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[Crítica] Oscar 2013: Os Miseráveis (Les Misérables)

Os Miseráveis é um clássico literário de Victor Hugo, mas o longa é baseado numa elogiada peça que adapta o livro, e que acredito ...


Os Miseráveis é um clássico literário de Victor Hugo, mas o longa é baseado numa elogiada peça que adapta o livro, e que acredito que funcione muito bem nos palcos, por não contar com o nome de Tom Hooper no alto de sua equipe.
  
Num plano aberto - um dos únicos em seus longos 157 minutos - Os Miseráveis se inicia anos antes da Revolução Francesa, numa França com sua população e governo em crise, e uma lei que cometia diversas injustiças. A que aqui será abordada é com Jean Valjean (Jackman), condenado por ter roubado um pão para alimentar seu sobrinho, que após 20 anos terá finalmente a liberdade condicional, mas com atenta vigia do inspetor Javert - vivido muito bem por Russell Crowe, inserindo certa simpatia ao seu injusto personagem - que por anos vinha obrigando o "criminoso" a executar trabalhos pesados. Assim que ganha a liberdade, Valjean busca reiniciar sua vida, mas não consegue encontrar um emprego que o aceite, até que um caridoso senhor o permite levar coisas valiosas de sua casa para construir renda, e assim Valjean decide esquecer sua antiga vida, incluindo seu nome, e abrir uma fábrica onde é respeitado por todos, mas isto nos leva a conhecer a história que conduzirá o filme. E, ao mesmo tempo, é a história que conduzirá somente o primeiro ato do filme, já que diversas inserções de sub-tramas na verdade o conduzirão até o seu final, e vocês terão uma breve noção delas no desenvolvimento deste texto.

E se inicia sua narrativa com interessante profundidade, Os Miseráveis aposta na pressa que mal nos permite um maior conhecimento inicial dos personagens até aqui, como tudo por que passa o personagem de Jackman antes de mudar de vida, que nos é passado de forma confusa entre as canções, por enquanto ainda não tão frequentes, mas que logo virão a nos apresentar praticamente todas as falas do filme.

O principal conflito que segue o filme parte de Fantine (Hathaway), que trabalha de todas as formas que pode (se prostituindo e vendendo os cabelos, inclusive) para mandar dinheiro para sua filha, e quando fica doente é ajudada por Valjean, numa cena eficiente em mostrar como ele ainda segue suas virtudes, que procura e adota a garota, antes morando com os desnecessários personagens de Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, que surgem como os alívios cômicos, fugindo do clima do filme.

Mas este modo como retratei os dois primeiros atos, muito problemáticos, se deve especialmente ao trabalho de Hooper, que nos apresenta uma direção beirando o amadorismo, inserindo planos fechados e grandes angulares nos momentos em que a competente direção de arte poderia atribuir muito ao longa, mas o diretor opta por fazer uma grande propaganda de seu elenco, fechando as cenas em suas faces ou pontos isolados das cenas, prejudicando inclusive a localização do espectador em ambientes maiores ou mais projetados do longa.

O benefício e melhor ponto do filme é justamente seu terceiro ato, que avançando um maior período, nos leva justamente para a Revolução Francesa, em que a garota já está mais velha e é vivida por Amanda Seyfried, e ao apaixonar-se por um jovem revolucionário, leva Valjean e a condução do filme ao conflito que em minha opinião surge como o mais interessante do filme: O cenário da Revolução Francesa, que nos proporciona algumas das canções mais simbólicas do filme e insere grande peso dramático ao seu desenrolar. Curiosamente, este é o período em que Hooper parece menos trabalhar, sem grandes interferências de sua direção.

Após o cinematograficamente ótimo conflito da Revolução Francesa, Valjean - bem mais envelhecido - continua sendo um homem de bem, ao atravessar uma jornada para salvar o jovem apaixonado por sua filha, e finalmente tendo um verdadeiro conflito com Javert, provando a grande capacidade de atuação dos dois atores, incluindo a bela cena da canção protagonizada por Javert em sua decisão entre a vida ou a morte, que considero uma importante parte para desvendar a personalidade do personagem, que para mim ali representava justamente a lei e o governo francês da época, que preferia se render a ser afrontado por seu povo, mesmo quando este tinha a razão.

Se ainda conta com uma sensível conclusão, é uma pena que eu não posso me esquecer do lado problemático de Os Miseráveis, que se tivesse sido conduzido por um diretor e um montador com maior capacidade de conduzir uma narrativa grandiosa como esta, sem optar por esquecer de grande parte desta grandiosa narrativa para escolher pontos específicos de seu ponto de vista, tornando-a arrastada de forma desnecessária. Os Miseráveis consegue não se tornar um filme ruim justamente por seu lado bom, de contar com uma história tão bela e clássica e por performances de seu elenco que conseguem sobressair-se aos problemas.

E a justiça, na verdade, era injusta.
Oscar 2013 3775486590883796041

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