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[Review] True Detective 1x03 - The Locked Room


O início deste The Locked Room reserva um dos diálogos mais inteligentes e críticos apresentados pela televisão nos últimos anos, provavelmente. Para evitar erros primários, não transcreverei-o aqui, mas posso dizer que, através dos devaneios e reflexões de Rust, o roteiro é capaz de lançar críticas coesas a respeito da religião, seus interesses capitalistas e o aproveitamento da inocência de seus fiéis. Tudo isto em um curto diálogo entre ele e seu parceiro Martin, imediatamente incomodado com as observações de Cohle, e representante justamente do grupo mais conservador de nossa sociedade: aquele composto por pessoas que, além de preferirem ignorar os problemas intrínsecos ao seu cotidiano, ainda não aceitam uma discussão mais profunda sobre estes, preferindo a manutenção da superficialidade de uma alienação preocupante - e cada vez mais frequente. Com alguns instantes, o episódio consegue atingir e representar, criticamente, inúmeros debates certamente ocorridos diariamente nos mais distintos lugares do mundo e entre os mais diversos grupos sociais, mas constantemente ignorado por - também - inúmeras produções televisivas de mentalidade semelhante a de Martin.

Após este diálogo, ainda na terceira etapa de sua jornada, True Detective poderia acabar e já teria elementos marcados na história recente da televisão. Precisava mais de algo? Bom, na verdade, sim. A inclusão da crítica à religião adequa-se perfeitamente ao desenvolvimento da trama investigativa, onde, neste ponto, a dupla de detetives passa por uma igreja para realizar interrogações com possíveis suspeitos, entre eles um ministro da citada congregação. Depois do aparente fracasso desta busca, a suspeita decai sobre um criminoso sexual, até então esquecido pelos trabalhos investigativos. Já mencionei a necessidade de a trama criminal, nesta produção, caminhar de forma mais cadenciada, por sua proposta de realismo policial, e este ponto realmente não me incomoda, mas, neste terceiro episódio, temos um desenvolvimento desta ocorrendo de forma muito mais satisfatória, em relação ao episódio anterior. Quem pensava em desistir, certamente receberá um impulso para dar uma nova chance - especialmente pela cena final.

Outro ponto de destaque com relação à trama investigativa são as sequências de interrogatório. Se, numa visão inicial, podemos crer imediatamente que o líder da dupla para a realização dos trabalhos é Martin, durante os interrogatórios, percebemos sua fragilidade no tratamento direto com os suspeitos, então Rust deixa a frieza habitual nas relações sociais de lado, assumindo uma personalidade forte, bruta e experiente para atingir os objetivos desejados na investigação. O contraponto feito durante The Locked Room, que também retrata um encontro do investigador com uma mulher - isto ainda não havia nos sido apresentado -, escancara sua falta de tato para as relações interpessoais, algo contrariado durante os interrogatórios. A reflexão a respeito disto só pode nos mostrar que o medo de Rust é com a proximidade duradoura, provavelmente causado por traumas passados - a tragédia com sua esposa -, e isto o leva a optar por focar toda a sua pouca habilidade para isto no trabalho, onde os relacionamentos serão passageiros e terão, em sua visão, um objetivo, uma necessidade, diferentemente das relações cotidianas.

Os planos retratantes da distância entre Rust e Martin, através da diferenciação de planos, voltaram a aparecer neste episódio, podendo ter uma representação interessante de acordo com a convivência entre estes - repare como, diferentemente do segundo episódio e assim como acontecido no primeiro, Rust volta a se encontrar com a esposa de seu colega, além de os conflitos entre a dupla voltarem a acontecer, uma influência provável para esta opção da direção. Aliás, a convivência e os diálogos entre a dupla seguem sendo o ponto mais alto da série. Novamente, observo em seu distanciamento uma reflexão da diferenciação gritante nas opções ideológicas dos dois, e temos no personagem de McConaughey certamente o mais interessante neste ponto, por sua capacidade de realizar observações e reflexões pertinentes, que deveriam estar explícitas, a respeito dos mais variados temas cotidianos, assim tornando-se justamente o incômodo daquele interpretado por Harrelson, que prefere observar o cotidiano apenas como, bem... o cotidiano. Que vida triste, deve ser a deste homem.

True Detective 1159202005527690093

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