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[Crítica] O Grande Gatsby


Jay Gatsby talvez seja o reflexo da sociedade em que vivia, na chamada Era do Ouro em Nova York, durante a década de 1920 até a Grande Depressão em 1929, quando a população se destacava por extravagâncias de uma época onde os novaiorquinos viviam no ápice social e econômico e que, por tantos de seus excessos, atingiu a crise. Gatsby atingiu sua crise por excessos, mas excessos de segredos.

Cinco anos atrás, Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) vivera uma intensa paixão com Daisy (Carey Mulligan), que acabou sendo abruptamente interrompida pela convocação de Gatsby para defender sua país na guerra, e devido aos costumes tradicionalistas da época, seu afastamento e falta de contato com Daisy acabou gerando o casamento da moça com o poderoso ex-esportista Tom Buchanan (Joel Edgerton), mas o misterioso homem, tempos após voltar do período militar, encontra a oportunidade de voltar a ter contato com a eterna amada com a mudança de Nick Carraway (Tobey Maguire), um escritor frustado e que agora trabalha em Wall Street, para morar ao lado de sua casa, após fazer a descoberta de que Carraway é um primo de Daisy, e fazê-lo a proposta de que o vizinho a convide para visitar sua casa e Gatsby casualmente o visite no mesmo momento, assim reencontrando-a. Com o romance voltando à tona nas vidas dos dois, não haverá como evitar os problemas que virão em decorrência da fama e de todos os mistérios de Gatsby e do fato de Daisy ser casada com um homem que não estará disposto a deixá-la para outro.

Desenvolvendo-se do difícil romance vivido por seus protagonistas, O Grande Gatsby é uma obra que juntamente com isto aflora os mistérios de seu personagem-título para conferir o tom de mistério constante para o espectador, enquanto desenvolve sua tensão a partir das constantes mudanças de comportamento de seus personagens e das dificuldades impostas a partir do mesmo romance, e como imaginado e escrito por F. Scott Fitzgerald, como uma crítica ao comportamento e situação da sociedade na época, desenhando esta a partir das sutilezas no comportamento de seus personagens e de um certo tom introspectivo na narração de Nick Carraway para a história que presenciou até as extravagâncias das festas de Gatsby. Sabendo-se explorar ao máximo estes méritos, pode-se construir um longa com grandiosidade ímpar para o Cinema, especialmente quando com grande apelo ao público para que este teor crítico possa ser interpretado para um maior número de pessoas e torne-se mais importante dentro de seu contexto, e que se ocorresse neste caso especialmente, poderia ganhar ainda mais destaque por estar dentro de uma época onde grande parte das maiores produções não são capazes de tornar-se profundas visões ficcionais de sua realidade como poderiam se propor como grandes obras de Arte. E ainda que Baz Luhrmann e sua equipe por vezes se arrisquem a dar certas braçadas dentro desta área, o mergulho não atinge profundidades grandiosas.

Preferindo optar-se durante suas primeiras sequências do uso exagerado de efeitos visuais que tornam o campo para o surgimento de seus personagens quase como numa animação em computação gráfica, o que acaba tornando a abordagem inicial dos mesmos artificial, por sorte despe-se desta vestimenta a partir do primeiro diálogo estabelecido entre Daisy e Carraway, o roteiro utiliza-se de grande parte primeiro ato para fazer apresentações de Carraway, Tom e Daisy, apenas mantendo certos rumores sobre seu verdadeiro protagonista que tornam os mistérios sobre este ainda maiores. E Gatsby será revelado somente em uma de suas grandes festas, quando Carraway recebe o convite para participar desta já como um plano do anfitrião para fazê-lo a proposta, mas durante os planos em que o protagonista surge o destaque ficará justamente por conta de um dos maiores méritos desta versão de O Grande Gatsby: Seu excelente trabalho visual. As fantásticas e excêntricas festas de Gatsby ganham uma variação de cores fabulosa através de sua fotografia, enquanto os grandiosos cenários e figurinos cheios de extravagância denotam perfeitamente os comportamentos da época, embora seja uma pena vê-los logo sendo abandonados pelo como uma parte simples da história enquanto poderiam ser de espaço para uma crítica muito maior justamente ao significado destas. Mas mesmo cercado de tantas pessoas "interessantes e famosas" como definidas pelo próprio, Jay Gatsby na verdade é um homem solitário, que vive somente na companhia dos rumores sobre sua própria existência, e por isso enxerga em Carraway uma amizade que vai além da oportunidade que encontrou em sua presença, talvez sendo na amizade entre ambos - como comprovado no desfecho - a principal evolução para o protagonista e sua história de momento. Diferentemente da superficialidade dos eventos de Gatsby, a amizade entre ele e Carraway era algo verdadeiro e que diferia de suas misteriosas ambições, e a interessante narração em off tomada pelo personagem juntamente com a situação em que ele se encontra após os eventos, de melancolia e em tratamento psiquiátrico, mostram que talvez ele tenha sido aquele que mais se afetou com estes eventos, mesmo não estando tão envolvido quanto o triângulo entre Jay, Daisy e Tom, foi justamente o atento observador quem mais estava envolvido psicologicamente com este.

Com um trabalho de montagem e direção dinâmicos aproveitando as constantes reviravoltas da trama, e que não o tornam cansativo, talvez o principal problema do trabalho de Luhrmann seja justamente quando este tende a abandonar o seu estilo mais frenético de trabalho e deixe O Grande Gatsby por vezes cair num monótono tom de drama melancólico e que tornam o romance pouco além do comum, especialmente na transição entre o segundo e terceiro atos, mas por sorte o diretor conta com a retomada a partir de um ato quase teatral da discussão entre o triângulo amoroso protagonista num quarto de hotel, quando denotam-se os fantásticos trabalhos de Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan Joel Edgerton, que tomam o filme para si numa troca dinâmica de diálogos sob os olhares atentos dos personagens de Tobey Maguire e Elizabeth Debicki, em que a tensão é alta e reside um dos breves momentos em que o roteiro consegue passar exatamente todo o sentimento que a obra de Fitzgerald produz para este trecho. E o maior mérito de O Grande Gatsby reside justamente em seu elenco, com os grandes trabalhos deste por completo - inclusive o de apoio - que compões seus personagens no tom mais adequado para este, especialmente com o sempre atento Nick Carraway de Tobey Maguire e num trabalho dos mais inspirados de Leonardo DiCaprio que aposta na variação de sentimentos para o seu Jay Gatsby, que consegue ser divertido quando seu personagem surge mais confuso e o longa toma um clima mais extrovertido e contar com ápices de crise emocional já em seu terceiro ato.

Mas assim como toma as decisões mais simples para tomar seu desfecho de um terceiro ato que seguia excelente e será logo reconhecido por aqueles que já tiverem conferido a produção, é uma pena que mesmo sendo muito competente, este O Grande Gatsby seja mais parecido com as elegantes, interessantes, mas sem grande profundidade, festas de Jay Gatsby do que com seus fascinantes mistérios e personalidade.

Pois até as mais conturbadas vidas podem terminar de formas simples e cruéis, ainda que significativas.

Confira o nosso Especial sobre O Grande Gatsby.

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