[Crítica] Oscar 2013: As Aventuras de Pi (Life of Pi)
Embarque nesta jornada...
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Apesar do infantilizado título
nacional, As Aventuras de Pi está longe de ser recomendado ao público da idade,
com alguns momentos de cenas fortes e vários de extrema tensão, e tratarei de
ambos no desenrolar deste texto.
O longa tem seu início quando
um adulto Pi Patel (Irrfan Khan), que ainda não teve sua origem apresentada,
recebe um escritor que foi recomendado à ouvir sua história, e então Pi começa
a contá-la, do início da vida, prometendo ao escritor que a história o
impressionaria e o faria ter fé.
Com a narração de Khan ao
fundo, vamos descobrindo que Pi foi batizado Piscine, e arranjou o nome
encurtado para deixar de sofrer com os outros jovens na escola, numa sequência
que, apesar de divertida, poderia ser encurtada sem danos ao filme. O importante
para contarmos é que Pi foi nascido e criado num zoológico, onde ao invés de
conviver melhor com os animais, acabou sendo ensinado por seu pai à tratá-los
apenas como um negócio para a família. Pi sempre foi um garoto diferente,
adotando o hinduísmo, catolicismo e muçulmanismo como religião, e sempre dando
grande importância à sua fé, o que ainda cresceria com a principal história do
filme.
Quando a Índia entra em crise,
o pai de Pi decide que a família iria para o Canadá, para vender os animais
onde eles lucrariam mais, e mesmo à contragosto, o jovem vai com a família e os
animais num grande navio, onde os animais viajam em situação precária. Quando
uma situação estranha e inexplicada acontece neste navio e ele começa a
afundar, somente Pi é capaz de chegar ao bote salva-vidas, e deixando com muita
tristeza sua família, acaba embarcando no bote.
A partir daqui teremos os
verdadeiros momentos em que As Aventuras de Pi se passam, com o personagem
título tentando sobreviver em alto mar, e na companhia inicial de uma zebra,
uma hiena, um orangotango fêmea, e o tigre Richard Parker. O que me pareceu
estranho perceber neste momento é que, devido às influências recebidas por seu
pai, Pi não parece se preocupar muito com os animais que se tornaram sua única
companhia, deixando a hiena matar brutalmente a zebra e o orangotango em sua
frente, mas ainda assim tratar o tigre com muito respeito, tigre este que em
seguida mataria a hiena.
Pi constrói de forma
inteligente uma pequena balsa ao lado do pequeno barco, e a desenvolve conforme
suas necessidades, esta balsa serve principalmente para que ele fique fora dos
riscos de ser atacado por Richard Parker, mas Pi torna o tigre seu objetivo para
manter-se vivo, alimentando-o e sempre respeitando o animal, inclusive na bela
cena em que, após a tentativa de pegar peixes, Richard Parker fica perto de se
afogar, mas é salvo com os esforços de Pi, provocando a primeira comoção ao
público.
Contando com impressionante
beleza visual - e 3D muito bem utilizado - a jornada de Pi Patel não se
estabelece entre o real e o fictício, o que ainda a torna mais interessante,
com cenas muito bem filmadas por Ang Lee que procuram focar em todo o mar na
escuridão com passagens extraordinárias vividas por Pi e Richard Parker, que
constroem uma respeitosa amizade apesar dos riscos por quais passam. As
Aventuras de Pi consegue explorar como pode o drama da sobrevivência,
especialmente em Richard Parker, já que sabemos que Pi obrigatoriamente
sobreviverá para contar essa história. E a utilização da amizade gera outra
bela cena em que Pi coloca deita a cabeça de Richard Parker em seu colo,
prevendo que aquele momento poderia ser a morte de ambos, mas não foi o que aconteceu.
Próximo de chegar ao seu
final, o longa acaba fechando as coisas muito depressa, e se sua qualidade de
saber explorar o drama foi bem utilizada durante todo o longa, acaba sendo
esquecida justamente no fechamento da história, que rapidamente leva Pi e seu
companheiro ao litoral mexicano, onde encontram a terra e seus destinos. Mesmo
com este fechamento da jornada que não foi o mais adequado, o filme consegue em
parte se recuperar com o interessante desfecho em que Pi conta uma outra versão
de sua jornada aos investigadores, e caberia ao expectador decidir qual ele
levaria para sua vida.
Apesar de falhar nesta
intenção de deixar uma marca para a vida de quem conheceu esta jornada, As
Aventuras de Pi se efetiva como um filme que consegue muito bem explorar os
recursos dramáticos da sobrevivência e da grande amizade, provavelmente gerando
emoção no público e certamente impressionando qualquer um com sua beleza
visual.