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[Crítica] Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal


A franquia de produções de terror em found-footage, Atividade Paranormal, é vista por parte do público como uma verdadeira revolução dentro do gênero, quando na verdade está mais próxima de ser uma grande picaretagem comercial, dada a baixíssima qualidade de seus episódios - mesmo enquanto entretenimento aterrorizante - e o lucro exorbitante gerado por eles aos seus estúdios. Mas esta "saga" faz tanto sucesso comercial, que, além de suas inúmeras continuações, consegue ainda gerar produções derivadas, cuja grande motivação para existirem é a criação de inimagináveis relações com a trama da franquia original, tornando-se críveis aos olhos dos fãs, pois, claro, qualquer ritual espiritual pode ultrapassar as linhas do absurdo para gerar alguns sustos e ainda mais dinheiro.

Mas sejamos justos, o primeiro capítulo da série cinematográfica tinha alguns méritos, ainda que contasse com defeitos em maior quantidade, contando com um importante impulso para a volta do found-footage, cuja função era a de tornar o terror mais crível - algo feito antes, e de forma bem mais exemplar, pelo ótimo A Bruxa de Blair -, além de contar com determinados elementos competentes na criação de uma atmosfera aterrorizante deveras verossímil, ao raramente expor mais do que o necessário ou investir em justificativas demasiadamente absurdas para explicar seus fenômenos sobrenaturais. Para satisfazer a fome do público em passar por sustos e mais sustos sem incomodar-se muito com qualquer outro mérito da produção, a franquia a partir dali passou a investir cada vez mais nisto, lançando um longa por ano - ou mais, como ocorrerá em 2014 -, com pouco tempo de projeção na função de entregar sustos fáceis e pouco aterrorizantes, preocupando-se cada vez menos em desenvolver suas personagens ou as situações provocadoras do horror, e por fim, sempre inserindo um cliffhanger tolo na última cena para levar os espectadores a ver seu próximo capítulo - por mais insatisfeitos que estivessem com o anterior. De terror pouco competente - em minha visão, que não é a da maioria - no primeiro filme, a franquia acabou convertendo-se num grande caça-níqueis.

Neste episódio derivado, Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal, temos uma exagerada exposição dos elementos geradores do horror - contrariando ensinamentos dos grandes mestres do gênero - e, de forma ainda mais lamentável, um igualmente exagerado investimento em explicações furadas para isto. Assim, temos a narração da estória de Jesse (Andrew Jacobs), e seu amigo, Hector (Jorge Diaz), dois jovens que decidem filmar todos os ocorridos de sua rotina com uma câmera, inclusive as peripécias que começaram a aprontar com sua vizinha Anna (Gloria Sandoval), até que esta os vê batendo à porta de sua casa - e filmando a ação, consequentemente - para incomodá-la, decide amaldiçoar Jesse para vingar-se, claro, afinal ela é vista com estranhamento e acusada de bruxaria por toda a vizinhança, e - veja só -, no final das contas ela realmente tinha a capacidade de realizar bruxarias e aplicar maldições contra quem quisesse. A partir de quando a idosa amaldiçoa o jovem protagonista, este passa a agir de forma estranha e descobre habilidades sobrenaturais em seu corpo, que vão constantemente fugindo de seu controle, tornando-o um completo desconhecido e até uma ameaça para seus amigos e familiares, pois este faz parte de uma série de amaldiçoados por uma seita de bruxas, em pleno século XXI - ou seja, se sua vizinha tiver uma aparência estranha, fuja o mais rápido possível.

Reside nesta proposta uma clara tentativa de atribuir algo novo à franquia - uma reação clara à queda de arrecadação ocorrida no capítulo anterior desta -, e até há alguns elementos um pouco diferentes do que havíamos visto até aqui, em Atividade Paranormal, ainda que não haja nada de novo em relação a algo já visto na história do Cinema. O início da percepção de Jesse a seus poderes sobrenaturais e suas atitudes consequentes a isto são praticamente uma cópia mal feita da mesma ação como foi narrada no ótimo Poder Sem Limites, inclusive com a presença do found-footage. A diferença está apenas no fato do que sucede a esta, pois enquanto o longa de Josh Trank investia acertadamente em dar uma continuidade a este desenvolvimento, com as consequências grandiosas deste poder causadas aos jovens que o possuíam dentro da sociedade, a película da qual aqui falamos prefere ignorar estas consequências e fingir ambientar-se num mundo onde quase ninguém estranha ou percebe que há algo de errado com o garoto. O fator de novidade nem está tão assim presente, afinal de contas, se interpretarmos o final integral e literalmente, o longa infere que todo o terror - desde o primeiro filme - havia sido causado apenas por este grupo de "marcados pelo mal", e esta fita aqui apenas encarrega-se de escancarar isso aos olhos do espectador - mas, provavelmente, nem o roteirista e diretor Christopher Landon percebeu isto.

Aliás, como o terror poderia ser provocado, se podemos ver durante todo o tempo o principal causador deste, e - por ele ser o protagonista, oras bolas -, o roteiro até tenta gerar empatia do público com ele? Bom, na verdade, ele raramente é provocado. O diretor tem grandes problemas em criar a atmosfera sombria, uma vez que insiste em inserir cenas supostamente cômicas e descontraídas - algumas até funcionam, neste sentido -, seguindo-as por sustos e ameaças aos protagonistas, que acabam consequentemente não funcionando, pois o espectador sequer havia abandonado o clima leve e descontraído pelo qual havia acabado de passar, além da própria e por diversas ocasiões citada exposição exagerada dos elementos aterrorizantes, também responsável por prejudicar a criação da atmosfera para propiciar, justamente, o terror - Landon definitivamente precisa tomar algumas aulas com James Wan.

Encontrando ainda uma ocasião para - claro - alguma de suas personagens sugerir uma soma sem qualquer sentido relacionada à ações vividas pelo protagonista para o resultado dar "666" e o público finja estar surpreendido por isto, jamais sendo hábil para justificar que Hector esteja filmando tudo, durante todo o tempo - ou o filme espera mesmo que acreditemos em um jovem estar fugindo de criaturas desconhecidas e correndo sérios riscos de ser morto por estas, mas continuar com a câmera na mão? -, inferindo que todos os subúrbios latinos são dominados pelo crime e pelo caos e, enfim, deixando algumas de suas situações mal terminadas - como quando Jesse entra, sozinho, no porão da casa de Anna, para salvar seu cão, acaba atacado por algo e simplesmente volta a aparecer em sua casa alguns minutos depois, assim como o cachorro  -, Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal é um exemplo de produção que deseja convencer seu público a dar risadas com filmagens de um cachorro dançando - sim, isto acontece - e assustar-se com as situações aterrorizantes mais genéricas possíveis.

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