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[Review] True Detective 1x01 - The Long Bright Dark


No último ano, houveram poucas novas produções televisivas cuja qualidade realmente foi capaz de empolgar os fãs de séries. Com exceção das veteranas, que continuaram - e, algumas, até encerraram - suas jornadas com primor - Game of Thrones, Breaking Bad, Fringe, entre várias outras -, poucas novidades surpreenderam o espectador positivamente - casos de Bates Motel, House of Cards, e mais alguns poucos -, enquanto diversos seriados estreantes não cumpriram com as grandes expectativas - The Following, Under The Dome - e outros somente confirmaram as expectativas negativas que os entornavam - We Are Men, Golden Boy -; enfim, em termos de estreias, 2013 acabou por ser um ano bastante fraco para a televisão. E todos nós sabemos que, em algum momento, as grandes séries veteranas irão terminar, por isso há a necessidade de novidade que entreguem algum diferencial. Em suas primeiras semanas, 2014 já nos entrega uma novidade capaz de superar a maioria daquelas que seu antecessor nos trouxe juntas, e ela se chama True Detective.

A produção, comandada pela HBO, narrará as investigações dos detetives Martin Hart (Woody Harrelson, de Truque de Mestre) e Rust Cohle (Matthew McConaughey, de Killer Joe - Matador de Aluguel), atualmente envolvidos num macabro caso de assassinato cujo culpado aparentemente foi um serial killer utilizador de técnicas que envolvem ocultismo e outros elementos responsáveis por envolver intensamente seus investigadores por um grande período neste trabalho. Somos capazes de perceber, de acordo com os depoimentos presentes durante o episódio, passados depois desta investigação, que este trabalho realmente gerou diversos desencadeamentos para a dupla. Com a investigação servindo como pano de fundo, percebemos de início o primeiro e essencial diferencial da produção criada por Nic Pizzolato: suas personagens são muito mais intrigantes do que a trama criminal - especialmente seus dois protagonistas - em si, algo excelente e raro na televisão, atualmente.

Enquanto Rust Cohle torna-se interessante por provocar estranhamento e jamais conquistar nossa confiança por completo - ele aparenta estar escondendo algo o tempo todo -, graças aos seus olhares, o afastamento das outras pessoas e personalidade fechada. Martin Hart provoca o sentimento contrário, conquistando a confiança e empatia do espectador de imediato, graças à personalidade segura e uma determinada descontração. Esta última característica é uma cortesia de Woody Harrelson, escolha perfeita para o personagem e entregando um dos melhores trabalhos de sua carreira, não deixando nada a desejar ao grande ator que está ao seu lado, Matthew McConaughey, e este, por sua vez, comprova realmente estar vivendo uma grande fase ao entregar outro excelente trabalho, da composição vocal à postura fechada, especialmente marcantes já neste primeiro episódio para marcar definitivamente a personalidade de seu misterioso Cohle. Além das características particulares dos dois protagonistas e as atuações que os constroem, temos no foco de True Detective a relação entre eles, como não poderia deixar de ser, e esta, felizmente, foge de qualquer clichê constantemente utilizado de forma negativa nas produções policiais, ao não apostar nos conflitos de personalidade e discussões habituais, preferindo investir num estranhamento e num conflito silencioso e intimista entre a dupla, que não tem uma relação próxima, mas na verdade estreita ao trabalho.

Desde o primeiro episódio, já temos o apreço técnico, elemento habitual das produções com o selo HBO, em destaque, com a construção de uma mise-en-scène detalhista, dando foco a cada elemento que terá importância para a investigação do assassinato e transmitindo perfeitamente a atmosfera interiorana - especialmente, quando nos ambientes fechados - da cidade em que a série é ambientada. A fotografia, acinzentada e dominada por cores frias, auxilia essencialmente na construção do suspense seco e extremamente realista - fazendo jus ao título da série -, remetendo aos estilos narrativos de grandes cineastas como David Fincher (de Se7en, A Rede Social) e William Friedkin (de Killer Joe, O Exorcista) - embora sem o espaço para o humor negro deste segundo -, mas o verdadeiro destaque da direção é bastante particular e original, uma vez que esta utiliza-se com extrema competência de seus elementos narrativos para passar ao espectador a identidade da série desde já, algo essencial para um episódio inicial. Investindo frequentemente nos planos laterais para filmar a dupla protagonista - especialmente, nas sequências passadas no carro -, deixando sempre um dos personagens em primeiro plano e o outro em segundo, para simbolizar a distância existente na sua relação, entre outros detalhes que deverão continuar fazendo-se marcantes durante a jornada da produção.

Séries provocadoras de reflexão em tantas camadas, seja por seu apreço narrativo ou pela profundidade de seus diálogos e personagens, são obras que precisamos em maior quantidade na televisão. True Detective comprova, desde seu primeiro passo, ser uma destas obras.

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