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[Crítica] Pompeia

Pelo prazer de um épico.


Pelo prazer de um épico.

Bem como os filmes de guerra, os faroestes e outros estilos de fazer Cinema, o gênero dos épicos está diminuindo, tendo novas obras lançadas com frequência cada vez menor e, aos poucos, restringindo-se a algumas pequenas produções lançadas diretamente em vídeo, que não fazem jus à toda sua história. Estas extinções acontecem pela necessidade da sétima Arte em se renovar e, especialmente, cumprir com as exigências do mercado, quando falamos das grandes produções. Claro que o apoio à reinvenção e, sobretudo, à inovação, dentro da Arte, é necessário, mas será que, para a alcançarmos, necessitamos acabar com o espaço, em nossas telas, para grandiosas histórias como esta retratada em Pompeia? Seria um tanto quanto triste, é verdade.

Ao fundo, avistamos um vulcão, o imponente Vesúvio. Todos conhecem a história, aquela da destruição de Pompeia por este vulcão, e podemos aguardar pela interferência deste ocorrido no desenvolvimento da fita. Mas, na verdade, o Vesúvio reside mesmo ao fundo, como elemento secundário da trama dedicada a acompanhar Milo (Kit Harington, da série Game of Thrones), um jovem gladiador, que luta apenas por sua sobrevivência - a vitória é a vida, a derrota, a morte -, e é celebrado pelo público na arena, seja vivendo ou sendo morto. Condenado a esta vida sem liberdades desde a infância, quando foi raptado após ter tido sua família morta por romanos - no período em que estes sacrificavam o povo Celta -, Milo não almejava grandes coisas. Coincidentemente, a princesa Cassia (Emily Browning, de A Hospedeira), está voltando a Pompeia após sua estada em Roma, e conhece o gladiador, por acaso, mas o cruel senador Corvus (Kiefer Sutherland, da série 24 Horas), deseja apoderar-se dela, o que exigirá de Milo a coragem para enfrentá-lo e conquistar a moça. Em meio a este enfrentamento, surgirá o início do caos.

A cada plano aéreo passado sobre o vulcão, dando indícios de sua erupção iminente para o espectador, o diretor Paul W.S. Anderson (de Resident Evil 5: Retribuição) constrói a tensão, de forma implícita, aos poucos. Da mesma forma, o cineasta, ao lado de seus roteiristas, tem o grande mérito de tornar o causador do desastre um dos elementos menos importantes de sua obra. Conforme a trama se desenvolve, passamos a nos importar mais com cada conflito preparatório vivido por suas personagens, desde as múltiplas batalhas de Milo na arena, até o romance dos protagonistas, em si. O grande desastre serve como a cereja no bolo de tudo isto, o impacto necessário para realizar as grandes motivações finais para suas personagens. E esta surge para coroar esta importância. Diferentemente de boa parte dos filmes-catástrofe atuais, onde pouco importam-nos as personagens e se elas morrerão ou não em seus desastres, nos importando mais com o visual e a grandiosidade de tais explosões do que com os destinos das pessoas nelas envolvidas. Aqui, o fator humano vale um pouco mais, ao menos.

Não que as personagens de Pompeia sejam grandes exemplos de tridimensionalidade, uma vez que partem de arquétipos claros e pré-estabelecidos - o mocinho corajoso que passou por um trauma; a princesa que deseja ter mais liberdade e apaixona-se por um plebeu -, embora haja certos traços de intenção em aprofundá-los - o herói, por exemplo, não é moralmente correto, pois busca vingança contra o senador Corvus pelo que este havia feito com sua família -, no entanto, as performances de Kit Harington e Kiefer Sutherland, especialmente - Emily Browning surge apática - são capazes de provocar os sentimentos necessários no espectador; enquanto o herói é carismático e consegue gerar torcida por ele, seu oponente investe numa composição vocal com arrogância e irritante autoconfiança, capaz de causar irritação no público. O coadjuvante Adewale Akinnuoye-Agbaje, como um outro gladiador sem muitas esperanças, também é capaz de roubar as cenas por algumas vezes. 

O design de produção, assinado por Paul D. Austerberry (de Os Três Mosqueteiros) é bastante eficiente, sobretudo nas construções rústicas e cavernosas dos interiores das arenas, enquanto a fotografia de Glen MacPherson (de Resident Evil 5: Retribuição) utiliza com notável competência o recurso da tridimensionalidade - algo raro nas produções que vendem-se desta forma -, especialmente para destacar a imponência das arenas na entrada dos gladiadores, realizando isto através, justamente, da profundidade elevada. Truque constantemente utilizado por produções do gênero, o slow motion aqui é empregado de forma justificada - somente em duas sequências, para destacar a entrada de determinadas personagens.

Ainda provando-se verossímil na medida do possível - apesar da paixão vivida pelo casal protagonista, nenhum dos dois arrisca tudo por ela em momento algum, conhecendo seus riscos, e, na cena final, dando seu maior exemplo de coragem, ao não sacrificar toda a verossimilhança proposta em função de um final mais agradável -, Pompeia destaca-se mesmo por ser um grande blockbuster de ação a níveis épicos. Se o diretor não aprofunda sua obra, dedicando quase todas as sequências e diálogos iniciados a realizar cenas de ação, cumpre muito bem com esta proposta. Não há grande inventividade ou inovação na realização destas sequências - convenhamos, não apenas este, mas todos os elementos do filme não estão aí para reinventar a roda, aproveitando algo já existente em benefício próprio -, no entanto, nenhuma delas - e são muitas - deixa a desejar, tornando a produção uma fita movimentada, cuja visualização dos confrontos desenvolvidos é possível - outro mérito de W.S. Anderson - e a utilização das cenas silenciosas para a construção da tensão é primorosa - destaco aquela localizada no subsolo da arena.

Os confrontos físicos preparatórios, por assim dizer, são os grandes destaques do longa neste sentido, e ainda assim, quando a aguardada erupção inicia, não deixa nada a desejar, sabendo impor sua grandiosidade e perigo através da construção visual. Considerando a necessidade de uma classificação indicativa mais baixa, chega a ser admirável a quantidade de violência exposta no longa, eficaz para tornar o sofrimento das personagens mais verossímil. É inegável, o sentimento de imersão do espectador em todo aquele reino, aquelas arenas, imerso por um ritmo extremamente ágil e eletrizante, mesmo que apenas por acompanhar os conflitos de homens e espadas, cada luta por sua sobrevivência, e explicitando a fragilidade da linha que os divide entre a vida e a morte.

Na narração de tantos atos heroicos, Paul W.S. Anderson deixou sua marca no desgastado terreno dos épicos, realizando um blockbuster que, ao equilibrar elementos à moda antiga - existe o romance proibido, o grande ato que o coloca em risco, tudo está ali -, conta sua própria história, estabelece seus próprios heróis e vilões. O cruel ato que colocava seres humanos em risco para entreter os mais poderosos na época aqui retratada, foi justamente trocado por opções residentes em obras como esta, mais profundas por sua Arte e mais acessíveis à população, e que cumprem exatamente com sua proposta, sem arriscar vida alguma. Um épico, como precisávamos.

Um império, e até mesmo uma grande paixão, cairão diante das forças da natureza, se assim ela decidir.
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