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[Crítica] Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário

Contém spoilers ... e algumas reclamações.


Contém spoilers... e algumas reclamações.

Depois de muito tempo de espera, especulações e preocupações por parte de alguns fãs, Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário finalmente chegou aos cinemas nacionais. O filme, sexto da série e o primeiro em CG, foi um reboot da primeira saga do mangá feito com a intenção de atrair novos fãs. O que dificilmente vai acontecer como se planejava.

As características principais do filme foram o ritmo acelerado e o grande número de mudanças, que em sua maioria foram geradas exatamente pelo ritmo. Mas vamos começar falando da velocidade da trama. Uma hora e meia é um tempo curtíssimo, e para que um filme funcione nesse pequeno espaço de tempo, é necessário que a sua história não seja muito grande, cheia de detalhes, ou pelo menos que não sejam necessárias muitas explicações para entender o enredo. E Os Cavaleiros do Zodíaco não é assim. São 43 capítulos no mangá e 73 episódios no anime, ou seja, mesmo sem contar os fillers, ainda existe uma enorme quantidade de eventos e interações que são necessárias para que o desenvolvimento da história faça sentido; e a maioria dessas coisas foram cortadas.

No primeiro momento isso não parece um grande problema, e a primeira parte do filme (antes da ida ao santuário) é de fato muito boa. Vemos Aioros tentando salvar Atena, e depois somos apresentados aos personagens principais em uma batalha extremamente dinâmica e divertida de assistir. O problema é que a partir daí é jogada no telespectador (e jogada é uma expressão bem precisa) uma quantidade enorme de informações, sem tempo para que tudo seja absorvido. E a situação não melhora muito na segunda parte do filme. Apesar de alguns momentos fantásticos durante o confronto nas doze casas (Hyoga x Camus e Seiya x Aioria), o ritmo acelerado, acompanhado de alguns furos na história, só piora; criando combates rápidos demais e um confronto final que, de forma alguma, pareceu ser difícil. E sendo um pouco mais específico nos exemplos, um dos absurdos que esse ritmo gerou foi o fato de que o Tatsumi possui mais falas do que Ikki e Afrodite juntos.

Mas esquecendo um pouco do ritmo e olhando as mudanças feitas, o filme quase sai com saldo positivo. Por se tratar de um reboot e por ter uma duração tão pequena, todos sabíamos que a história teria que ser mudada e coisas desapareceriam, e o fato de que algumas mudanças deram muito certo me agradou enormemente enquanto assistia o filme. Começando pelo tom da obra: A Lenda do Santuário é muito menos dramático e mais focado na comédia do que a série original. Eu, particularmente, preferiria o drama original, mas a comédia deu muito certo. Não foi forçada demais e em alguns momentos me fez rir de verdade. Talvez encaixar os momentos cômicos no curto tempo fosse mais fácil do que aumentar a carga dramática, mas o que importa é que ficou bem feito. Uma alteração que eu realmente não esperava até a confirmação há algum tempo atrás, e que também me agradou, foi o fato que no filme o Milo, cavaleiro de ouro de Escorpião, é de fato a Milo, amazona de ouro. A personagem ficou bem interessante, sua personalidade foi até mais semelhante com a da sua versão masculina do que a de outros cavaleiros de ouro em sua comparação com o mangá (falarei do Máscara da Morte mais tarde). Sempre me perguntei por que não havia uma amazona de ouro entre os doze mais fortes, e gostei de ver que essa dúvida não precisa mais existir. Outra boa mudança foi a aparência das armaduras. Desde que as primeiras imagens foram reveladas, eu já estava adorando os novos modelos: extremamente detalhadas, visivelmente mais modernas e com cores incríveis, as armaduras dos cavaleiros de bronze e ouro foram um espetáculo a parte.


Mas nem tudo ficou bom. E algumas coisas realmente me aborreceram durante o filme. Começando pela maior decepção: o que fizeram com o Máscara da Morte? Sua personalidade foi completamente alterada, o “momento musical” do qual ele fez parte tinha intenção de ser cômico, mas acabou virando a piada em si. Essa mudança foi desnecessária, mal feita e decepcionante para todos aqueles que gostam da personagem. Outros que também sofreram com o enredo foram Shun e Ikki. A dupla de irmãos foi basicamente ignorada e não tiveram nenhum momento importante no filme. Shun, no confronto original das doze casas, foi um dos cavaleiros que mais se destacou salvando a vida do Hyoga e derrotando sozinho um dos cavaleiros de ouro, mas no filme ele não serviu para nada. Ele só admitiu ser fraco enquanto enfrentava o Shura, e quando finalmente ele mostraria seu poder, a luta foi interrompida por Ikki. Que apesar de todo a força que possuía na obra original, só apareceu três vezes no filme, e na hora em que ia combater um cavaleiro de ouro e poderia ter se destacado, acabou sendo espancado em dois segundos.

Outro que também foi ignorado pelo filme foi Afrodite. Diferente do mangá, onde Afrodite sabia de tudo e mesmo assim escolheu proteger Saga, no filme ele foi mais um dos enganados pelo cavaleiro de Gêmeos, e quando descobriu tudo, foi derrotado pelo golpe mais fraco do geminiano. Tudo bem que Saga estava usando o cosmo de Atena e que, afinal de contas, segundo a internet, o pisciano não morreu, mas parece que Kurumada realmente não gosta dos cavaleiros originais de Peixes e Câncer. Logo após a aparente morte de Afrodite, o combate final teve seu início, e devo compensar que foi outra decepção. Seiya também possuía o cosmo de Atena em seu corpo (não sei como, já que Saga havia roubado quase tudo) e lutou contra Saga de uma maneira completamente incoerente com o que vinha acontecendo até aqui. E esse é um problema grande que devemos considerar: o poder dos cavaleiros de bronze durante quase todo o combate nas doze casas foi coerente com o desenvolvimento quase nulo que apresentaram durante o filme (exceção foi Hyoga, que superou Camus de maneira absurdamente rápida, e Shiryu, que acabando parecendo ser muito superior a Máscara da Morte), e nesse período o Seiya somente apanhou. Um pouco do cosmo de Atena e do cosmo dos outros cavaleiros de bronze até poderia estar nele, mas falar que aquilo é o bastante para enfrentar o Saga é subestimar o intelecto de quem está assistindo.

Entretanto, falar que o último combate do filme só teve problemas não é necessariamente verdade. Não teve sentido, é verdade, mas o tom épico que teve foi interessante. Não entendi como ou por que o Saga se fundiu aos destroços do santuário e se tornou uma espécie de final boss de rpg monstro, mas esse elemento foi um dos poucos que acabou tornando tudo mais dramático neste filme. A cena em que Seiya usa a armadura de Sagitário também contribui com isso, além de ser um choque de nostalgia para aqueles que viram isso pela primeira vez há muito tempo atrás no anime.

A verdade é que é difícil dar nota para este filme. O fato de ver Os Cavaleiros do Zodíaco no cinema e em uma adaptação tão visualmente incrível, afeta meu julgamento. Mas o filme teve problemas. Alguém que nunca tenha lido ou visto nada da obra original, dificilmente entendeu o filme todo, e alguns furos na história só pioram isso. Nas adaptações tivemos muitas que ficaram boas, e outras que foram péssimas, o que também divide a opinião dos fãs antigos. A verdade é que Os Cavaleiros do Zodíaco: A lenda do Santuário é um espetáculo visual e nostálgico, que merece continuação. Mas que, apesar dos acertos, acabou falhando em alguns pontos importantes. Foi interessante e divertido, mas desperdiçou o potencial que tinha para ser algo fantástico.

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