[Resenha] Starters
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A literatura young adult recente vem sendo formada por ciclos. Após o sucesso de Harry Potter e da trilogia O Senhor dos Anéis, foram lançados inúmeros livros de fantasia com mitologias pesadas baseadas principalmente no folclore europeu. Após Crepúsculo, tivemos vários romances sobrenaturais envolvendo uma garota normal e uma figura normalmente ultrapoderosa. Hoje, o principal molde para novos lançamentos é Jogos Vorazes. E, ao contrário do que possa parecer, esta não é uma resenha do tipo "eu defendo minha saga"; não vejo o menor problema nesses lançamentos, que às vezes rendem, sim, boas obras. O problema é quando um novo livro não consegue ser original o suficiente e acaba copiando em todos os sentidos a fórmula do "ciclo".
Vários "novos Crepúsculos" sofreram com esse problema, e, com Starters, o gênero distopia parece seguir o mesmo caminho. O livro de Lissa Price tem uma premissa interessantíssima à primeira vista: no futuro, a Guerra dos Esporos extinguiu todos os adultos, deixando vivos somente os jovens, chamados de Staters, e os idosos, chamados de Enders. Com os avanços da ciência, muitos Enders ganharam a chance de viver longamente e muitas doenças foram extintas, mas a desigualdade social condena alguns Starters a morarem nas ruas, onde sofrem com o perigo de rebeldes assassinos e das rondas violentas do governo. A protagonista, Callie, perdeu seus pais na guerra, e passou a viver em prédios abandonados com seu irmão, Tyler, e seu melhor amigo, Michael. Quando a saúde de Tyler começa a se deteriorar, a única opção de Callie para conseguir dinheiro o suficiente para pagar seu tratamento é "vender" seu corpo para a Prime Destinations, uma organização altamente tecnológica especializada em alugar o corpo de Starters para que Enders possam transferir suas consciências e voltar a viverem como jovens por algumas noites.
Com uma trama tão empolgante, Starters peca justamente por não conseguir fazer jus a sua possível originalidade e permanecer na zona de conforto de apenas reproduzir clichês e fórmulas cansadas. Ao longo de suas quatrocentas páginas, o livro parece mais interessado em copiar distopias já consolidadas - particularmente, Jogos Vorazes - do que desenvolver seus temas instigantes, como a questão da imagem corporal ou a supremacia das grandes corporações. Com isso, todos os elementos que fizeram a história de Katniss Everdeen tão interessante são imitados com muito menos impacto: o triângulo amoroso entre o sombrio melhor amigo pobre e o doce desconhecido rico; o sacrifício para salvar o irmão frágil; a transformação visual que a protagonista passa para ser apresentada ao público; e até mesmo a morte de uma menininha com que Callie faz amizade, obviamente inspirada na relação de Rue e Katniss.
Fora as similaridades óbvias com a saga de Suzanne Collins, Starters sofre por se perder dentre clichês adolescentes e cenas desnecessárias. Grande parte dos personagens permanece terrivelmente subdesenvolvida, caricata e superficial, beirando à canastrice. Além disso, as várias reviravoltas que deveriam criar um ritmo rápido e tenso parecem cômodas demais, familiares demais. A mistura de distopia com chick-lit e suspense policial não funciona, gerando um ritmo inconstante e situações forçadas. Mas nem tudo é ruim: a mitologia da saga, apesar de não explorada a fundo, é bastante intrigante e é a única coisa que prende a atenção do leitor até o final.
Cheio de absurdos e situações difíceis de acreditar, Starters é um livro decepcionante, forçado e pouquíssimo original. Mais preocupado em copiar a fórmula de sucesso de Jogos Vorazes do que em corrigir seus erros óbvios, encontra sua força somente nas últimas páginas, que, apesar de ainda ter lá seus absurdos, guardam algumas surpresas genuínas. No final, o livro de estreia de Lissa Price não faz jus a sua premissa e falha em criar um bom suspense, acabando por ser simplesmente cansativo e dispensável. Com um resultado tão bobo e previsível, não é difícil prever a direção que Enders, o segundo e último livro da saga, vai tomar.