[Review] Game of Thrones 5x05/06 - Kill the Boy/Unbowed, Unbent, Unbroken
Sozinhos no mundo.
http://siteloggado.blogspot.com/2015/05/review-game-of-thrones-5x055x06-kill.html
Sozinhos no mundo.
Entra ano e sai ano, mas a certeza que sempre teremos é a de que na época em que Game of Thrones estiver no ar, polêmicas serão garantidas. Variando desde a incompreensão (já preguiçosa) do termo adaptação até a nova cena (supostamente misógina) de violência contra a mulher, o debate é aberto, porém infelizmente nunca no sentido bom da comoção. Revoltas seletivas à parte, o importante é que os dois últimos episódios dessa quinta temporada mantêm de forma mais compassada o nível de grandeza atingido nas primeiras horas, desacelerando somente quando necessário. Assim, tanto Kill the Boy, quanto Unbowed, Unbent, Unbroken, pavimentam o terreno para o que deve fechar a maioria das novas tramas iniciadas.
No meio de tanta teoria canônica na obra de Martin, é impressionante notar que o texto de Bryan Cogman escolhe justo a Perdição de Valíria para ser combustível da jornada de Tyrion e Sor Jorah. Nas sequências que primam pelo espetáculo visual e falam mais sobre a história dos Targaryen, é quase impossível não perder o fôlego. O cuidado assombroso com a qualidade dos efeitos visuais no mais novo e imponente voo de Drogon dá até um comichão nos olhos. Os Homens de Pedra também fazem uma aparição importante e deixam sua marca num dos viajantes, o que pode sim ser determinante para o futuro da trama na Baía dos Escravos. Mesmo rápidas, as reviravoltas que direcionam o anão e o velho urso de Daenerys para Meereen me agradaram bastante, funcionando como belíssimas rimas para suas contrapartes nos livros.
A mesma coisa acontece em Porto Real. Alterando pontualmente partes do plano de Cersei na obra original, Game of Thrones nos dá o prazer da presença sempre bem-vinda de Olenna Tyrell. Logo, nem preciso adiantar que os embates verbais entre a Rainha dos Espinhos e a leoa Lannister foram fantásticos. O julgamento de Loras e a prisão de Margaery são duas vitórias de Cersei numa partida só, mas a rainha-mãe nem sonha que, estando Olenna e Mindinho juntos na capital de Westeros, ela definitivamente se encontra mais sozinha do que nunca. Se os dois foram responsáveis pela morte de Joffrey, quando Tywin ainda estava vivo, imaginem o que eles devem planejar agora. Mindinho provavelmente jogará por debaixo dos panos para garantir o domínio de Sansa em Winterfell, e com a ajuda de ninguém menos que Olenna. A promessa feita a Cersei é tão vazia quanto todas as outras que ele já fez um dia.
Nos núcleos mais ao sul de Westeros, é uma pena ter que admitir o quanto Dorne está truncada. A dupla Jaime e Bronn continua excelente, porém castings essenciais como os das Serpentes de Areia, põe tudo a perder. Com expressividade zero, as filhas do saudoso Oberyn Martell estão mais para adolescentes birrentas do que para as mortais guerreiras que herdaram toda a esquiva inteligência do pai. O príncipe Doran também não teve muito o que fazer, ficando aquela sensação estranha que já fez parte, por exemplo, das primeiras aparições de Stannis lá na segunda temporada, ou mesmo dos Greyjoy. O pior é que, nessa altura da temporada, não conseguiremos simpatizar com os Martell e a sensação de trama inchada será inevitável. No fim, vou aguardar um plot que coloque Jaime na evidência que ele merece.
A mudança mais corajosa feita até hoje em Game of Thrones, sem dúvidas, foi no plot central de Sansa Stark. No retorno inspirado para Winterfell - rendendo nostálgicas cenas nas tumbas do castelo ou mesmo numa certa torre abandonada -, a jovem loba encontra desafios mais assustadores do que Joffrey. Ao aprendermos, durante três temporadas, sobre o sadismo de Ramsay, torna-se inevitável temer pelo futuro de Sansa. Logo, quando até mesmo Roose Bolton tenta podar a psicopatia do bastardo, não figura como surpresa o destino da garota durante sua noite de núpcias. O encontro entre Sansa e Theon também é forte o bastante para despertar emotivas lembranças de um passado onde a família de Ned Stark nem sonhava com a espiral de tragédia que se iniciou durante a visita de Robert Baratheon. Alfie Allen, Sophie Turner e Iwan Rheon protagonizam com maestria um dos momentos mais desconfortáveis da temporada, ao demonstrarem uma entrega dramática desconcertante.
Com Brienne e Podrick nos arredores de Winterfell, a máxima "o norte se lembra" começa a ecoar na possibilidade animadora de um embate entre ela e os Bolton. Sei que a cavaleira não vai se precipitar e invadir o castelo de uma hora para outra, porém, o que me deixa mais animado é saber que num futuro, não tão distante, Brienne pode ter ajuda de Stannis, o rei que ela jurou matar, para vingar a morte de Renly. A complexidade de tramas que virão a se chocar na confluência de tantos núcleos no centro nortenho é de certa forma novidade até para quem leu os livros. Podemos, então, colocar mais esta boa na conta dos roteiristas.
Ainda sobre Stannis, tem-se que elogiar Stephen Dillane. Depois de amargar avanços pífios de trama por três anos, a convivência com os patrulheiros rendeu muitas boas cenas para o rei. A admiração que ele nutre por Jon Snow funcionou como um ponto de identificação bem mais forte do que a relação clichê com a filha, e Dillane expressa isto com um olhar quase comovente. A princesa Shireen funciona bem como uma ponte para Davos, que ao meu ver só tem boas cenas quando conversa com a garota. Melisandre é outra personagem que ganhou com a mudança de ares, e mesmo que eu continue não simpatizando com Carice van Houten, é inegável o quanto nos interessamos mais pelo que a sacerdotisa vermelha tem a dizer. A partida de toda a comitiva real para Winterfell é outro dos momentos que podem ser equiparados, em imponência, às maiores tomadas de Senhor dos Anéis.
Junto da simpatia recém conquistada por Stannis, o comando de Jon Snow vem fazendo da Patrulha da Noite algo surpreendentemente interessante. O resgate dos selvagens que ele planeja marginaliza Snow perante todos os irmãos negros, e algo não muito agradável pode sair do descontentamento quase que unânime. Meu diálogo favorito em Kill the Boy, por exemplo, é justo aquele que dá nome ao episódio e tem meistre Aemon como protagonista. Pontual também é a cena em que o comandante convence Tormund a partir para Durolar. Um jogo diplomático, mesmo com toda a ofensiva predileção do selvagem por insultos. Estar diante de um ano onde núcleos que outrora se agigantavam pela chatice agora se desenvolvem de forma tão promissora, só reforça o quanto Game of Thrones cresceu com o tempo.
Por fim, ao guardar a fantasia e o engodo político para Arya e Dany, respectivamente, Game of Thrones atinge ápices poucas vezes vistos numa obra do gênero. A sala dos rostos na Casa do Preto e Branco me deu arrepios, e o treinamento de Arya segue fielmente a sua escalada solitária nos livros. Mesmo tomando um tom quase metafísico, as perguntas do Jogo que ela quer fazer parte - aqui, a habilidade de mudar de rosto -, conferem todo aquele clássico aspecto de jornada do jovem guerreiro. Maisie Williams vai conduzindo a personagem por um futuro sombrio com a energia que já nos fez tomar Arya como uma das melhores coisas da série desde o início, não tendo, assim, como não reparar em cada detalhe do seu novo lar.
É o que Emilia Clarke felizmente, hoje, também consegue fazer por Daenerys. O churrasco de mestres escravagistas, oferecido para os seus dragões, firma o poder da rainha em Meereen com terror. Só que não demora muito para Missandei abrir os olhos de Dany para o que pode vir acontecer se ela seguir por esse lado. A morte de Sor Barristan é algo forte mas necessário para o crescimento dela, e reabrir as arenas de luta é sim a decisão mais acertada. Tradições quebradas quase extinguiram a família de Dany no passado, e mesmo que a contragosto dos seus ideais, é chegada a hora da Mãe de Dragões tornar-se política.
Definindo-se como a busca solitária e brutal da qual todos os seus jogadores fazem parte, Game of Thrones continuará sendo o que é sem adentrar nas contradições vazias que os próprios incitadores de polêmica buscam vender. Uma das melhores séries no ar, incompreendida por aqueles que digamos "gostam de ver o circo pegar fogo". Isto, meus caros, é um fato.