[Review] Spartacus: War of the Damned 3x10 - Victory (Series Finale)
Lendas são mais do que ossos e sonhos.
http://siteloggado.blogspot.com/2013/04/review-spartacus-war-of-damned-3x10.html
Foi lá no ano de 2010 que eu soube da estreia de uma série que logo
rotulei como “um 300 mais tosco”,
disse que só veria o piloto pela Lucy Lawless
e que nem acreditava na longevidade da mesma. Precisou apenas de três episódios
para eu me tornar xiita. Pouca gente via, e o burburinho em torno do programa
só estourou mesmo com sua primeira (e memorável) season finale. Daí veio a triste notícia sobre a saúde de Andy Whitfield, na época eu acreditei na
recuperação dele e abracei o prequel Gods
of the Arena com uma confiança ferrenha (outro belíssimo acerto). A melhora
breve seguida da despedida abrupta do nosso protagonista foi um dos baques mais
tristes do ano de 2011, mas Andy
tinha participado da escolha do seu substituto, e Liam McIntyre em dois anos honrou o nome do escravo guerreiro que
veio se despedir com um dos Series
Finales mais poderosos que vi na vida.
Fazer jus ao escrever sobre o
que vimos em Victory é bem difícil.
Tentar não se perder nos elogios cegos e na emoção substancial que com toda
certeza deve ter preenchido os fãs durante o último embate contra Crassus e
suas legiões, é quase impossível. Foram bons e emocionados diálogos os que
Spartacus, Gannicus e Agron protagonizaram antes da guerra. Gannicus foi um dos
personagens que mais evoluiu, Sibyl trouxe sim o melhor dele, porém o eterno
escravo liberto nunca quis se desvencilhar da glória que se perdeu desde a
despedida com o amigo Oenomaus
após a morte de Melitta. É um dos artifícios que mais conferiram classe à
série, esse do roteiro premonizar destinos. Quando Gannicus disse que nunca
seria um mártir na cruz e mais na frente sua apoteótica despedida se mostra o oposto, ficamos felizes tamanha é a beleza do que foi proposto.
Agron apenas cresceu. O
gladiador coadjuvante e birrento que quase pôs fim aos planos de Spartacus em
acabar com o ludus de Batiatus, foi o único irmão de areia que continuou de pé
ao lado do seu agora líder. Porém, mais do que simpatia, Agron protagonizou o
romance mais querido que nem mesmo o preconceito do nosso tempo conseguiu
diminuir. Ele e Nasir são um sinal do que hoje vem se dissolvendo como tabu.
Longe de representarem mais um casal gay para chocar, eles tiveram tanto apelo
quanto, Crixus e Naevia, Spartacus e Laeta, Gannicus e Sibyl e Saxa (é né?).
Uma última temporada sem
antagonistas de peso (e já tínhamos tido Batiatus e Glaber) teria sido
diminuída em efeito quando comparada com as outras, só que hoje, Crassus e
Caesar foram além do mero estereótipo. A conversa entre Crassus e Spartacus que
antecedeu a batalha, já pode figurar entre os melhores momentos televisivos
desse ano (e tivemos outros dois ainda neste episódio). Nenhuma desconstrução ou
vilanização foi necessária para escolhermos lados. Ideais foram postos num
campo onde a opressão de um estado maior (aqui a República Romana) surgiu como
maior algoz de Spartacus e seus homens.
Antes de falar sobre a
estratégica e opulenta batalha que encerrou nossa série, quero só mencionar um
dos momentos que mais me emocionou no episódio. A benção do povo sobre
Spartacus foi uma cena tão pequena e ao mesmo tempo tão significativa, que o nó
na minha garganta aumentou exponencialmente. O olhar surpreso do homem que
salvou aquelas pessoas vai ficar comigo por um bom tempo.
“Um deleite!”, essa é a melhor
expressão que define o que vimos na guerra de despedida. Da armadilha
camuflada, as escadas, a chegada meio Gandalf
de Gannicus, tudo soou perfeito. O sangue e vísceras estavam lá. Vimos membros
voando e grandes guerreiros como Lugo, Saxa e agora Naevia cair brutalmente. A
luta de um covarde Caesar contra Gannicus, que não baixou a guarda um segundo
sequer, e para mim o gigantesco clímax que foi a disputa entre Spartacus e
Crassus. Mencionar a beleza da direção no embate entre os dois símbolos é
pouco. Tudo me arrepiou e me fez vibrar. Acho que sobrou pouco coração nos
momentos em que Spartacus recordou as suas principais perdas para Roma e mais
ainda quando as três lanças atravessaram o seu corpo. Agron e Nasir aliviaram o
que poderia ser outra despedida perto do humilhante.
E Roma teve sua vitória, a
histórica passagem das crucificações na via Ápia coroou o cuidado do criador Steven S. DeKnight com a história que
contou. A menção ao Triunvirato que mudou a história, a máxima de que o passado
não pode ser alterado (um recado para os fãs que esperavam uma surpresa) e o
fecho (ou a abertura para um possível spin-off)
da trágica história que Crassus levou com Kore e Tiberius.
“Aquele que trouxe a chuva”,
Spartacus foi seu nome de arena, o nome que tanto gritamos junto com os
outros em momentos surreais de fã. Ele sempre foi idealista, mesmo quando a
vingança pulsava em seu peito. A liberdade para aqueles com que se comprometeu
em proteger foi seu último adeus. Eu não tenho muitas palavras para descrever a
cena em que Spartacus parte para ouvir seu verdadeiro nome outra vez, eu era
mais ou menos o Agron naquele momento e já sei que vou levar para sempre a sua
serena expressão ao deixar esse mundo como o homem livre que tanto lutou para
ser.
P.S.: Confessem o choro compulsivo ao ver o Andy gritar: “I AM SPARTACUS!”, no final dos créditos.
“One day Rome shall fade and crumble, yet you shall always be
remembered.” – Agron.