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[Crítica] Oscar 2013: Amor (Amour)

Tocante, Amor emociona de forma simples...


Tocante, Amor emociona de forma simples...

Produzir um longa estrelado e guiado por idosos e os temas que os rodeiam tem se tornado uma missão cada vez mais ousado e difícil, especialmente no Cinema comercial norte-americano, mas o cineasta Michael Haneke (e confesso não ser um grande conhecedor de seu trabalho) constrói seu ousado projeto no Cinema independente, inclusive conseguindo sucesso com cinco indicações ao Oscar, uma premiação norte-americana.

Protagonizado por um casal de idosos, Georges e Anne, claramente há muito tempo casados e com um possível casamento desgastado, Amor não preocupa-se em focar no passado deles, mas sim nos fatos ocorridos após um derrame sofrido pela senhora, que perde todos os seus movimentos do lado direito do corpo. Pelo amor que sente pela esposa, Georges decide concordar com a decisão dela de não ir para um hospital, e se dedica integralmente a cuidar de Anne, ao passo que suas rotinas passam a ficar mais tristes e cansativas, e o filme ilustrará isso, dentre outras formas, passando-se quase que inteiramente dentro do apartamento do casal.

Podemos perceber que, inicialmente, Anne recusa-se ceder à doença, como nas decisões em que se recusa a ser tratada num hospital ou ter a total atenção do marido, enquanto Georges, apesar de fazer de tudo para cuidar da esposa, compreende a dificuldade daquela situação. Porém, conforme a narrativa se desenvolve, Anne passa a ficar mais debilitada, física e mentalmente, desgastando a ela mesma e ao seu marido, e somente a relação ainda amorosa do casal impede-os de cederem seus esforços àquela situação. E podemos perceber este avanço nos problemas da idosa pelo trabalho fotográfico do longa, que passa de seus tons leves do início aos ambientes com cores e a própria organização extremamente mais desgastados. Além disso, Haneke não tem medo de inserir algumas angustiantes cenas que demonstram o estado em que Anne já se encontra, extremamente eficientes dentro de seu objetivo de retratar a pura realidade, tocando o espectador através desta simplicidade, sem utilizar fórmulas.

Com excelentes interpretações de Jean Louis Trintignant e Emanuelle Riva, ainda mais destacados por serem quase que os únicos personagens do longa, o roteiro constrói inteligentemente estes personagens, optando por focar na dramaticidade que Riva confere à doença e negação de sua personagem, e ao fascínio com que o personagem de Trintignant mantém por sua esposa.

Mesmo com uma narrativa predominantemente lenta, é muito interessante como Amor consegue manter a intensidade de sua história e o interesse do espectador em seu desenvolvimento, em que seus protagonistas percebem que acabam sendo alcançados pela realidade de sua idade, mas ao mesmo tempo que isso torna suas rotinas mais cansativas e frustradas, também as torna dramaticamente mais intensas.

E Michael Haneke, mesmo ao trabalhar em espaços fechados e habituais, torna sua discreta direção um dos importantes aspectos do longa, mas onde o alemão realmente triunfa é em seu roteiro, que de forma genial investe ousada e originalmente numa jornada que, mais do que abordar o modo como a vida se finaliza, na verdade funciona como a síntese filosófica de um amor, que passara por todos os problemas e não precisara morrer, mesmo com o final das vidas que o protagonizam, e com a dramaticidade necessária para este retrato, sutilmente comprova a verdade que há nisto com seu terceiro ato, inicialmente forte e finalmente sensível, tornando memorável e reflexiva a experiência cinematográfica de Amor, que entre suas interpretações, poderá ser visto, simplesmente, como o amor.

Fico muito feliz de perceber que, ao chegar no final de meu texto, sinto que poderia ter abordado muito além do que me lembrei... Sim, feliz.
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