[Especial] Star Wars: A evolução do cinema e o surgimento dos blockbusters
Que Star Wars é um dos filmes mais influentes de todos os tempos, ninguém duvida. O que é muitas vezes negligenciado é sua importância ...
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Que Star Wars é um dos filmes mais influentes de todos os tempos, ninguém duvida. O que é muitas vezes negligenciado é sua importância no contexto histórico para todos os gêneros de todo o cinema, revolucionando áreas que vão desde a produção até as bilheterias. Estreando pela primeira vez em 1977 com “Uma Nova Esperança”, desde então o cinema nunca mais foi o mesmo.
A História
A principal base de Star Wars é,
afinal, uma guerra nas estrelas. Por mais que este elemento tenha se perdido por
grande parte da trilogia prequel, os
filmes originais trataram, especificamente, de uma guerra que envolvia todos os
planetas de uma galáxia muito, muito distante.
A guerra, por sua vez, era um
conflito entre o Império, uma forma de governo totalitário baseado na força dos
Sith, e a Aliança Rebelde – um grupo que resiste ao punho de ferro do Império.
O pontapé inicial para o começo da série é a captura de Leia, uma princesa que
secretamente trabalha para a resistência. Ela envia um pedido de socorro para o
único homem que pode ajudá-la naquele momento: um dos últimos mestres jedi que
sobreviveram ao golpe do Império, Obi-Wan Kenobi. Os jedi eram algo como uma
polícia intergaláctica nos dias da República, completamente puros e desprovidos
de ambições ou pecados, algo como uma mistura de exército e monge. Eles
dominavam a Força – um instrumento sobrenatural e psicológico quase religioso.
Porém, nos tempos sombrios do Império, os jedi foram exterminados, e resta
apenas o Lado Escuro da Força, dominado por um dos maiores e mais cruéis
generais ao lado do Imperador: Darth Vader.
A mensagem de Leia, entretanto,
acaba ligeiramente desviada do caminho: sendo os androides R2-D2 e CPO3 os
portadores da mensagem, os dois acabam vendidos como montes de sucata à família
do jovem Luke Skywalker, um adolescente com sonhos de abandonar seu planeta
desértico e se tornar algo mais que um simples comerciante naquela terra
dominada por milícias. Assim, Luke ajuda-os a entrar em contato com Obi-Wan
Kenobi, e, ao lado de Han Solo e Chewbacca, sai numa jornada pela galáxia que
vai mudar para sempre o rumo da guerra.
Um dos pontos mais importantes da
premissa de Star Wars é a sua mitologia: numa época em que a liberdade para
explorar a violência e o sexo no cinema havia acabado de ser concedida, o filme
criou um mundo novo como poucas obras cinemáticas haviam feito até ali. Star
Wars provou que é sim possível criar toda uma conjuntura nova sem medo de se
tornar cerebral demais ou inacessível ao público. “Uma Nova Esperança”
simplificou ao máximo uma história inteligente, visionária e criativa,
transformando assim um filme que tinha tudo para ser erudito e agradar aos
poucos da massa intelectual (como críticos, estudiosos e afins) em algo de
fácil entendimento e acesso para aqueles que iam ao cinema se divertir na
sexta-feira à noite.
George Lucas fez isso de maneira
muito simples: apesar de ambientado no espaço, Star Wars não é uma ficção
científica. É inegável que carregue alguns elementos desse gênero, porém se
aproxima muito mais da fantasia. É possível ver a clara influência de Tolkien e
seu magnum opus “O Senhor dos Anéis”,
que, naquela época, ainda não era tão popular quanto é hoje, até por que grande
parte da popularidade de SdA se deve aos filmes de Peter Jackson, lançados
entre 2001 e 2003. Colocando Star Wars e “O Senhor dos Anéis” lado a lado,
vemos inúmeras semelhanças: a origem dos personagens principais (tanto Luke
quanto Frodo foram criados por seus tios, que tinham um passado com as
empreitadas da guerra, seja em relação a Darth Vader ou a Gollum e o Um Anel);
a presença de um mestre que logo se torna uma figura trágica (tanto Obi-Wan
quanto Gandalf sacrificam-se para salvar suas respectivas comitivas, apesar de
Gandalf não permanecer morto por muito tempo e Obi-Wan voltar em forma
espiritual, como parte da Força); um grande inimigo onipresente e um adversário
que remonta ao passado dos personagens principais (em Star Wars, estas duas
figuras correspondem a respectivamente o Imperador e Darth Vader, enquanto em
“Senhor dos Anéis” correspondem a Sauron e Saruman); entre muitas outras
semelhanças.
Assim, Star Wars se trataria de
uma fantasia espacial – ou, como os analistas preferem chamar, uma space opera. O filme não é nem um pouco
verossímil em relação à ciência, tomando liberdades absurdas, dentre as quais
um exemplo gritante é o fato de haver explosões e barulho no espaço sideral,
onde sequer há oxigênio! Mas é exatamente por isso que este é um filme de
grande público: não se prendendo aos grandes porquês ou a detalhes que as
massas, os jovens, enfim, o público alvo em geral certamente desconhece, a
história se torna bem mais simples. Não é que seja absolutamente desnecessário
pensar, como acontece em “Transformers” e outros filmes que buscaram usar o
mesmo formato de Star Wars, como será tratado abaixo. É que é bem mais fácil
seguir uma história quando você a entende em sua plenitude.
Mas estes não são os únicos
motivos pelos quais Star Wars foi um filme visionário para sua época. A obra
carregou consigo, juntamente à nova mitologia, um exemplo de crítica
sociopolítica. É claro que a tal mitologia de Star Wars não é uma super
novidade, como já foi exposto acima na comparação com “Senhor dos Anéis”, assim
como a crítica do filme não é nada muito desenvolvido, nenhum Ingmar Bergman ou
Steven Spielberg da vida. Mas a grande questão é que ambas essas coisas foram
novidades para o formato apresentado. Como já disse acima, a mitologia foi
bastante simplificada, para atender a demanda de um grande público. Por quê?
Por que simplesmente havia pouquíssimas mitologias do tipo, vastas e criativas,
na história do cinema. Não podemos negligenciar completamente as mitologias
cinemáticas, claro, mas é muito difícil encontrar, desde o início da sétima
arte, um filme que tenha dado tanta atenção à criação de um mundo,
principalmente um filme que tenha feito sucesso, como “Metropolis”, de 1927;
“Fahrenheit 451”, de 1966; “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, de 1968; entre
outros (poucos) exemplos. O mesmo acontece com a política: até ali, filmes que
carregavam críticas sociopolíticas ou filosóficas eram, essencialmente, filmes sociopolíticos
ou filosóficos. Não havia espaço para muita coisa além disso, e certamente não
para uma história completa e popular. Havia exceções, claro, mas eram poucas,
principalmente no grande circuito. Mas veio Star Wars e fez diferente: dando
muita ênfase à aventura, conseguiu colocar suas críticas nas situações e nas
reviravoltas, como, por exemplo, a destruição do planeta natal de Leia,
mostrando a crueldade de uma ditadura totalitária. Assim, os extremos do filme
se equilibraram, dividindo lugar em tela.
O Primeiro Blockbuster
Se, no quesito mitológico, Star
Wars se sobressai por trazer consigo várias novidades, não é diferente na
questão do formato. Star Wars é até hoje considerado como a primeira
superprodução. Com um orçamento de 11 milhões de dólares – que, naquela época,
era algo médio, não muito exagerado, até mesmo barato –, o filme inovou ao
equilibrar diálogos e situações comuns com grandes cenas de ação. Ou seja:
trouxe o drama e o desenvolvimento de personagens à fantasia épica.
Além disso, não devemos esquecer
dos efeitos especiais. Novamente, cito o limitado orçamento ao entrar nesse
assunto. Influenciado pelos efeitos de Stanley Kubrick em seu “2001 – Uma
Odisséia no Espaço”, George Lucas venceu o Oscar de Melhores Efeitos Especiais
daquele ano. Esta é uma marca de sua criação: a ação é recheada de efeitos
especiais, tornando-se um espetáculo visual para encantar multidões.
O nome blockbuster foi cunhado para Star Wars com justiça. O filme,
literalmente, arrasou o circuito de cinema, arrecadando mais de 700 milhões de
dólares; este continua sendo um número altíssimo até mesmo para os dias de
hoje, em que o público cresceu exponencialmente. Está aí mais uma influência de
Star Wars sobre o cinema moderno: investindo em ação, efeitos e uma história
simples e criativa, as superproduções arrebatam os circuitos até hoje, levando
milhões de espectadores às salas de cinema. Este é, desde 1977 até hoje, o
formato mais lucrativo de cinema, sendo que alguns filmes chegam a ultrapassar
a marca de 2 bilhões de dólares arrecadados!
Estas se tornaram características
primordiais dos blockbusters desde
então, e influenciaram praticamente todas as superproduções que temos hoje em
dia. Claro, nem todas conseguem ser tão boas quanto Star Wars – exemplos disso
são “Transformers”, “Branca de Neve e o Caçador”, “João e Maria”, entre outros
filmes que trabalham com muita ação e um roteiro fraco, sem desenvolvimento de
personagens e às vezes até mesmo sem uma história, servindo apenas de desculpa
para mais e mais cenas de ação repetitivas. Filmes como estes se tornaram
meramente receptáculos de efeitos especiais, apenas para atrair o grande
público sem se esforçar demais – sem querer ser um filme bom e marcante como
Star Wars foi.
As Sequências
O sucesso de “Uma Nova
Esperança”, claro, não passaria despercebido. George Lucas havia planejado que
a guerra nas estrelas seria originalmente uma história para uma trilogia, e a
alta repercussão do primeiro filme, tanto em relação à bilheteria quanto às
críticas extremamente positivas, permitiram que continuasse o projeto.
Quatro anos depois, “O Império
Contra Ataca” chegava aos cinemas. Com orçamento substancialmente maior (pouco
mais de 30 milhões, o que, agora sim, caracterizava um orçamento alto para a
época) e grande espera de público e crítica, o filme arrecadou 538 milhões de
dólares – que, apesar de ser um número um tanto menor que o do primeiro filme,
ainda era uma bilheteria altíssima – e encarou a reprovação crítica. Hoje,
entretanto, é considerado o melhor filme de toda a série. Eu, particularmente,
considero como o filme mais fraco da trilogia original; mas esta é uma opinião
minha, e puramente minha.
O filme terminou sombriamente,
com uma derrota moral para Luke, agora aprendiz de jedi, e vários ganchos para
o terceiro filme, que fecharia em trilogia. Assim, dois anos depois, veio “O
Retorno de Jedi”. As principais características do filme foram as conclusões
emocionais e o grande foco em um clímax longo, que durou mais de uma hora. Este
foi um modelo também puxado de “Senhor dos Anéis”, que naquela época era ainda
só um livro, e que foi usado por muitas outras obras, incluindo “Matrix”,
“Harry Potter”, a própria adaptação cinematográfica de “Senhor dos Anéis”,
entre outras sagas que fizeram longas batalhas em seu último filme. Feito em
1983, este é um modelo um tanto criticado até hoje – inclusive, “O Retorno de
Jedi” é considerada uma conclusão fraca para a trilogia, apesar de ser meu Star
Wars favorito. Sou do contra? Talvez. Mas são vários os elementos de “O Retorno
de Jedi” que me agradam, principalmente o fato de ter conseguido equilibrar
mais de uma hora de ação épica com várias reviravoltas e um ótimo
desenvolvimento de personagens, apesar de eu admitir que haja várias falhas no
roteiro do último filme.
Uma das principais conclusões que
podemos tirar da trilogia original é que esta abriu as portas para várias sagas
no cinema, coisa que acontece até hoje. O modelo é o seguinte: o primeiro filme
trata de uma pequena história autocentrada, com início, meio e fim, como se
fosse um teste para saber se o público e o estúdio irão aprovar a história, se
esta vai dar lucro. Se sim, então, que haja continuidade para a trama, que
geralmente se transforma numa trilogia, na qual os dois últimos filmes tratam
de uma batalha bem maior em uma escala bem maior, sendo que o segundo filme
geralmente termina com um gancho para o terceiro, que terá bastante foco em
ação. Foi assim com “Matrix”, com “Piratas do Caribe” e até mesmo com o próprio
Star Wars, já que esta foi a fórmula utilizada para a trilogia prequel do final da década de 90. Assim,
Star Wars possibilitou a criação de várias sagas ao longo do tempo.
O Legado
Hoje, mais de 35 anos depois da
estreia de “Uma Nova Esperança”, Star Wars se tornou sinônimo de cultura nerd e
cult. É muitas vezes uma saga negligenciada, já que grande parte da nossa
geração tem um preconceito infundado contra os filmes, sem nem mesmo chegar a
vê-los para ter uma opinião formada. Daí, esquecem também que, se não houvesse
Star Wars, esse filme de nerd chato, bobo e ridículo, provavelmente também não
haveria metade dos filmes que existem hoje, e com certeza não haveria o chamado
grande circuito. O próprio cinema baseado em livros e HQs não seria o mesmo. As
cenas de ação e combate ainda seriam arcaicas e mal feitas como eram nos anos
50. Não haveria os avançadíssimos efeitos especiais que existem hoje, já que
Star Wars foi o pioneiro nessa área.
Se não fosse por Star Wars, o
cinema não seria o mesmo. Numa época em que o processo criativo se encontrava
estagnado – apesar de a década de 1970 ter originado grandes e influentes
clássicos, era difícil ver um filme nesse tempo que não fosse recheado de
clichês –, “Uma Nova Esperança” foi um sopro de vida nova para o cinema como um
todo; foi, de fato, uma nova esperança, se me perdoam por uma expressão tão
piegas. Este foi um filme que abriu novas portas, a partir de uma mente e uma
ideia visionária. Desde então, nada foi o mesmo. As técnicas de direção
mudaram; o modo de se escrever um roteiro, também; a criação e modelagem de uma
história e de seus personagens encontrou um novo modelo, e, enfim, o público se
deixou encantar com a possibilidade de novos mundos, que não eram muito
complicados nem exigiam conhecimentos muito profundos, como os de “Star Trek –
A Série Original”. Foi Star Wars, esse grande clássico moderno, que
possibilitou que o cinema criasse outros clássicos modernos, como o próprio “Senhor
dos Anéis” que o inspirou.
Star Wars foi, afinal, uma marca
para o cinema, demarcando um processo evolutivo inteiro. É claro que nem todos
os filmes que surgiram a partir do novo formato que Star Wars apresentou foram
bons; algumas pessoas podem pensar até mesmo que este formato marcou o declínio
da qualidade no cinema, já que passou a haver maior interesse na ação e nos
efeitos do que no roteiro e numa boa história. Mas os filmes bons ainda
existem, quer sejam superproduções ou não. Filmes ruins sempre serão feitos, e
alguns, infelizmente, alcançarão grande sucesso. Mas, seja como for, foi Star
Wars que permitiu que o cinema evoluísse para o que é hoje. Independente de
qual seja seu gosto, ou sua visão cinemática, é impossível não admirar todas as
mudanças que essa pequena história de uma guerra nas estrelas causou.