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[Crítica] Os Mercenários 3


Um discurso é mantido durante toda a projeção do terceiro capítulo da franquia Os Mercenários: a troca de gerações. É como se Sylvester Stallone e sua trupe realizassem, nesta obra, uma reflexão a respeito do fim próximo de suas próprias carreiras, cujo estilo cinematográfico deixou de ser sucesso há anos, em pretensão do surgimento de novos astros e estilos de realização no gênero. Na trama, o grupo mercenário tradicional está prestes a sair de cena, e seu líder busca novos integrantes para realizarem os serviços que a organização sempre se propôs a realizar. Previsivelmente, a velha geração não aceita deixar a ação assim, tão fácil, ainda que precise arriscar-se além do seguro e recomendável para manter-se sob os holofotes. A ficção imita a a realidade.

Pessoalmente, eu adoro esta onda da volta dos antigos astros ao protagonismo de novas produções, sobretudo com seus voos individuais mais recentes - O Último Desafio e Rota de Fuga são bons exemplos disto -, e entristece-me notar como, recebendo novas chances, eles estão voltando a cair no ostracismo com seguidos fracassos comerciais. É como se, na mentalidade pós-moderna do público, o próprio aspecto pós-modernista de nostalgia e repetição fosse negado, e não houvesse mais espaço para estas "peças de museu". Para conseguir ultrapassar esta má-aceitação, surgiu, em Os Mercenários 3, uma tentativa de não mais resgatar os estilos passados, mas adaptar-se ao contemporâneo, ainda que mantendo os nomes da velha geração. Aí é que mora o perigo.

No terceiro capítulo da série, a estrutura do segundo filme é claramente repetida. O primeiro ato acompanha um conflito inicial (com algum membro da gangue sendo atingido e dando as motivações para a vingança contra o vilão da trama) e foca-se na reunião das personagens - neste caso, com adição de novas figuras - e na preparação da missão de vingança durante o segundo ato, levando todo mundo para um território isolado - provavelmente, um prédio abandonado - para o cumprimento desta missão, que é, basicamente, deter o vilão, no ato conclusivo. Se a estrutura remete à produção de 2012, que funcionou tão bem, a qualidade do longa aproxima-se mais do original, lançado em 2010, e provocador de certa decepção em meio às expectativas criadas. Aqui, o vilão é Stonebanks (Mel Gibson, de Machete Mata), antigo fundador do grupo, junto de Barney Ross (Sylvester Stallone, de Rota de Fuga), mas que, após desavenças, deixou o mesmo e até então era dado como morto, até que voltou misteriosamente, deixou Caesar (Terry Crews, de Juntos e Misturados) à beira da morte e rachou o grupo, obrigando Ross a recrutar jovens substitutos para eles na missão de vingar-se de Stonebanks. Ele mexeu com quem não deveria.

O movimento anti-vanguardista iniciado com o longa original e continuado por uma série de outras produções, segue uma série de "mandamentos" para cumprir os seus objetivos, e é como se Os Mercenários 3 fugisse da maior parte deles. Isto deveria ser bom, fugir do lugar-comum, certo? Errado. Neste caso, errado. Numa tentativa de modernização e adaptação aos novos públicos, a produção adotou a censura PG-13, livrando-se de boa parte da violência presente nos capítulos anteriores da franquia. Não que a retratação da violência deva ser incentivada, mas isto ocasionou uma perda de aura. Tirar o veterano Simon West (de Os Mercenários 2) de cena para jogar a responsabilidade nas mãos do pouco experiente Patrick Hughes (de Busca Sangrenta) também não provou-se uma decisão louvável. Por fim, a adição de tecnologia e personagens jovens à trama parece extremamente deslocada, artificial, quando não há qualquer química com os personagens veteranos, já estabelecidos, e ainda afasta a fita de sua proposta original - realizar uma homenagem ao estilo e astros consagrados no gênero -, fazendo o projeto perder legitimidade. Sabe quando um sujeito de 60 anos tenta artificialmente agir como um jovem, para encaixar-se numa espécie de estereótipo social, de maneira até risível? Então, numa analogia das mais pobres, é possível compreender o que aconteceu.

Este texto não tem a intenção de pintar Os Mercenários 3 como um desastre, porém. Apesar de uma série de decisões reprováveis, há vários elementos capazes de provocar divertimento no longa. A interação entre certos personagens, especialmente Barney, Lee Christmas (Jason Statham, de Linha de Frente) e Trench (Arnold Schwarzenegger, de Sabotage) segue interessante e divertida, mantendo o espírito fraterno entre o grupo, que ganhou com a chegada de Doc (Wesley Snipes, de Caçador de Almas). Mel Gibson, apesar de um pouco afetado - o sujeito precisa matar alguém de sua equipe apenas para mostrar sua "fúria" -, atribui importante força de ameaça ao elenco antagonista, enquanto Antonio Banderas, em seus eficientes exageros, é um alívio cômico divertido. A comicidade oriunda do personagem é fundamental, uma vez que é o único ponto de humor do longa - o acerto do segundo exemplar, levar-se menos a sério e dar mais espaço para o humor, não é repetido aqui, onde uma atmosfera muito séria atrapalha o projeto.

Quando nos aproximamos dos créditos finais, momento da reunião de toda a equipe no bar tradicional, é possível sentir certa frustração. Não é que aquele universo não nos agrade mais; ao contrário, justamente pelo carinho que sentimos ao ver todas aquelas figuras ali, reunidas e se divertindo, lamentamos pelo clima não ter sido deste jeito, durante toda esta terceira aventura que os reuniu. Caso vocês recebam uma nova chance - e torço por isso -, amigos, lembrem-se daquele conselho tão presente nos filmes-família que tiveram o ápice do sucesso no mesmo contexto de suas produções: Sejam vocês mesmos.


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