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[Review] American Horror Story: Freak Show 4x01 - Monsters Among Us

“ Life on Mars! ”


Life on Mars!

Quando Tod Browning trouxe para a MGM a primeira versão de Freaks, o ano era 1932 e as imagens escandalizadoras de pessoas com deformidades reais protagonizando um filme chocaram a sociedade da época, que era regida por cruéis tabus. Ao revelar que a quarta temporada de American Horror Story seria ambientada num show de horrores, Ryan Murphy não só evocou o espírito da obra de Browning - os freaks mudaram, mas o preconceito é o mesmo -, como também deixou claro que a mesma voz que o diretor tentou oferecer para aquelas curiosas personagens seria o mote principal de Freak Show.

Sendo assim, peguem a equipe responsável pelo esmero técnico dos anos anteriores; o ambicioso patrocínio do FX; a dupla Murphy/Falchuck assinando o roteiro; o já consagrado elenco. Então, o espetáculo ganha vida como uma inspiradora ode ao deslumbre circense que é e sempre será fonte dos maiores horrores de uma época onde o “sonho americano” começava a mostrar rachaduras na sua sisuda pintura de mentiras e falsas concessões.

A primeira onda de arrepios tem início ao ouvirmos a voz suave de Sarah Paulson narrando em off sua descida ao inferno numa tarde de setembro. Sarita vem em dose dupla interpretando as gêmeas siamesas Bette e Dot Tattler, e os primeiros minutos deste quarto ano já dão o tom de Freak Show com uma precisão cirúrgica. Murphy abandona os seus costumeiros tiques como diretor e faz bonito ao conduzir a câmera pela casa dos Tattler e pelos corredores de um hospital, numa cold open enviesada pela própria condição das gêmeas, mesmo que as mesmas só façam a primeira aparição quando a abertura tem início.

Bette e Dot dividem o mesmo corpo, mas não a mesma personalidade, e o roteiro é genial em apresentar essas informações (adeus didatismo de Coven!). É também com um sorriso no rosto que encontramos, nessas primeiras cenas, a alma de American Horror Story. Sim, estou falando de Jessica Lange. Se apresentando como fraülein Elsa Mars, a dona de um show de horrores que acaba de chegar à pequena Jupiter, a senhora alemã oferece às duas irmãs uma chance de fazer história e de se livrar dos sombrios acontecimentos que as revelaram ao mundo. A homenagem que Ryan Murphy presta a Brian De Palma ao utilizar a split-screen para dar vida aos diálogos entre Elsa, Bette e Dot é um show a parte e só reforça ainda mais a marca imagética da narrativa da série.

Se Evan Peters não teve muito que fazer como Kylestein em Coven, o mesmo não pode ser dito sobre o garoto lagosta Jimmy Darling. Surgindo na primeira meia hora como um dos integrantes do show de Elsa, o jovem inicialmente parece apenas um galã a la Elvis, porém a sua deformidade - uma distrofia nas mãos, que lembra patas de lagosta - lhe confere um trabalho bem peculiar numa casa de massagem para donas de casa dos anos 50. Jimmy, no entanto, é a figura masculina responsável por manter a ordem no show de horrores, e a segunda metade de Monsters Among Us dá um forte material para Peters, que promete ser tão presente nesta temporada quanto Paulson e Lange.


O universo de Freak Show dá seu primeiro giro quando Bette e Dot atravessam simbolicamente as portas do infernal espetáculo de Elsa. E falo simbolicamente porque, a despeito do totem demoníaco que adorna a entrada do show de horrores, nada lá dentro lembra desespero, agonia, ou sofrimento. É uma família que conhecemos por lá. É a família da fraülein. A partir daqui, Jessica Lange desconstrói sua Elsa Mars, que por mais cínica - a chantagem com a orgia, foi pesada - e egoísta que possa parecer, nunca deixa de colocar a segurança e integridade dos seus peculiares protegidos em primeiro lugar. O número ao som do cover de Life on Mars de David Bowie representa este lado de Elsa com um tom fascinante.

Como eu comentei anteriormente, Jimmy também se destaca ao proteger as gêmeas de um policial e ao se colocar mortalmente na frente de qualquer um que venha ameaçar sua família. Ver a relação do rapaz com Bette e Dot será um dos pontos altos da temporada! Bem como a interação entre Elsa e Ethel Darling, a mulher barbada vivida pela monstra Kathy Bates, que consegue emocionar no mais momentâneo dos olhares marejados. A última conversa entre ela e Elsa, por exemplo, deixa um nó na garganta que vai ser difícil de sustentar mais para frente.

Fazer horror em circo sem um palhaço assassino, não está certo. Portanto Freak Show tenta e consegue, com louros, dar vida a uma das maiores fobias do terror. O medonho antagonista desta temporada é capaz de meter medo até no Bloddy Face. No pouco e aparentemente deslocado tempo de tela que o maníaco aparece, já dá para pensar em inúmeras maneiras de evitar que a luz do quarto não se apague de noite. O troço é realmente sinistro. Porém, mais ousado ainda é a decisão do roteiro em apresentar o palhaço pela primeira vez em plena luz do dia. É para deixar qualquer um sem escapatória.

American Horror Story é, sem sombra de dúvidas, a série mais inventiva e ambiciosa da TV americana, entregando ano após anos emocionantes e perturbadores contos sobre o que de mais incômodo existe na nossa cartilha do medo. Freak Show promete, com este primeiro episódio, consertar o posto que Coven insistiu em danificar. A Cabine de Curiosidades da fraülein Elsa Mars acabou de abrir, mas eu comprei minha entrada já faz um bom tempo, portanto ficarei até o fim do espetáculo. E vocês?

P.S.1: Gloria e Dandy Mott, mãe e filho almofadinhas que, se brincar, são mais freaks do que todos os integrantes do show de horrores. Ah e que saudades eu estava da Frances Conroy.

P.S.2: No momento, vou ficar esperando mais cenas dos freaks reais da série! Quem viu os documentários especiais sabe bem do que eu estou falando.

P.S.3: Tio Ryan apressado já disse que tem dica do próximo tema da série nesse episódio. Peguei referência a uma prisão, mais precisamente ao corredor da morte! Será?

P.S.4: A abertura, este ano, é animada e em stop-motion!! É pra chorar de orgulho.


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