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[Falando Sobre...] The Americans

Espiões a moda antiga, ou melhor, espiões de verdade.


Espiões a moda antiga, ou melhor, espiões de verdade.

Para quem cresceu vendo os filmes de James Bond como eu, qualquer história de espião bem contada merece no mínimo uma curiosa primeira chance, mesmo que a produção em si, aparente não trazer novidades para o gênero. Eu citei inicialmente o icônico agente do MI5 porque ele é o maior representante desses anti-heróis, por assim dizer, na ficção, mas partindo para um tom mais sério e real também temos os fantásticos Munique de Steven Spielberg e mais recentemente, O Espião que Sabia Demais do diretor sueco Tomas Alfredson. Na TV, a espionagem sempre foi dividida em dois subgêneros, comédia (Agente 86, Chuck e Archer) e ação (24 Horas, Alias e Nikita), que sim, tinham sua toada mais dramática em alguns momentos, mas a predileção pelo fantástico e pelos exageros característicos do imaginário criado ao redor desse universo, geralmente era posta na frente de qualquer desenvolvimento mais real. 

Quando o showrunner Joe Weisberg trouxe a premissa de The Americans para o FX, Homeland ainda se encontrava no auge e as semelhanças com a trama criada por Howard Gordon e Alex Gansa eram gritantes. Porém, como um ex-agente da CIA, Weisberg tratou de pontuar que, antes da história de dois integrantes da KGB (o serviço secreto soviético) que tem de viver em solo americano sob a máscara do próprio inimigo, The Americans iria apostar numa recriação pontual de um dos períodos mais sedutores e misteriosos da história mundial: a Guerra Fria travada entre os Estados Unidos e a União Soviética. Vocês podem pensar “já sei, ex-agente da CIA roteirizando série de espionagem na Guerra Fria, mas é claro que os soviéticos serão os vilões da história”, porém é aí que se esconde o diferencial de The Americans, a série não toma lados para si. Não há heróis e nem vilões, apenas duas nações lutando por debaixo dos panos para fincar seus ideais usando para isto, homens e mulheres dispostos a irem até o fim pelo que eles acreditam.

É assim que conhecemos o casal Jennings, Elizabeth e Philip. Naturalizados americanos, donos de uma agência de viagens, morando num subúrbio de Washington com dois filhos, os jovens Henry e Paige, mas escondendo suas identidades como dois agentes da KGB infiltrados na capital norte-americana. A década é a de 80 e o governo Reagan resolve retomar o cerco a União Soviética, justo por suspeitar dos tais agentes russos andando livremente nas ruas americanas como se fossem pessoas comuns. Quando Stan Beeman, um agente do FBI torna-se vizinho dos Jennings, a paranoia toma conta do dia-a-dia de Elizabeth e Philip, ela uma patriota extremista, disposta a abrir mão da própria família que construiu, para servir ao seu país, já ele um nem mais tão disposto agente, que se envolveu mais do que deveria com sua parceira.


Não demora muito para o texto de Weisberg e seu parceiro na escrita Joel Fields partirem para um estudo das relações humanas elegantíssimo, e é a instituição do matrimônio – alguns personagens casados apenas com seus próprios ideais, outros mais solitários e ansiando por um norte – o  viés humano mais dissecado aqui. No entanto, quem dá vida e alma para The Americans é o seu elenco impecável. Enquanto Keri Russell denota complexidade em cada olhar frio e distante de sua Elizabeth, Matthew Rhys emociona e nos faz torcer por seu Philip, mesmo quando o personagem está prestes a escolher o caminho mais hediondo em uma missão. Não muito atrás, o apoio dado por Noah Emmerich ao angustiado Stan Beeman é tão envolvente quanto à sedutora interpretação da atriz Annet Mahendru como a secretária e agente dupla Nina. E se já não bastasse todo o destaque conseguido pelos atores citados, ainda temos a especialíssima participação de Margo Martindale como Claudia, a sombria e misteriosa supervisora da KGB encarregada dos Jennings.

Com tudo isto, a celebrada reconstrução da década de 80 chega como a verdadeira cereja do bolo em The Americans. E mesmo com a trilha sonora e o figurino característico já deslumbrando, o universo montado pela série ainda usa de eventos reais para guiar sua trama (como a tentativa de assassinato do Presidente Ronald Reagan em 81), embasando e usando a espionagem como um personagem quase palpável dentro da história. Há tempos que um gênero aparentemente tão esgotado, não produzia algo tão envolvente e original. The Americans é classe na TV e é TV para quem gosta de arte. Simplesmente imperdível.

P.S.: Desde já anunciando que eu estarei cobrindo semanalmente a segunda temporada da série que retorna hoje. Aguardo a companhia de vocês.

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