lisbon Falls tem o futuro do universo (ou vários deles) em suas mãos.
Com uma escrita ágil e meticulosa, King não só nos faz enxergar Jake como um herói casual multifacetado como consegue dar nuances a cada um dos coadjuvantes que entram no seu caminho. Assim, não demora muito para percebermos que cada uma das pessoas ali apresentadas tem um papel importantíssimo para a narrativa, seja nas continuações dramáticas mais urgentes, seja naquelas mais tardias e que se desenvolvem lá pela segunda metade do romance.
Mesmo estabelecendo as regras das viagens temporais como intransponíveis, a condução da trama passa a ser tão imersiva que, de uma forma ou de outra, você vai se ver junto de Jake tentando encontrar uma brecha para burlar os eventos que, em tese, sempre serão inevitáveis. Neste ponto, a mitologia que o autor cria por detrás do misterioso Homem do Cartão Amarelo e do agourento JIMLA imprime algo tão assustador no centro dos eventos principais, que os arrepios e aquele receio de ler certas passagens no meio da noite não passarão a ser incomuns.
Surgindo ainda como um inspirado estudo de um dos maiores eventos da história americana, bem como de uma época onde o mundo começava a assumir forma e conceitos que até hoje são repercutidos na nossa forma de pensar, Novembro de 63 pode ser rotulado como uma das obras mais redentoras de Stephen King, talvez um dos contos mais genuínos já escritos sobre os horrores do tempo. Ações e reações como forças motrizes de uma roda maior que nunca parou de girar e nunca será imutável: a vida.