[Review] Boardwalk Empire 4x02 - Resignation
“ Tudo é só alguma coisa. ”
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“Tudo é só alguma coisa.”
Se existe algo que admiro numa série, é quando ela consegue me surpreender positivamente, e desta forma rebate as críticas que fiz a ela. Boardwalk Empire esta semana foi um exemplo de tudo isso, e ainda me deu um bem-vindo lembrete do porquê de eu gostar tanto de sua estrutura, mesmo que algumas vezes ela mine seus pontos mais louváveis. Todos os personagens se situaram melhor, um retorno em particular teve uma merecida justificativa e, claro, nos foi apresentado o “vilão” da temporada, que envolvido numa trama que antes parecia aleatória e arquitetando um embate que já se mostra promissor, deixou a sensação de que não precisaremos “sofrer” pela perda de Gyp Rosetti por muito mais tempo.
Acho que todo mundo deve ter penado
com a possibilidade de Eddie se despedir da série na temporada passada, depois
de tanto tempo protegendo servindo Nucky. A relação dos dois sempre foi
o melhor alívio cômico de Boardwalk Empire,
mas por dois episódios conseguimos enxergar um dos raros momentos em que Nucky
se importou verdadeiramente com alguém. Assim, não demorou muito para Eddie
perceber que sem ele, o patrão entraria na mesma onda de desconfiança que moveu
suas ações no segundo ano, já que hoje o mordomo é o único em quem Nucky realmente
confia. A adrenalina da última perseguição deve ter subido a cabeça do velhinho,
pois agora ele quer ter parte como um gângster. Confesso que ri muito das
declarações devotas, primeira tentativa, e depois com a carta de demissão, segunda
tentativa dele para convencer Nucky (impagável com suas expressões) de que um
papel mais respeitoso é o pagamento mais justo por todos os anos de serviço.
Logo, ser o responsável por guardar a propina do prefeito Bader, pode até ser
coisa pequena, mas foi o suficiente pra inflar o ego de Eddie Kessler, o ex-housekeeper e agora badass parceiro de Nucky. Mais merecido
impossível.
Enquanto Eddie entra de verdade
no mundo do crime, Richard Harrow tenta lutar para se distanciar desta
realidade. O rastro de sangue que ele deixou até chegar na casa da irmã não
tinha nada haver com ela. Na verdade, para conseguir dinheiro, Richard aceitou
um bico como matador de aluguel e saiu chacinando um grupo de pistoleiros e
contribuintes, envolvido numa disputa de três antigos parceiros, por um negócio
que não se explicou muito bem. Porém, depois de perceber que a situação da irmã,
Emma, é tão desoladora quanto a dele (orfã, viúva e prestes a ter um filho),
Richard se nega a completar um serviço pela primeira vez. Infelizmente, sentir
demove o combatente de sua meticulosa capacidade de cobrir rastros e agora ele
coloca a segurança do que resta da sua família em perigo. Como sempre, a trama
dele continua sem relação com o centro da história, mas quando a mesma se
justifica, ganha-se um filler
interessante.
Nelson Van Alden deve ter sido o
personagem mais mutável de Boardwalk
Empire e mesmo que ele tenha se perdido durante a problemática segunda
temporada, desde que resolveram casar o seu recomeço como George Mueller com as
disputas entre os cabeças do crime de Chicago, só tivemos bons momentos. Para
quem não sabe, as eleições de 24 em Cicero, foram o ponto de partida para
escalada de Al Capone ao poder, e o roteiro de Dennis Lehane (sim, Howard
Korder teve parte, mas me deixem ser fanboy)
trouxe Dean O’Banion, Van Alden e toda rixa entre a máfia irlandesa e italiana
para o centro deste evento histórico. Não vou adiantar os acontecimentos, mas
acredito que até o fim da temporada Capone estará instalado no lugar de Torrio
e Van Alden servirá de ponte entre a ficção e a realidade tendo os ensandecidos tiques de Michael Shannon
como um outro atrativo para a trama.
E eis que Jeffrey Wright faz o debut
como o seu alardeado Dr. Valentin Narcisse. Vendido na divulgação da temporada
como um inimigo à altura de Nucky e capaz de rivalizar com Gyp, a propaganda não poderia ter sido mais precisa. Narcisse tem
toda pompa dos melhores vilões da HBO,
mas guarda na sua elegante frieza (bem parecida com a de Rothstein), uma
brutalidade velada revelada somente no fim do episódio, porém destilada a
conta-gotas em cada passagem bíblica citada ou crítica que ele fez à Chalky
durante a “investigação” do assassinato de Dickie Pastor. O fim de Alma Pastor
é só uma prova de que por subestimar novamente um adversário, Nucky acaba por
fazer outro acordo perigoso e pior, coloca Chalky na posição que ele mais
detesta: a de criado (o mindgame de
Narcisse com o orgulhoso dono do Onyx Club deve trazer consequências
desastrosas para Nucky).
Mesmo com tantos acontecimentos, Resignation ainda encontra espaço para
falar mais sobre o agente Knox (livre até da investigação de Gaston Means), e
nos revela que não é mais Esther Randolph que está atrás de Nucky, mas sim o
próprio FBI já sob a liderança de J. Edgar Hoover (olha o roteiro do Lehane inserindo personagens históricos
de forma promissora). Fiquei muito curioso com a nova caçada pela cabeça de
Nucky e mais ainda para entender quais negócios o agora resignado rei de
Atlantic City tem na Flórida. Agora sim Boardwalk
Empire começou de verdade!